terça-feira, 12 de agosto de 2014

Um dia que apenas não me lembro

Vou falar de um dos dias mais estranhos que já tive na vida. Tudo que eu vou escrever terá duas versões, a minha e a de quem estava comigo.
Um belo dia eu tirei folga do serviço para poder fazer uma esdoscopia. Fui pela manhã com meu namorado para a clínica onde eu faria o exame e me lembro de ter esperado alguns minutos enquanto conversava com ele. Quando me chamaram, em um consultório no segundo andar do prédio, me deitaram em uma maca, colocaram algumas coisas em minha boca e disseram que eu deveria ficar mordendo aquilo durante todo o exame. Tarefa fácil até então. Me deram uma injeção e eu acordei em casa, deitada num colchão no chão da sala, olhando para meu namorado e minha mãe sentados no sofá em plenas quatro horas da tarde. Esta é minha versão da história: Fui fazer um exame e dormi o dia todo.
Entretando, não foi isto o que aconteceu. Quando já consciente minha mãe e meu namorado relataram como tudo aconteceu de fato:
Fui chamada para fazer o exame e meu namorado esperou durante alguns minutos até que eu saísse andando, apoiada na enfermeira. Ele teve um certo trabalho para descer comigo no elevador e fazer todo o percurso até o carro.
Na viagem até a minha casa, ele disse que eu vim aparentemente acordada, cantando as músicas que tocava no rádio. Ele disse que ao chegar em casa eu mesma peguei a chave e abri o portão e a porta e me deitei no colchão (quase que fora dele). Ele abriu a casa e esperou que minha mãe chegasse.
Antes que ela chegasse, "acordei", perguntei como tinha chegado até lá e ele me disse. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para minha amiga e devo ter apagado novamente, porque depois abri os olhos e lá estavam ele e minha mãe. Cumprimentei minha mãe e disse que tinha dormido até aquela hora. Eles riram e eu não entendi o porquê. Perguntei pro meu namorado como eu tinha chegado até lá e ele, com paciência, me explicou de novo. Eu peguei o celular e disse que tinha que mandar uma mensagem pra minha amiga. Quando vi, eu já tinha mandado a mensagem. Voltei a apagar. Acordei fazendo as mesmas perguntas e eles reagiam de uma forma muito engraçada. Peguei meu celular pra mandar a mensagem pra minha amiga e meu namorado disse: "Você vai mandar mensagem pra Amanda?", eu respondi que sim e ele disse que eu já tinha mandado. Foi aí que eu levantei e comecei a falar coisas com mais sentido.
No dia seguinte, comentei o dia anterior com um colega de serviço que já tinha passado pelo exame algumas vezes e ele me disse que certa vez perguntou ao médico: "Doutor, se vocês vão dar remédio pra gente dormir, como vamos saber se estamos abrindo a boca na hora certa, virando na hora certa?". O médico riu e disse: "Você não dorme! Você apenas não se lembra!". Que loucura!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Artista ou arteira?

Eu sou alguém que sempre gostou de usar a imaginação. Sempre usei meus brinquedos para inventar outras brincadeiras diferentes das brincadeiras pelas quais eles foram criados.
Acho engraçado como as crianças de hoje perderam um pouco desta vontade de inventar coisas. Certa vez, há alguns anos, uma prima minha ainda com 5 anos de idade chegou pra mim com uma calculadora que não funcionava. Ela apertava os botões e colocava a calculadora na orelha como se esperasse ouvir alguma coisa, vendo que não dava certo, ela me entregou a calculadora e disse pra eu tentar. Na hora eu não me toquei que ela queria fazer o aparelho funcionar, mas imaginei que ela estava brincando de telefone celular. Peguei a calculadora, coloquei próxima ao ouvido e disse "Alô!". Imediatamente, minha prima pegou a calculadora da minha mão e me disse: Você não viu que isto é uma calculadora? Isto não faz ligações!
Outras vezes lembro de quantas vezes ficava horas sozinha fazendo um boneco conversar com outro, mesmo sabendo que eu mesma teria que criar as possíveis respostas do diálogo. Uma boa parte das crianças de hoje não sabem mais o que é isto. Preferem bonecas com frases prontas, aplicativos de celular que fazem coisas diferentes e que respondem às suas ações...
Até a adolescência, eu criava histórias em quadrinhos com personagens que eu inventei. Era a Turma da Dinny. Eu fazia pequenos gibis onde eu desenhava as histórias que eu escrevia, pintava e passava para meus colegas de classe para que eles pudessem ler e dessem suas opiniões. Criava calendários, posteres, todos feitos à mão e meus colegas compravam ou os presenteava.
Até os meus 10 anos de idade, mais ou menos, minhas professoras de Educação Artística diziam que eu desenhava bem, mas que tinha um sério problema na pintura. O que acontecia muitas vezes é que eu enchia as folhas de desenhos a cada atividade e depois ficava desanimada de pintar tudo aquilo. Outras vezes eu me desentendia com os lápis-de-cor. Se existia alguém que sonhava com um jogo de lápis-de-cor aquarela era eu. Eu ficava fascinada quando assistia na propaganda uma criança espalhando com um pincel o pouco de lápis que tinha passado na folha. Quando tive me decepcionei. Os desenhos não ficavam com cores vivas e fortes como os do comercial. Foi aí que eu me descobri no giz-de-cera. Sou fã de quem inventou o giz-de-cera. Você pinta os desenhos apenas respeitando os limites de cada parte dele e tira os exceços com a régua. Pronto! Ali estavam todos os meus desenhos pintadinhos a partir daquela descoberta.
Certa vez uma professora me deu umas folhas e me pediu para desenhar todos os alunos da minha classe do primeiro ano do ensino médio. Fiz os desenhos, mas até hoje não tive a oportunidade de entregá-los. Ela se aposentou e não voltei a vê-la.
Durante minha adolescência, escrevia poesias. Cheguei até mesmo presentear amigas com poesias personalizadas. Outra coisa que sempre gostei foi de escrever músicas, criar arranjos e brincar com elas.
Às vezes usava minha imaginação para outros fins não tão artísticos. Já cheguei a levar bronca da minha mãe por ter gastado todo o detergente de uma só vez enquanto brincava que eu tinha uma loja de sucos, bebidas e refrigerantes, enquanto lavava a louça... Já cheguei a fazer minha irmã comer pó-de-café com os olhos vendados até adivinhar o que era, mas ela não conseguiu adivinhar... Já cheguei a passar trote na minha própria casa, inventando um amigo de infância da minha mãe...
Hoje, no auge dos meus 24 anos, não tenho tanto tempo quanto tinha quando criança, nem tantos momentos de pura utopia, mas tento na medida do possível, impedir que a imaginação se atrofie e morra.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Então é natal...

Bem fora de época escrever um post natalino em junho, com tantos outros eventos acontecendo. Copa do mundo no Brasil, manifestações contra o governo em um ano de eleição.
Na minha família, porém, o Natal costuma ser uma das datas mais aguardadas por todos. É uma data em que todos nós nos reunimos para uma grande festa, com direito a amigo secreto (ou amigo aculto em algumas regiões do país), muita comida e muita diversão.
Para uma família do tamanho da minha, não é necessário muita coisa para que tudo vire festa. Meus avós tiveram doze filhos, que tiveram ao todo 18 filhos e 5 netos, fora os que estão por vir. Juntando todos estes com seus noivos, esposos, namorados, já nos proporcionam um evento enorme. Como somos unidos, dificilmente um de nós não participa do encontro anual.
Não sei se houveram outras tentativas de comemoração natalina antes na família, mas me lembro da tradição a partir do ano de 1994. Eu tinha apenas 4 anos de idade e muitos de nós, pequenos, nem entendíamos direito como funcionava, mas logo gostamos da brincadeira.
Atualmente, a brincadeira de troca de presentes chega a durar duas horas seguidas ou mais, fora os momentos de lazer em família.
No ano de 1994, o que marcou foi minha "desenvoltura" pra falar em público. Eu tinha tirado o meu primo e meus pais compraram um jogo de futebol de botão. Sem saber o que fazer e toda melecada de pirulito, não conseguia dizer quem era o meu amigo secreto e muito menos falar alguma coisa sobre ele. Nervosa, comecei a sacudir a caixinha, dando pulos e rindo sem saber porque. Até que me disseram que eu poderia entregar o prresente sem falar nada e apidamente entreguei o presente na mão dele. Até hoje, quase 20 anos depois, é comum a família toda comentar o fato quando é minha vez de entregar o presente.
Ao fim do natal de 1994, quando tínhamos desfrutado de toda a festa, minha prima chegou até minha tia, que tinha organizado tudo e disse: Obrigada, tia, por ter inventado o natal!
Em alguns anos fizemos algumas apresentações de dança e em um ano montamos um grupo para tocar durante o natal. Não sei se já comentei aqui, mas na minha família todos temos algum talento. Uns dançam, outros tocam instrumentos, outros cantam, outros são bons pregadores da palavra e por aí vai...
Em 1997 ou 1998 acabou a energia elétrica no meio da festa. Não teve como filmar, porque na época as câmeras dependiam de energia elétrica (sim. sou desta época) e iluminamos o ambiente com os faróis de um carro. No decorrer destes anos, surgiram diversos bordões e situações inesquecíveis como esta.
São tantas as lembranças em todos estes anos que é difícil descrever todas em um post, mas tenho certeza que todos os que participaram destes momentos as guardam com o mesmo carinho que eu e esperam ansiosamente que seus filhos e netos tenham as mesmas boas experiências que tivemos.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Viajando através de fotos

Ontem parei pra ver algumas fotos antigas, que me fizeram viver um momento mágico de nostalgia. Tinham desde fotos dos meus pais solteiros, até fotos da minha infância, meus amigos, meus primos, tempos que não voltam mais, mas que fizeram história e deixaram saudades. Pessoas queridas que nunca mais encontrarei, pessoas que mudaram muito e pessoas que não mudaram nada.
Não sei se sou a única pessoa que ama ver fotos e vídeos antigos, não que eu seja muito antiga, mas eles trazem de volta muitas histórias que o tempo apagou da memória.
Um exemplo prático é uma foto onde eu e meus primos estávamos na casa dos meus tios brincando na areia. Para quem não estava lá, esta é apenas uma foto de crianças, mas quando eu a vejo, lembro que pagávamos areias de diversas cores e molhávamos, construindo bolos decorativos de areia.
Fotos de reuniões de família, eventos antigos na igreja, cada um traz uma história diferente à tona, como se as fotos fossem uma forma de armazenarmos os momentos para desocuparmos a memória.
Nem sempre são momentos lindos e mágicos. Tenho uma foto onde estou com poucos anos de idade e pouquíssima roupa dentro da igreja. Isso aconteceu porque eu morria de medo de escuro e naquela noite passaram um vídeo sobre a vida de Jesus na igreja, apagaram as luzes e eu me sujei toda. Em outra foto estou chorando na frente do obreiro de minha igreja, com aproximados quatro anos de idade. O motivo do choro foi que eles estavam distribuindo jogos da memória de presente para as crianças e disseram que os brinquedos tinham acabado quando chegou a minha vez.
É estranho ver as fotos da minha família da época em que eu ainda não tinha nascido. Sinto uma mistura de sensações como se quisesse fazer parte daquilo, imaginando o quanto eles estavam se divertindo quando tiraram a foto e o pensamento egoísta de que eles com certeza são mais felizes depois que eu vim ao mundo.
Mais legal do que ver fotos sozinha é ver fotos com uma outra pessoa. Tanto faz se a pessoa está naquelas fotos e viveu aqueles momentos ou se estão tendo o primeiro contato com tudo aquilo pela primeira vez. Cada uma delas demonstra as mais diferentes reações. Uns sentem saudade, outros relembram momentos difíceis que foram superados e outros riem da aparência esquisita que todos nós um dia tivemos.
Há algumas semanas invadiram minha casa e roubaram meu netbook. Ficamos chateados, não pelo valor do aparelho ou pelo que ele representava, mas porque nele estavam fotos e vídeos que não tínhamos em mais nenhum lugar. Como se tivéssemos perdido vários momentos de nossas vidas para sempre.
Hoje as coisas mudaram um pouco. As pessoas perderam o costume de registrar seus momentos, começando por mim. As pessoas têm buscado as melhores fotos, os melhores ângulos, os melhores filtros, os melhores selfies e se esqueceram de viver seus melhores momentos.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Refletindo através de um post

Após muito tempo parada, estou de volta. Estive pensando nestes últimos dias se eu tinha alguma história interessante pra contar ou se eu tinha passado por alguma coisa diferente em minha vida. É muito mais fácil escrever sobre situações empolgantes e divertidas e não tenho passado por nada fora do comum. Creio que encontrei uma resposta. Muitas vezes ignoramos as coisas comuns do dia-a-dia, achando que não possuem nenhum valor e na verdade são os pequenos acontecimentos diários que nos mantém vivos e nos ensinam diversas lições. Pensando nisto, resolvi escrever situações pelas quais passei que podem não parecer interessantes e nem serem dignas de um livro, mas que me fizeram crescer em algum aspecto.
No ano passado, conforme disse em uma das postagens deste blog, eu bati minha moto em um carro que me fechou. Meses depois, recebi uma intimação para comparecer perante o delegado para depor. Poucas pessoas sabem disto, mas na época eu estava com alguns problemas com ansiedade. Mesmo tomando calmante, parecia que minha mente estava mais agitada que o normal e eu me preocupava muito com as coisas, às vezes até com o problema de outras pessoas.
Na manhã do dia da audiência, acordei cedo e não consegui voltar a dormir, tamanho era o nervosismo. Eu tremia e sentia meus braços e pernas adormecidos. Eu sabia que não tinha nada a temer, até porque quem estava certa era eu, mas aquelas sensações eram incontroláveis.
Me aprontei para ir e fiquei esperando com minha irmã na calçada. Meu namorado começou a demorar e liguei para descobrir o que tinha acontecido. Ele disse que o carro dele ficou com problema e ele estava esperando seu avô, que emprestaria o carro a ele. Ligamos na delegacia avisando que eu iria atrasar e fiquei ainda mais nervosa.
Meu namorado chegou e fomos até a delegacia. Eu não me atentei ao endereço marcado na intimação e acabamos indo a uma delegacia errada. Ficamos esperando na fila para sermos atendidos e, na sala de espera onde estávamos, estava uma senhora extremamente magra e cheia de ematomas e cortes. Eu estava passando mal, me apoiando em minha irmã, enquanto meu namorado estacionava o carro.
Esta senhora começou a reclamar de sua vida, dizer que ela tinha sido expulsa de onde morava, tinha homens que a espancavam e ela já não sabia mais o que fazer. Fiquei pensativa enquanto ela falava. Eu estava com os nervos abalados, passando mal, com tontura, braços e pernas dormentes, mas eu tinha o carinho da minha família, tinha o apoio dos meus amigos, tinha um emprego fixo, um lugar pra morar, podia dizer que era feliz, estava apenas doente. Vendo ela tão maltratada pela vida, me comovi, falei que Deus poderia mudar a situação dela.
Ela começou a chorar na mesma hora, dizer que já disseram isto pra ela uma vez, ela chegou a procurar uma igreja, mas não ficou por lá. Depois de falar um pouco mais de sua história, ela me agradeceu. Me senti tão bem, que pareceu que o mal estar que eu estava sentindo começou a passar.
Eu não conto hoje esta história por mérito meu, até porque tantas pessoas poderiam escrever um livro inteiro de tantas esperiências como esta que já viveram, eu sou apenas uma aprendiz. O propósito principal desta história é refletir em como tantas vezes reclamamos de coisas mínimas e não entendemos o quanto somos abençoados, o quanto possuímos e o quanto deixamos de fazer pela vaidade de acharmos que somos merecedores de tudo o que temos.