quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Limites da obediência

O que fazer quando a obediência ultrapassa os limites do bom senso? Até que ponto uma criança consegue ser obediente, sabendo que aquilo pode te prejudicar? Será que o bom senso que achamos ser um bom senso não é apenas uma desconfiança ou um sistema de auto defesa?
Pois bem, eu sempre fui uma criança obediente. Tive sim alguns momentos de rebeldia e teimosia, mas nada que pudesse me dar o título de desobediente.
Um dia, por exemplo, estava dando algumas voltas pelo bairro com meu pai e ele precisou entrar em um pequeno estabelecimento onde consertavam eletrodomésticos para fazer um pequeno orçamento. Vendo que o local era apertado e que havia sombra na calçada, meu pai pediu que eu me sentasse no chão e que só levantasse quando ele voltasse. Eu, como uma filha extremamente obediente, me sentei no chão.
Passado alguns minutos, comecei a sentir um incômodo muito grande e pensei em me levantar ou mudar um pouco de lugar, mas eu não queria desobedecer as ordens do meu pai e fiquei firme e forte.
Quando ele saiu, me viu coçando o traseiro e perguntou se estava tudo bem. Quando ele olhou para o chão onde eu estava sentada, viu um formigueiro e as formigas todas agitadas.
Até hoje minha mãe comenta como eu fui boba neste episódio e eu também fico inconformada com minha falta de atitude. O bom é que aprendi a nunca mais me sentar em algum lugar sem analisar bem antes.
Falando em crianças ingênuas, minha irmã sempre acreditava em tudo o que eu falava. Eu sou quase quatro anos mais velha que ela e ajudava a cuidar dela.
Eu contava histórias e inventava lendas (algumas ela descobriu que era mentira recentemente), mostrava coisas imbecís que eu era capaz de fazer e ela tentava me imitar. Uma vez, por exemplo, eu disse que conseguia tomar uma garrafa de 250ml de água sem respirar. Fiz minha demonstração e ela tentou fazer. Como ela respirava, a prova não valia e ela tinha que começar novamente. Quando ela finalmente consegiu, ela passou mal na hora. Eu prometo que não fazia por maldade.
O tempo foi passando e ela começou a desconfiar de tudo o que eu falava. Tanto que, um dia eu tinha esquentado o leite no fogão e disse a ela para não tocar nele, pois estava quente. Apenas dei as costas e ouvi um grito. Minha irmã tinha relado onde eu falei para não relar e queimou dois dedos.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Perdida no shopping


Até os doze anos de idade, era difícil meus pais me deixarem ir para lugares sem a companhia de outros adultos, principalmente deles. Um pouco era pelo cuidado que os pais já têm por natureza e pelo que aconteceu no ano de 1995.
Eu tinha 5 anos de idade e era época de festas, quando o comércio investe pesado nas vendas e quando você tem uma noção ainda maior de quantas pessoas dividem a mesma cidade que você e você nunca tinha visto antes.
Fomos com toda a família para o shopping da cidade, que visitávamos sempre, para comprar presentes e aproveitar as promoções.
Entramos em uma loja muito conhecida (mas que não está me patrocinando) e eu perguntei para os meus pais se eu podia ficar na área dos brinquedos, para ver o que estava à venda e porque, na minha idade, era o lugar mais legal da loja. Enquanto isso, eles e meus tios faziam as compras.
Vários minutos depois, eu já tinha visto todos os brinquedos e não tinha mais graça ficar por lá. Saí pela loja procurando meus pais, mais era muito grande e eles já não estavam onde eu os tinha deixado.
Comecei a chorar desesperadamente, até que me dirigi a uma moça daquelas que ajudam no caixa e perguntei se ela sabia onde minha mãe estava. Ela disse que não sabia quem era minha mãe, mas que me levaria até a gerência. Fiquei mais tranquila, a gerência deveria saber quem era minha mãe.
A moça me levou até o gerente, que me fez entrar numa sala e subir algumas escadas. Pensei: "O que minha mãe estaria fazendo tão longe?"
Cheguei a uma sala onde tinha uma mulher que mais parecia uma operadora de Telemarketing e dava pra ver boa parte da loja de lá. Ela me perguntou o nome dos meus pais e eu disse que eram Pedro e Marialva.
Ela mexeu em uns equipamentos e disse: "Senhor Pedro e senhora Marialva, favor comparecer à gerência. A filha de vocês se perdeu e está aqui conosco!"
Rapidamente foi possível ver meus pais se movendo pela loja a caminho da gerência. Eu não sabia se sorria ou se eu chorava mais de tão emocionada que eu estava.
No mesmo ano, creio que não foi no mesmo dia, mas na mesma loja estava tendo uma grande liquidação onde para cada compra de valor X, você ganhava um cupom valendo um forno de microondas.
Meu pai preencheu e, como não tínhamos telefone na época, ele passou o telefone dos meus tios, que moravam do lado da nossa casa.
Fomos embora e, ao chegar em casa, meus tios nos avisaram que o forno de microondas era nosso. Meu pai foi ao shopping na mesma hora para pegar o prêmio. Até queriam que ele esperasse até o dia seguinte para poder tirar fotos e aparecer na televisão, mas a emoção de ter ganho alguma coisa era maior. Hoje, quase 17 anos depois, ele ainda funciona razoavelmente bem.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Perguntando e avisando

Durante várias fases de nossas vidas tomamos decisões por nós mesmos ou perguntamos a opinião de alguém. Na minha vida não foi diferente. Às vezes eu tinha dificuldade de decidir o que era melhor pra mim, porque sempre pensei muito nas outras pessoas e se minha decisão seria boa para elas também. Para tudo o que eu ia fazer, porém, minha mãe era a voz suprema. Se ela não estava de acordo, acabou. A não ser que ela não estivesse por perto pra que eu pudesse perguntar. Nestes casos eu tomava as decisões e atitudes e avisava pra ela depois.
Uma vez, eu e minha prima ainda éramos muito pequenas (usávamos fraldas e mal sabíamos falar), estávamos no pé de nossas mães enquanto elas trabalhavam, porque não sabíamos com o que brincar e o que fazer. Minha tia, na tentativa de criar uma brincadeira, deu uma sacola de feira para minha prima e disse que era pra irmos para a feira (imaginando que íamos brincar de feira). Passado alguns minutos, minha mãe e minha tia acharam que a casa estava muito silenciosa para ter duas crianças pequenas brincando e saíram correndo pela casa procurando por nós e não nos encontravam.
Num ato de desespero, elas abriram o portão para olhar a calçada e nos viram de mãos dadas, próximo à esquina, com a sacola na mão, indo para a feira (que nós não fazíamos idéia de onde era).
Um dia, aos quatro anos de idade, estava assistindo um destes programas de TV que usam hipnose pra controlar a mente das crianças (é a única explicação que eu acho para isto) e quando vi minha mãe passar pela sala, tirei a chupeta da boca e disse que não usaria mais e ela poderia jogar fora.
Era uma dura decisão pra uma criança de quatro anos que chupava chupeta até o presente momento, mas eu levei a sério. Minha mãe até guardou a chupeta em uma gaveta do armário para o caso de eu mudar de idéia, mas eu não voltei a buscar por ela.
Outra vez, com nove anos de idade, meus pais me levaram na casa de uma outra prima pra que eu passasse o dia com ela. Cheguei lá pela manhã e fiquei até a tarde. Minha tia teve que sair e nos deixou brincando em casa (minha avó e minhas tias moravam ao lado e cuidavam da gente). Quando ficamos com fome, em vez de procurar nossas tias para falar, preferimos fazer nós mesmos a nossa refeição. Minha prima disse que sabia fazer "chá de chocolate" e que era muito simples e rápido (hoje ela cozinha super bem, mas naquela época...). Depois de tomarmos bastante chá de chocolate, decidimos desbravar o bairro. Ela tinha uma pequena bicicleta com garupa e fomos nós duas andar pelo bairro.
Eu me sentei na garupa e não notei que ela estava com os parafusos frouxos e, quando passávamos por um trecho ainda não pavimentado, a garupa da bicicleta caiu e eu fiquei no chão. Sem perceber que eu já não estava na bicicleta, minha prima saiu correndo e me deixou no chão. Eu peguei o banco da garupa e saí correndo, grintando o nome dela até que ela me escutou e voltou pra me buscar.
Voltamos para a casa dela e logo depois a mãe dela chegou e nós avisamos a ela o que tínhamos feito. Escutamos um pouquinho, mas nestas horas não havia muito o que ser feito e estávamos bem...

Eleições

Quando somos crianças,a política parece uma coisa divertida, fora do comum, que acontece com menos frequência que o Natal e faz pessoas que não se vêem há muito tempo se encontrarem em filas quilométricas formadas em corredores de escolas no dia da eleição. Para os adultos, esta obrigação não é tão emocionante assim. Tudo que vira obrigatório gera um certo desconforto.
Eu amava assistir comícios. Era como se eu fosse assistir a um show das pessoas que eu via na televisão (nas propagandas do horário eleitoral gratuito) e eu conhecia todas as músicas de todos os partidos.
Parecia divertido se envolver com a política. Quando fui para a 5ª série, em 2010, inventaram aquela história de que a turma deveria ter um representante de classe e o que não faltaram foram candidatos. Eu também me candidatei. Não tinha idéia do que um representante de classe fazia, mas parecia uma coisa tão importante. Não ganhei a eleição e a menina que ganhou desistiu do cargo em pouco tempo. A partir dos outros anos os professores tinham que implorar por uma alma candidata ao cargo. Por sorte, sempre tinha um que queria fazer bonito para o professor, que assumia o cargo sem nem precisar de votos.
Depois dos dez anos de idade, perdi qualquer interesse pela política, o que muitos enxergam como um crime: "É por pessoas como você que o Brasil nao vai pra frente! Você deveria se interessar pela visão dos partidos e blá, blá, blá". O fato de não gostar de política não me leva a votar às cegas, sem me preocupar com minha cidade, estado ou país. Adianta um candidato entrar num partido influente, fazer um bom discurso e ser bom de marketing, se toda esta pose não tiver nenhum valor quando ele for eleito?
Me lembro que uma vez, quando eu era criança, eu queria um brinquedo de piratas que eu tinha visto no shopping da cidade (gosto meio exótico por eu ser uma menina, mas eu nunca gostei de brinquedos simples demais). Como eu nunca fui de pedir nada aos meus pais, eles acharam que seria uma boa idéia me dar o presente, mas era um brinquedo caro. Eles resolveram trabalhar na campanha politica de uma candidata a vereadora muito popular na cidade e, com o dinheiro que ganharam, me deram o sonhado brinquedo.
No ano da última eleição para presidente do Brasil, tive a oportunidade de conhecer uma garota mexicana, que estava fazendo intercâmbio na Universidade onde eu estudava. Acompanhando toda aquela campanha política, ela me disse duas coisas que a deixaram pasma. O fato do nosso ex-presidente apoiar uma candidata a presidente (coisa que, segundo ela, é proibido no México) e o fato do voto ser obrigatório (o que faz os eleitores ficarem desanimados com a sensação de "ter que votar" e não o sentimento de "é hoje que vou fazer valer a minha opção de votar e garantir a vitória do meu candidato"). Será que só a gente anda na contramão? Ela ficou assustada quando eu disse que nossos comprovantes de votação eram importantes, ao ponto de serem exigidos como documentação obrigatória para assumir alguns cargos públicos e privados. Ela disse que, quando eles votam, apenas recebem uma marquinha a mais em seu cartão. Por que será que no Brasil tudo parece ser mais complicado? Temos leis que nos obrigam a votar, para depois recebermos pelo menos 30% de votos brancos e nulos... 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Mundo da imaginação

Sabe quando você está tão acostumado a usar a sua imaginação, que quando você vê algo incomum na vida real você acha que está imaginando? Pois é. Já estive nestes dilemas.
Quando eu era pequena, gostava de acordar bem cedo pra assistir programas que ninguém mais assiste. Ligava a televisão no SBT e ficava curtindo as músicas do canal fechado até que ele abrisse e então eu decidia se ia assistir desenhos ou o programa Repórter Eco da TV Cultura e aos domingos, antes de ir para  a igreja eu assistia Siga Bem Caminhoneiro (Sim, estou corada de vergonha por estar contando isto).
À tarde eu assistia ao Fantástico Mundo de Beakman e depois arrepiava meu cabelo pra brincar de fazer experiências.
Há alguns anos, encontrei umas provas que eu fiz quando estava na terceira e quarta série e encontrei alguns absurdos com relação à minhas notas. Em uma prova da terceira série, a professora falou pra escrevermos o nome de um animal que começasse com a letra "O", esperando que todos os alunos escrevessem "Onça" como resultado. O que seria injusto, partindo do princípio que ela usou o artigo indefinido "Um" na questão, então poderia ser qualquer animal. Eu tive esta questão como errada, porque, em vez de responder "Onça" eu respondi "Onitorrinco" (eu não sabia que era "Ornitorrinco", mas ela não poderia me dar errado por causa de um "R"). Eu fui reclamar com ela, dizendo que eu tinha visto um documentário sobre este animal no Repórter Eco e que ele parecia com uma toupeira com bico de pato e ela achou que eu estava inventando. Imagina se iria existir um animal mamífero com bico de pato? Se ela assistisse tantos documentários quanto eu, que tinha oito anos de idade, ela saberia. O pior é que, na época, a professora falou que esta animal não existia e meus pais também não sabiam da sua existência, então eu comecei a acreditar que eu tinha inventado o tal bicho, porque não lembrei da onça. Um tempo depois, minha mãe viu um ornitorrinco na televisão e me deu razão.
Outro absurdo na minha nota foi em uma prova da quarta série onde você respondia as questões por uma cruzadinha. Analisei minhas respostas e percebi que tinha errado quase todas e, mesmo assim tirei 10 na prova. Agora não sei se a professora me favoreceu de propósito ou se ela achou no mínimo curioso eu ter conseguido finalizar uma cruzadinha tendo errado a maior parte das respostas. Acho que agora deve ser meio tarde pra pedir pra alterar. Já pensou se, em plenos 22 anos de idade, me fazem voltar para a quarta série?

A minha moda

"...I looked so hot but caught a cold, I was doing just what I was told... to fit in". (Clothes - BarlowGirl)

Já fui costureira, gosto de inventar coisas, mas creio que o mundo da moda não é pra mim. Nunca foi uma necessidade minha vestir aquilo que está na moda, até porque tem coisa que não acho bonito e que não fica bem nas modelos, quanto mais em mim.
Aí está outra coisa que acho estranho, a grande maioria dos homens e mulheres acham que as mulheres ficam mais bonitas quando tem algumas curvas e confeccionam roupas para mulheres semi-retas e compridas para quê? Para todas as outras ficarem iguais a elas ou para economizar pano?
Quando eu era pequena minha mãe vivia comprando roupas cor-de-rosa pra mim. E, quando ela me permitiu escolher minhas próprias roupas, fiquei anos sem colocar roupas desta cor e até mesmo acessórios. Tanto que, por existirem poucas opções de roupas de outras cores para meninas da minha idade, comecei a usar roupas mais masculinas e parecia um menininho. Aos doze anos de idade eu superei o trauma e voltei a usar roupas cor-de-rosa e mais femininas.
Uma coisa ainda mais bizarra que comprar roupas quando estamos em fase de crescimento é comprar calçados. Nunca fui daquelas meninas que são deslumbradas pelo salto desde pequenas, mas um dia, eu já devia estar quase entrando para a adolescência, eu encontrei um sapato social do meu número e já tinha salto (menos de 4cm) e eu fiquei morrendo de vontade de comprar, só pra dizer que eu cresci e podia usar salto.
Um episódio engraçado com calçados aconteceu há vários anos atrás, quando fomos (eu, minha irmã, meu pai e minha irmã) para uma loja de calçados em Americana - SP. Meus pais deixaram que eu e minha irmã escolhêssemos o que quiséssemos que ele acertaria depois.
E foi assim. Após andarmos por toda a loja, longe dos nossos pais, escolhi um tamanco preto. Pagamos e levamos os produtos e, quando chegamos em casa, percebemos que eu e minha mãe tínhamos comprado tamancos iguais.
Meu gosto para roupas não é nenhum pouco extravagante. Não exijo marcas famosas e não tenho preconceito quanto ao preço. Se entro numa loja e acho legal, se tiver no meu tamanho, eu levo. Sou manequim P para a maioria dos modelos de roupa, mas inventaram umas blusas que ficam caídas nos ombros e outras que te fazem parecer o Batman, formando uma capa de pano embaixo do braço e, nestes casos isolados, nem comprando P não resolve, então prefiro não comprar.
Já minha irmã tem que visitar todas as lojas para depois comprar aquilo que ela viu na primeira. Ela vive me dizendo: "Você não pode comprar na primeira loja que vê. Às vezes na outra loja está mais barato."
A minha filosofia para compras é diferente. Preciso de uma blusa, por exemplo, se vejo uma que eu gosto em uma loja e não esteja com um preço tão absurdo, eu levo. Se eu for depois em outra loja e encontrar a mesma blusa ainda mais barata, eu penso: "Nossa! O preço desta blusa está bom, mas eu já tenho uma igual e não preciso de outra".
Minha irmã já fez curso de modelo, mas acho que é a maior perda de tempo. Você passa fome pra ficar do jeito que eles querem, você perde tempo fazendo um curso que você pagou pra descobrir o que não quer ser e tem que pagar para trabalhar até que, se tirar sorte grande, virar uma modelo famosa.
A Gisele Bündchen, por exemplo, nunca quis fazer cursinhos de modelo. Um dia um olheiro disse que ela deveria ser modelo, ela aceitou e virou Uber Model. Então não é uma coisa que você paga pra ser.

"Clothes that fit are fine. Won't show what's mine. Don't change my mind. I'll be fine!!!" - (Clothes - BarlowGirl)

Imitando a vida adulta

Quando somos crianças, o mundo adulto nos fascina. Parece que crescer e adquirir uma certa independência, trabalhar é atrativo.
As meninas, por exemplo, gostam de brincar de casinha, de boneca, de limpar a casa, passar roupa, etc, porque se espelham nas tarefas de casa de suas mães. No meu caso, eu tinha várias roupinhas de boneca e sempre lavava roupa por roupa em uma banheira, depois colocava pra secar, fingia que passava e as deixava dobradas. Eu tinha minha própria vassoura, meu rodo e até minha própria maquininha de costura.
Falando em costura, no ano de 1997 minha professora de escola nos ensinou a fazer fantoches com meias. Acho que nossas mães devem ter adorado a idéia de "estragar" uma meia pra fazer um boneco. Me senti grande quando vi que, entre os materiais necessários para fazer o fantoche, iríamos usar agulha de mão para costurar a meia. E o melhor, minha mãe me emprestou uma agulha para isto. Depois deste dia, só tinha graça vestir as bonecas com as roupas que eu mesmo fazia. Eu as desenhava, recortava e costurava. Não quis seguir a carreira de moda por diversos motivos que posso contar em uma próxima postagem, mas até hoje ajudo na confecção de roupas de TNT para o grupo de crianças da igreja.
Às vezes também brincava de outras profissões, como cabeleireira, dentista, professora, etc.
No ano de 1993 ou 1994, se não me engano, estávamos eu e minha prima (as duas com menos de 5 anos) brincando de cabeleireiro na sala da casa dela. Resolvemos colocar um pouco mais de realidade na brincadeira e buscamos uma tesoura pra cada uma. Cortamos os cabelos de verdade e escondemos os fios atrás do sofá. Eu fiquei com as pontas do cabelo todas cortadas e minha prima ficou completamente sem franja. Imagine a bronca que levamos.
Outra vez, eu já devia ter entre 7 e 9 anos, outra prima foi na minha casa e resolvemos brincar de cabeleireiro (e, pra provar que tínhamos aprendido a lição, não usamos tesouras) e estava tudo bem, até que ela resolveu enrolar meu cabelo com uma escova redonda, começando das pontas até a raíz e depois a escova ficou completamente presa no meu cabelo. Neste momento, minha prima começou a chorar e eu notei que alguma coisa estava errada. Corri para o quarto da minha mãe, que teve paciência de passar horas desenroscando os fios do meu cabelo um por um.
Como dentista, conseguíamos ser ainda mais terríveis. Minha prima já tentou arrancar o dente da irmã dela, dizendo que estava com cáries, eu enchi a boca da minha irmã de pasta de dentes para fazer um tratamento.
A vida é difícil de explicar. Enquanto somos crianças, queremos fazer coisas de adultos e, quando crescemos, sentimos falta da vida que tínhamos quando crianças.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Saudades

Se tem uma coisa estranha de se acontecer é perder alguém querido. Perder pra sempre, sabe? Saber que depois de uma certa data você nunca mais vai falar com uma pessoa, nem vê-la na rua e só te restarão lembranças. É muito esquisito lidar com isto!
Hoje é o primeiro aniversário de morte da minha avó e ainda parece que foi ontem. Toda a família reunida em uma grande homenagem à matriarca de uma família gigante. Mãe de 12 filhos, avó de 17 netos  e bisavó de 3 bisnetos, ela nunca perdeu o bom humor e o carinho por todos.
Quando a nossa família se reúne é uma festa e era só a Vó Lita (como era e ainda é conhecida) chegar que a festa estava completa. Com mais de oitenta anos de idade ela colocava todo mundo pra dançar e ainda criava as coreografias.
Ela trabalhava com a minha mãe e minhas tias na oficina de costura e eu cheguei a trabalhar com ela também. Ela amava costurar e trabalhava atrás da minha mãe. Às vezes começava a cantar "Quando Jesus estendeu a sua mão" e minha mãe a acompanhava.
Quando eu comecei a trabalhar em Campinas ela ficou desesperada. Falou que eu estava emagrecendo, que minha mãe tinha que me mandar uma marmita e que eu ainda era muito nova pra ir sozinha para outra cidade.
Ela gostava de inventar os nomes para as coisas. Um dia ela chegou pra minha mãe, perguntando se tinha tampa pra ela virar. Minha mãe achou esquisito e pediu que ela repetisse. Ela repetiu a mesma coisa e demorou pra entenderem que ela estava pedindo para virar lapelas (aquele pedaço de tecido costurado que fica em cima do bolso da bermuda, pra parecer que ele está fechado). E virou tampa!
Ela não podia ver jogo de futebol na televisão que parava pra assistir. Não sabemos até hoje se ela realmente sabia as regras do jogo, mas ela gostava de passar horas na frente da televisão torcendo para o time que estiver ganhando, mesmo que fosse futebol amador.
Um dia ela estava assistindo televisão quando minha tia chegou em casa e ela disse super empolgada: "Olha, Lu, que lindo! Tudo tão colorido!". Minha tia parou pra ver o que era tão lindo e colorido e viu que minha vó estava assistindo a parada gay.
Algumas frases dela fizeram história e são guardadas até hoje por seus filhos e netos. Quando alguém espirrava, ela dizia "Deus te crie". Quando pedíamos benção, ela dizia "Deus te dê boa sorte". Quando alguém chegava com alguma fofoca, ela dizia "Olho viu, boca piu" e para tudo ela tinha uma resposta.
Ainda é meio vazio quando nos encontramos e ela não está. O primeiro natal sem ela foi muito diferente. Não conheço sequer uma pessoa, mesmo não sendo da nossa família, que não tenha guardado uma boa lembrança dela. Até os motoristas e cobradores dos ônibus que ela pegava eram amigos dela. Ela levava bala pra eles e fazia amizade com todo mundo.
No seu velório, estávamos meio chocados e meio desacreditados. Minha prima comentou comigo: "Sempre pensei que ela fosse eterna. É estranho vê-la nesta situação."
E acredito que ela seja realmente eterna. Vó lita, Dona Anita ou simplesmente Gildete. Cada um a conhece de algum jeito e levará pra sempre a lembrança de uma senhorinha alegre, disposta e carinhosa.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Primeiro Zero

Mesmo os bons alunos têm alguns momentos de decepção na escola. Me aconteceu algo no ano de 2004 que nunca mais se repetiu e que eu nunca vou me esquecer. Minha primeira nota zero.
Estava no primeiro ano do ensino médio e fazia parte da fanfarra da escola pelo terceiro ano consecutivo. Passadas as férias de julho, começamos a ensaiar todos os dias até que chegasse o mês de setembro e o horário dos nossos ensaios era durante das duas últimas aulas de cada dia e tínhamos permissão da diretoria para ficar na quadra durante estes horários.
Foi o primeiro ano que eu tive contato com a química e ela não é muito auto-explicativa. Se eu não me engano nesta época minha turma estava estudando sobre reações. No cronograma da minha classe tínhamos duas aulas por semana e as duas eram dadas nas últimas aulas de quarta-feira.
Por causa dos ensaios da fanfarra, eu não assistia a nenhuma aula de química e, mesmo colocando a matéria sempre em ordem, tendo o livro didático e pedindo ajuda dos outros alunos, eu não conseguia entender aquela matéria. Posso garantir que não sei até hoje e agradeço a Deus por isto não ter caído no vestibular.
Uma semana antes das provas daquele bimestre, quando já tinham acabado os ensaios da fanfarra, falei com a professora que eu não estava conseguindo entender a matéria e ela disse que não poderia voltar a matéria inteira por causa de uma só aluna (se eu soubesse que ninguém sabia a matéria, eu teria fortes argumentos contra ela). Então eu tentei quebrar a cabeça pra ver se eu encontrava ao menos alguma coisa de comum nas resoluções dos exercícios que eu copiei, mas sempre ficava algo no ar.
O dia da prova chegou e conseguimos convencer a professora a fazermos a prova em dupla. Isto não ajudou muito, já que ninguém sabia a matéria. Uma amiga pediu pra fazer a prova comigo e eu deixei claro pra ela que eu não sabia a matéria, mas ela não se importou.
No meio da prova, o aluno que estava sentado na minha frente começou a pedir as respostas, mas eu disse que não sabia a matéria. Ele chegou a pensar que eu estava mentindo só pra não passar a resposta, mas ele me perdoou quando saíram os resultados das provas. Minha dupla ficou falando pra que eu colasse durante toda a prova, mas eu disse que não queria e que não iria adiantar.
Quando faltavam quinze minutos para acabar as aulas, vendo a professora que ninguém tinha conseguido terminar a prova, permitiu que consultássemos nossos cadernos.
Mesmo com todos estes benefícios não foi possível tirar uma boa nota. Respondi a todas as questões, tentando seguir uma linha de raciocínio lógico, mas acho que a química não é muito lógica.
E assim eu tirei o meu primeiro e único zero da vida. Fiquei meio sem graça de falar para os meus pais, mas ao contar todo o contexto, eles entenderam. Eles nunca exigiram que eu fosse a melhor aluna da classe nem que eu tirasse as melhores notas, apenas me incentivavam a dar o meu melhor. O que mais me consolou nesta prova foi o fato da nota mais alta da classe ter sido três e, mesmo com a nota ruim da prova, eu tinha boa participação, frequência, fora os pontos por fazer as atividades e fechei o bimestre com uma nota acima da média.

Amizades de ônibus

Enquanto existem muitos pré-adolescentes de onze anos de idade querendo ser independente e alguns até gerando outros novos seres humanos, nesta idade eu comecei a andar de ônibus sem os meus pais. Mesmo assim, até que eu conhecesse outros alunos que pudessem pegar o mesmo ônibus que eu, minha mãe ficava comigo no ponto de ônibus.
O tempo foi passando e eu comecei a me aventurar, tentando pegar outras linhas de ônibus, em outros pontos mais distantes da escola e me senti grande. Poderia citar várias pequenas situações engraçadas que me aconteceram durante esta época. Uma delas foi cair sentada no "corredor" do ônibus lotado e ter dificuldades para levantar novamente, já que era difícil achar um lugar para segurar.
Mas um ano que foi marcante pra mim, pelo menos se tratando de transporte público, foi o ano de 2004.
O ano estava começando e eu comecei a pegar uma outra linha de ônibus por passar em um horário que eu considerava ser melhor. Naquela época eu me vestia estranhamente mal.
Em um dia, estava eu com o uniforme da escola (tamanho gigante pois eu ainda não conhecia as baby-looks), uma jaqueta de frio, uma calça pescador com bolsos nas laterais e tênis, fora o cabelo preso e os óculos (antes que pensem mal de mim, eu adquiri uma boa dose de bom senso). Foi justamente este estilo maravilhoso que fez com que três garotas da escola puxassem papo comigo.
As três estavam na mesma série que eu, mas cada uma em uma classe e, mesmo com a minha timidez, acabamos nos dando muito bem.
Entramos todas para a fanfarra da escola naquele ano, mas só eu continuei até o dia sete de setembro.
Cantávamos músicas e fazíamos paródias durante todo o trajeto do ônibus e não atrapalhávamos ninguém e não tínhamos medo do que pensariam ao nosso respeito. Eu fazia uma espécie de beat-box (não, não sou boa nisto), uma fazia arranjos de voz (bem cômicos por sinal) e as outras duas cantavam as letras na íntegra. Nosso repertório, muito variado, ia desde música da Xuxa até canções que ensinam nas escolas de inglês para gravar o nome das cores.
Aprendi muitas coisas com elas: "Quando alguém se levantar de uma poltrona do ônibus, aguarde um pouco para se sentar, para evitar as hemorróidas", "Comer a polenta da escola pode descolar uma lasca do seu dente que foi feito no dentista" e "Imagine como seria se tivéssemos olhos nas pontas dos dedos?".
Uma vez a escola marcou uma ida para o teatro da cidade e sairíamos depois do intervalo. Durante o intervalo a Ju (uma das minhas amigas de ônibus) me chamou para irmos até a sua sala de aula para buscar o seu ingresso. No caminho para a sala de aula, um aluno da escola passou com uma vassoura na nossa frente e eu fui literalmente varrida. Ela gritou com o menino e disse: "Ei! Cuidado com esta vassoura! Você varreu o pé dela e agora ela nunca mais vai poder se casar!". O garoto ficou meio sem reação na hora, mas depois que buscamos o ingresso, ele nos procurou e começou a pedir desculpas, dizendo que não queria que eu não me casasse por culpa dele e que ele estava muito arrependido. Nós rimos da situação, porque este é apenas um senso comum, uma superstição. Se eu não me casar a culpa é dele.
Hoje tenho pouco contato com elas. Mudei de bairro, cada uma seguiu seu rumo. Cheguei a reencontrar duas delas depois que saí da escola, mas a Ju nenhuma de nós tem visto.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sociedade invisível

"O músico é muito discriminado. Primeiro você é vagabundo, depois você vira artista. Até sua vizinha te trata melhor depois que você vai na TV e canta no rádio" - (1996, Dinho)
Esta frase foi dita pelo Dinho, ex-vocalista do finado grupo Mamonas Assassinas e eu achei muito interessante, porque ela não funciona apenas na carreira artística, mas em todos os aspectos de nossa vida.
Eu ando de transporte público todo dia útil (às vezes até nos inúteis) e tenho percebido que em quase todas as vezes eu subo, desço e não encontro ninguém que eu conheça e, a não ser que eu empurre ou pise no pé de alguém, ninguém olha pra mim e eu não olho pra ninguém. Como se fôssemos todos invisíveis.
Comecei a reparar este fato, não por ter assistido a um documentário dos Mamonas, mas sim quando um dia entrei num ônibus pra ir trabalhar, com meus fones de ouvido e sentei no último banco (milagrosamente o ônibus não estava muito cheio no dia). Uma menina, que aparentava ter de 12 a 14 anos olhou pra mim e me perguntou se eu estudava na Unicamp (Ela não era vidente, eu estava com uma blusa da faculdade). Eu respondi que já tinha estudado lá, mas tinha me formado. Ela fez cara de satisfeita e virou para o outro lado. Eu coloquei de volta os meus fones e voltei a ver a rua.
Um segundo que eu viro para a esquerda, percebo que a menina continuava me olhando e sorria. Resolvi tirar o fone da direita e diminuir o volume e respondi a um monte de perguntas aleatórias que ela me fazia. Disse que se chamava Juliana e que estudava, o irmão dela trabalhava etc.
Desci quando cheguei do trabalho com uma sensação interessante. Nunca gostei de conversar dentro do ônibus. Às vezes até com conhecidos eu acabo não conversando muito, mas ela queria conversar e ela se sentiu bem por eu ter dado ouvidos a ela.
Certa vez, uma velhinha começou a falar comigo no ônibus. Fiquei sabendo da vida dela inteira. Mais alguns pontos e eu saberia até a senha da conta do banco.
Continuo quieta no ônibus. Garanto que vocês nunca vão me ver puxando um assunto ao encontrar alguém, mas aprendi a ouvir aqueles que tem necessidade de falar.
Uma vez fui a São Paulo com uma amiga e, quando comecei a escutar uma pessoa dentro do ônibus, ela me tirou com jeitinho da conversa e disse que a pessoa estava com intenção de me roubar. Não sei até onde isto poderia ter sido verdade ou não, mas enfim.
O fato é, somos todos invisíveis. Até o ponto em que aparece um elo de ligação, que pode ser uma pessoa, um lugar, um acontecimento e permite que vejamos outras pessoas. Já pararam pra pensar no universo paralelo em que estamos inseridos? Já observaram como cada um de nós temos a nossa própria vida e rotina e quantas pessoas neste mundo que não chegamos a conhecer e que nunca conheceremos?
E, de repente, alguém aparece na mídia e conquista um público e passa a ser "conhecido" sem que realmente o conheçamos e, com o avanço da tecnologia que nos permite estar em todos os lugares ao mesmo tempo, pensamos até que podemos ter contato com estas "celebridades".
É uma coisa na qual eu tenho tentado me policiar. Será que estou deixando de ver as pessoas que estão ao meu redor, buscando alcançar apenas o objetivo de ver aquelas que "todo mundo conhece"?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Hopi Hari

Fui ao Hopi Hari apenas três vezes e, embora tenha gostado do parque, eles não estão me pagando para fazer nenhum tipo de propaganda e esta postagem não tem nenhum efeito comercial.
A primeira vez que fui ao parque foi no ano de 2001, em uma excursão da escola que eu estudava. De todas as vezes que eu fui, esta foi a mais chata, porque fiquei sozinha na maior parte do tempo (não, eu não sofria bullying, para tudo existe uma explicação).
Eu estava com um grupo de meninas da minha sala, brincando em vários brinquedos e me divertindo muito. Passada a hora do almoço, decidimos ficar na Giranda Mundi (Roda Gigante do Hopi Hari) para descansar.
Quando estávamos no ponto mais alto do brinquedo, vimos uma limousine se aproximando do parque com vários carros do SBT em volta. Eu nunca fui de me esquentar com estas coisas (na verdade devo ser algum tipo de exceção perdida no Universo Feminino), mas as meninas que estavam comigo (que vou manter os nomes em sigilo pela integridade das mesmas) começaram a gritar para o operador do brinquedo para que elas pudessem descer pra ver do que se tratava toda aquela comissão. Após muito insistir, o operador do brinquedo escutou e atendeu ao pedido. Descemos e fomos até a portaria do parque.
Vimos todos os carros parando na frente do parque e desceram da limousine uma anônima acompanhada dos gêmeos Flávio e Gustavo (hoje também anônimos). O chamado "Dia de princesa" que tinha na época. Ela deveria passar um dia como princesa com os plebeus Flávio e Gustavo e eles a levaram para enfrentar o seu medo de altura no elevador (excelente).
Quase todo mundo que estava no parque começou a seguir os gêmeos pelo parque, alguns porque achavam eles bonitos, outros porque queriam ver a tortura e outros que queriam aparecer na TV.
Após algum tempo correndo atrás das minhas amigas no meio daquela multidão, decidi me divertir sozinha nos brinquedos e, por causa do alvoroço com os gêmeos, quase não tive que enfrentar filas.
No ano seguinte eu não tinha como ir para o Hopi Hari com a escola por causa de motivos financeiros. Mas a escola resolveu fazer um concurso de desenho "O que a escola significa pra você" e eu ganhei em segundo lugar (meu quadro deve estar na biblioteca da escola até hoje). Como prêmio, ganhei o direito de ir para a excursão de graça e acho que foi a vez que mais aproveitei.
Fui com vários amigos e nos divertimos muito. O dia foi escurecendo e eu perdi a conta de quantos brinquedos nós fomos. Já estava praticamente de noite, estávamos descansando no Wild West, quando começamos a ouvir uma marcha vindo atrás de nós. Olhamos para trás e lá estavam todos os "monstros" da Hora do horror. No mesmo minuto, uma amiga (que não vou citar o nome a não ser que ela me permita) segurou nas nossas mãos e nos levou correndo e gritando: "Corre todo mundo!!!"
Depois disto, me lembro que nos dividimos e acabamos nos perdendo uns dos outros. Enquanto não nos encontrávamos, aproveitamos alguns brinquedos e interagimos com alguns monstros. Minha amiga quebrou os óculos e, quando estávamos tentando consertar, nos encontramos com o resto da turma, mas aí já era a hora de irmos embora.
Na última vez que eu fui, levei minha irmã junto. Também era época da Hora do horror e teve muita correria. Inclusive, ao entrarmos no Katakumb, minha irmã acabou abraçando a múmia pensando que era um de nós.

Andando sobre trilhos

Em 1998 foi a primeira e única vez que andei de trêm na minha vida (não estou considerando metrô como trêm nesta postagem). Eu, minha prima e minha tia fomos de trêm de Limeira até Bauru.
Aos oito anos de idade, tudo o que fazemos fora da rotina é divertido e esta viagem marcou em vários aspectos. As paisagens que vimos durante o caminho, aquela sensação engraçada de estar passando no meio do nada, a incrível experiência de atravessar um rio através dos trilhos e, é claro, ter dividido estes momentos com minha prima.
No meio da viagem, depois de combinarmos salgadinhos da Elma Chips com o biscoito Negresco, surgiu a necessidade de encontrar um banheiro naquele transporte diferente.
Quando finalmente encontramos, entramos juntas e trancamos a porta (ainda não sei como). Quando terminamos de usar, tentamos destrancar a porta, mas não conseguíamos. Não era exatamente uma chave na fechadura, era uma espécie de trava esquisita que não conseguíamos destravar.
Com o desespero de estarmos trancadas dentro do banheiro com o trêm em movimento, começamos a gritar pela minha tia, que veio correndo junto com um tipo de "comissário de bordo". Falamos que não conseguíamos abrir a porta e eles tentavam nos dar instruções de como fazê-lo.
Minha prima, vendo a janela do banheiro aberta gritou: "Não precisa mais não, mãe! A gente sai pela janela que está aberta!". E ai que minha tia ficou mais desesperada. Imagine como seria, se duas crianças de oito anos saíssem pela janela de um trêm em movimento.
Tentaram bater na porta e gritaram para que não fizéssemos nada. Por um milagre (porque até agora não consigo entender o que fizemos), a porta destravou e nós finalmente pudemos ir para os nossos lugares e desfrutar do resto da viagem.
Para voltar para casa, meu tio nos buscou. No meio do caminho começou uma chuva muito forte e começamos a ficar assustados pois não era possível enxergar a pista.
Comecei a chorar de desespero e minha prima também chorou quando me viu chorando. Meus tios, preocupados comigo, pararam no posto mais próximo, onde eu liguei para minha mãe pra avisar o que estava acontecendo e que iríamos demorar pra chegar. Passada a chuva, retornamos à viagem.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu e a dança

Com toda a sinceridade, eu gostaria de poder separar a minha história com a dança em várias postagens como eu fiz com a música, mas eu realmente não nasci para isto. Esta postagem é apenas a prova de que eu tentei.
Eu fazia parte do grupo de crianças da igreja e, justamente em uma data comemorativa eu fiquei doente. No dia do ensaio a mãe de um menino da igreja foi até a minha casa perguntar se eu tinha uma camiseta do "Clube dos ursinhos" (que era o nome do grupo infantil da igreja) sobrando. Minha mãe disse que eu estava doente e não apresentaria e emprestou a minha camiseta.
Chegada a hora da apresentação, ele apresentou todas as músicas com meu uniforme. Mas na última música pediram todas as crianças subissem para cantar. E eu subi também, mesmo ainda com febre e dancei.
No outro dia este menino estava desolado (vou manter a identidade dele em segredo): "Mãe! Eu dancei com a camisa dela e ela dançou sem a camisa!"
Na adolescência também cheguei a fazer parte de grupos de dança. Participei de três. Nenhum existe mais.
No primeiro eu era muito nova e, mesmo que eu conseguisse fazer os passos, me desanimava. Ensaiávamos um monte de músicas legais e dançávamos sempre a mesma chata e lenta. Até que a líder do grupo teve que sair e ficamos órfãos. Pouco tempo depois não tinha mais grupo de dança.
Depois, quando eu já estava no grupo Passo-a-passo, tivemos a idéia de transformá-lo em um grupo de canto e dança. Em um sábado cantávamos e no outro dançávamos. O que foi uma ótima idéia, porque ensaiávamos um hino e dançávamos no mesmo dia. Não saiam passos cabulosos ou no mínimo próximos do profissional, mas não enjoávamos dos hinos que dançávamos. Mas, com o tempo, sobrou apenas o Passo-a-passo para canto, porque eu que tinha que ensaiar o povo e eu não tenho talento para dançar.
Depois participei de mais outro grupo, mas mesmo com minha boa vontade eu mais zoava todo mundo do que fazia os passos. Eu conseguia fazer as coreografias e lembro de uma boa parte delas até hoje, mas confesso não ter chamado para isto. Quando Deus chama, Ele capacita e eu nunca me senti capacitada para o ministério de dança.
Hoje, o máximo que eu danço é jogando Dance Central no X-box com a ajuda de um Kinect.

Micos musicais

Quem me vê hoje aparentemente confiante em um instrumento musical não imagina os micos que já paguei com eles. Que são desde pequenos deslizes que ninguém nota, mas todo mundo perdoa, até situações cabulosas que até hoje eu não me conformo.
Fora o mico de tocar bateria sem saber que eu comentei há algumas postagens atrás, tem algumas outras vezes que eu agi por impulso.
Em 1999, tivemos a oportunidade de participar de um concurso de talentos na escola. Eu assistia aos shows de calouros da televisão e morria de vontade de participar de coisa semelhante (a vontade passou, tá!).
Sem saber o que eu poderia fazer, pensei: "vou cantar uma música!", mas todo mundo que estava se inscrevendo iria tocar algum instrumento e eu não teria chance (antes tivesse cantado). Disse à professora que tocaria a música do Titanic (que ainda estava nas paradas de sucesso e eu nem sabia o nome da música) no VIOLÃO (que burrice foi esta? se você leu a postagem A música e eu - parte III, sabe que eu só aprendi tocar alguma coisa no violão a partir de 2006).
Me inscrevi e fiquei treinando a música em casa. Solando a música saía e eu decidi que estava pronta.
Fui para a escola com o meu violão e um amigo começou a tocar. Eu achei o máximo e todo o meu ensaio foi por água a baixo quando eu decidi tentar tocar a música dando batidas nas cordas e fazendo acordes inventados em vez de fazer o solinho.
Na hora da apresentação a professora perguntou se eu queria que ela colocasse o microfone na minha boca ou no violão (me arrependo de não ter falado para colocar na boca, assim eu cantava e pronto). Mas eu tinha que pagar este mico para contar para vocês.
Depois de tocar um monte de coisa desordenada que ninguém entendeu, a professora perguntou: "Já acabou?" e eu desci sem chance nenhuma de ganhar. Se eu fosse a única inscrita, me desclassificariam.
Uma outra vez, eu já tocava teclado na igreja. Estava muito resfriada, mas mesmo assim estava lá firme e forte, mas não podia ficar um só minuto sem o meu lenço.
Na época o pedestal do meu microfone tinha uma gambiarra para se manter levantado e uma pequena pancada poderia desmontá-lo.
Toquei o culto inteiro e na hora da mensagem desci e sentei na fileira da frente. O obreiro, tendo pregado, chamou o conjunto e a igreja toda ficou em oração.
Quando já tinha ligado o meu teclado, percebi que o meu lenço tinha ficado no banco e eu não conseguiria ficar muito mais tempo sem ele. Descer ou não descer?
Decidi descer. Mas ao sair de trás do teclado, tropecei no cabo do meu microfone, desmontando o pedestal, que derrubou o microfone sobre o botão de play dos ritmos do teclado, que começou a tocar heavy metal pra toda a igreja ouvir. Nesta hora o guitarrista e um vocalista tentavam descobrir onde desligava o meu teclado e eu subi correndo para ajudar a desligar.
Uma outra situação micosa que me aconteceu é que eu tocava bateria para o coral de crianças da igreja e um dia tive que faltar ao ensaio porque estava doente. Quando chegou na hora do culto eu fiquei morrendo de ciúmes da bateria e falei com a moça que nos ensaiava. Ela disse que eu poderia tocar. O duro é que um outro menino já tinha ensaiado no meu lugar e lá vou eu tomando o lugar dele.
Outra vez, eu estava sentada e o obreiro deu sinal para subir e tocar bateria. Eu subi correndo e super feliz com a oportunidade, mas ao chegar na bateria vi que o baterista da igreja estava sentado atrás de mim.
Citei apenas situações mais extremas, mas já aconteceu muito de eu fazer a introdução de uma música e começar a cantar outra, errar mais de três vezes seguidas a introdução de uma música para depois desistir de tocá-la, cantar letras erradas mesmo sabendo as certas (na música "Som da chuva" da Soraya Moraes eu cheguei a cantar "deixa o céu cair sobre nós" em vez de "deixa o céu descer sobre nós"). Imaginem o desastre!

Mulher de negócios

Nem sempre o que fazemos quando pequenos reflete na nossa vida adulta. Graças a Deus!
Fui uma criança com muita energia, que fazia algumas travessuras e me considero um ser humano normal.
Já cheguei a jogar comida atrás da geladeira para fingir que tinha comido tudo, brinquei de bola dentro da cozinha da minha tia e estourei a lâmpada fluorescente, vendava os olhos da minha irmã para que ela adivinhasse qual comida era aquela (mesmo que fosse pó de café), fazia minha irmã voar (conforme eu disse na postagem O ano de 1998 - parte II), entre tantas outras inocentes atitudes de uma criança.
As brincadeiras mais saudáveis devem ter alguma ligação com nossa vida profissional. Minha prima amava brincar de escritório e fez Administração, meus primos brincavam de carrinho de rolimã e hoje são engenheiros mecânicos, eu brinquei de Atari e virei programadora (sim, eu brinquei de Atari).
Mas uma coisa que eu realmente não consigo entender é como a área de vendas me fascinava quando criança e hoje eu fujo até das compras, quanto mais das vendas.
Tudo começou em 1998 (não, desta vez não é nenhuma tragédia). Era época de Copa do Mundo. O Brasil perdeu pra França na final. E o mascote da Copa do mundo era o Footix, que eu aprendi a desenhar naquele ano.
Minha prima teve a brilhante idéia de vendermos desenhos para os alunos e o duro é que o povo comprava mesmo. Vendíamos Footix pequenos por R$0,10 e Footix grandes por R$0,20. Eu desenhava e ela pintava, os alunos compravam e nós tínhamos dinheiro para gastar na cantina da escola.
Com o fim da Copa do Mundo, os alunos não queriam mais saber de Footix, então fizemos parceria com outro amigo (Vinicius), que também desenhava.
No ano seguinte, eu não sabia o que fazer com um grande calendário da Copa de 1998 que eu tinha em casa. Ele vinha com vários adesivos de bandeiras, que colávamos para acompanhar os jogos. Mas, como muitos países não passavam nem para as oitavas de final, eu tinha muitas bandeirinhas de vários países sobrando e resolvi vender por um centavo cada e vendi todas.
Não devo mais ter este dom para negociações. Ainda bem. Creio que na vida real isto dá muita dor de cabeça e eu prefiro ficar como estou.

Fazendo de conta

Sempre tive uma imaginação muito fértil e vivo criando coisas até hoje. Não sei se isto é bom, se olharmos pela ótica da psicologia e afins, mas nunca tive problemas com isto.
Dos cinco aos sete anos, eu acho, resolvi criar meus próprios amigos para conversar. Fazia uma careta, penteava o cabelo de forma diferente e conversava comigo mesma no espelho.
Aos seis anos, criei vários personagens que eu fazia com a própria mão, cada um com seu nome, família, característica, profissão etc. Com o passar dos anos, decidi criar um país imaginário "Bikuthuzye" (acho que era assim que eu escrevia). Cheguei a criar o hino nacional do país, o mapa político e os Estados. Sim, eu cresci saudável depois de tudo isto.
Na adolescência o caso foi ficando mais grave. Eu criei uma turma de histórias em quadrinhos. Começou como a turma do Boló (um ursinho branco) e depois virou a turma da Dinny (menina com sardas, tranças e um laço gigantesco na cabeça).
A turma da Dinny estava presente em quase todos os meus desenhos nas aulas de Educação Artística e eu escrevia roteiros de histórias e as desenhava, fazendo mini gibis. Depois passava os mini gibis de mão em mão na sala de aula, onde os alunos liam e me davam sugestões.
Escrevi também um "livrinho" (que emprestei pra alguém ler e não vi nunca mais). O nome do livro era "Salve o presidente" que contava a história de um presidente que foi sequestrado, contada de uma forma cômica. Despois escrevi o "livro" "Uma torre, um dragão e uma princesa sem noção", onde uma princesa fica aprisionada numa torre e sua mãe faz de tudo para arrumar um príncipe que seja capaz de salvá-la do dragão. Na sequência, foi a vez de uma quase série de "livros" com assuntos cômico-cotidianos, sendo eles "Uma mudança normal", "Uma família normal" e até hoje não terminei o terceiro, "Férias normais". Estes contavam a história de uma família que se mudou para  Rio de Janeiro por causa de uma propósta de trabalho de seu pai.
Fora os livros, gostava de escrever poesias e paródias (certo, paródias eu ainda gosto) e amo escrever músicas. Um dia cheguei a apresentar uma música minha para minha turma da 5ª série, cantando e batendo na carteira com uma régua (fiz com a autorização da professora, não é minha culpa se você fizer o mesmo e parar na diretoria).
Até hoje me lembro, numa aula de português da 5ª série, a professora pediu que escrevêssemos uma redação. Minha história falava de um amor proibido. Eu tive a idéia de colocar rimas em todos os parágrafos, para dar uma certa musicalidade ao texto. No último parágrafo eu queria compará-los com Romeu e Julieta e não me veio nenhuma palavra agradável que rimasse com Julieta. Então escrevi: "Era um casal de gaveta, igual a Romeu e Julieta". Minha professora não entendeu a expressão e me perguntou a respeito. Eu disse que as gavetas se encaixam perfeitamente no local para onde ela foi feita e serve para guardar as coisas ou os sentimentos. Fui tão convincente que ela aceitou a idéia. Viva a liberdade de criação!
Hoje, além das músicas, gosto de criar montagens no photoshop. Fiz uma conta no Twitter e no Facebook. Criei um blog. Céus! Cheguei ao ponto de contar um monte de histórias da minha vida na Internet! Ok. Pra mim está bom. As pessoas criam tantos blogs pra falar da vida dos outros. Estou no lucro.

Quem não gosta de samba...

Dizia uma música "Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé". Eu sinceramente torço para que isto não tenha sido provado cientificamente, pois eu teria que ser internada com camisa de força em uma sala acolchoada, cercada por policiais altamente treinados. Não é nada contra a cultura brasileira ou contra quem gosta de samba em si.
Até meus doze anos de idade eu escutava o que todo mundo escutava e não tinha um gosto difinido, exceto que naquela época todas as meninas da minha idade eram vidradas em Sandy e Júnior e Chiquititas, fazíamos covers na escola e tudo.
No meio daquele ano algumas coisas mudaram. Nossa professora de inglês pediu que fizéssemos uma pesquisa sobre uma banda e levássemos uma música desta banda para apresentar para a classe. Uma amiga que estava no mesmo grupo tinha ouvido falar de uma banda que estava começando a fazer sucesso na época, Linkin Park. Fizemos o trabalho em cima da música "In the end". Depois do dia da apresentação do trabalho, vários alunos da classe passaram a escutar músicas mais voltadas para o rock. Na mesma época, eu comecei a gostar de Oficina G3 e Resgate.
No ano seguinte, eu e outra amiga de classe começamos a ouvir Evanescence e Nightwish juntas. Passávamos a maior parte do tempo livre da escola cantando.
O tempo passou e continuamos escutando rock. Eu conheci outras bandas cristãs, que escuto todos os dias. No meu celular você vai encontrar The letter black, Skillet, HB, BarlowGirl, Flyleaf, Demon Hunter, RED e P.O.D. Gosto de Oficina G3 e Roberta Di Angellis, mas não escuto com tanta frequência.
Às vezes até me falam: "Ai! Você devia valorizar mais as músicas nacionais!". Eu escuto músicas nacionais a todo tempo. Toco e canto na igreja, mas isto não quer dizer que eu curta as músicas. Me dá um vazio no estômago quando me dizem que Fernandinho e David Quilan são cantores de rock.
Desabafos à parte, às vezes é engraçado falar pras pessoas (principalmente da igreja) que eu gosto de rock. No primeiro momento acho que levam um susto. Alguns até perguntam: "Nossa! Mas você é tão quietinha!" (eu espero que não pensem que por gostar de rock eu torturo criancinhas e animais).
Um dia eu estava cantando uma música do Renascer Praise e uma amiga me olhou assustada e disse: "Você sabe cantar uma música do Renascer? Mas não é rock!". Outra vez eu estava de roupa cor-de-rosa e ela me disse: "Estou estranhando te ver vestida de rosa, você não usa apenas roupas pretas?"
Pois é, acho que sou ruim da cabeça ou doente do pé...