sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ligeiramente alterados

Existem coisas na vida que nunca saberemos ao certo se nos aconteceu ou se foi um fruto de nossa imaginação com várias testemunha oculares. Algo parecido com isso foi o que aconteceu com quatro alunos da 4ª série do ano de 1999, inclusive eu.
Estávamos no mês de agosto e a escola tinha que apressar os preparativos para o Desfile Cívico de Independência, que acontece no dia 7 de setembro (sim, preciso especificar porque o blog tem leitores de fora do país). Alguns alunos foram escolhidos para representar a escola usando máscaras de peixe em um rio azul feito com TNT (na época eu fiquei triste por não ter sido escolhida, mas depois do desfile eu dei graças a Deus).
A direção permitiu que apenas quatro alunos de cada sala passasse o horário de aula ajudando na decoração. Representando minha classe fomos eu, minha prima e meus amigos Vinicius e Américo.
Ficamos horas mexendo com papéis e outros materiais, mas algumas professoras estavam usando uma cola com um cheiro forte no mesmo pátio.
Coincidência ou não, quando voltamos para a classe achamos que algo errado estava acontecendo. Era aula de matemática e não conseguíamos entrar em acordo quanto às respostas das nossas somas. O Vinicius me perguntou: "Qual o resultado da letra d?" - e eu: "O meu deu 36" - e ele: "Como assim? Aquilo não é um 4?" - e eu: "Pra mim parece um 9!" - e ele: "Vamos perguntar pra professora!"
Na mesma hora, minha prima vai para a mesa da professora para reclamar que estava com dor de cabeça e o Américo estava meio enjoado. Notando o fato dos quatro alunos que estavam ajudando na decoração estavam com comportamentos estranhos, a professora nos levou para a cozinha e pediu que nos servisse leite, pois ela achava que estávamos intoxicados.
Tomamos o leite e nada pior nos aconteceu. Até hoje não sei se estávamos mesmo tendo aqueles comportamentos por causa da cola mesmo ou se foi apenas algum tipo de "neurose coletiva temporal".

Jornada para o trabalho

Acho muito interessante a forma como entrei no meu atual trabalho. Tudo começou em 2010, quando me avisaram que abririam vagas na área de informática no corcurso público da minha cidade. Corri atrás dos editais e tudo mais e, entre os cargos, estava o cargo de Técnico de Suporte em Informática. Como eu terminaria meu curso de Tecnologia em informática naquele ano, imaginei que daria certo de tentar uma das 13 vagas, já que exigiam segundo grau completo e curso técnico de informática.
Fiz a prova em junho e fiquei em 5º lugar. Pensei que chamariam rápido e eu não teria um diploma para apresentar.
Consegui um estágio em Campinas, mas era cansativo ter que viajar todos os dias e eu não conseguia me bancar com o que eu ganhava, mesmo gostando do serviço.
Em janeiro de 2011, começaram a chamar os técnicos. Chamaram os quatro primeiros colocados e o primeiro colocado da vaga para afrodescendentes. Eu comecei a ficar preocupada porque, embora já tivesse terminado o curso, meu diploma sairia apenas no dia 17 de fevereiro de 2011.
Passado o dia da minha colação de grau, no dia 02 de março de 2011 eu fui chamada para apresentar meus documentos, mas não tinha visto a chamada.
Um amigo de faculdade me enviou um email dizendo que viu o meu nome no Edital de Convocação e assim que pude eu me apresentei. Conversei com o pessoal do RH sobre os meus documentos, mas me disseram que eu não poderia assumir o cargo de Técnico porque tinha apenas diploma de Tecnólogo (que deveria ser considerado superior, mas enfim). Procurei me informar e fiquei sabendo que eu poderia entrar com um recurso para que a prefeitura fizesse uma análise do meu diploma, verificando se eu tinha os pré-requisitos nescessários para assumir o cargo.
Dei entrada no processo e comecei a juntar toda a documentação. Acompanhava o processo pela internet e procurava estar sempre em contato com eles. Tive que prorrogar o prazo de entrega de documentos para dois meses em vez de um.
Os Recursos Humanos entraram em contato comigo, dizendo que não tinham aprovado meu processo, mas que iriam tentar com o pessoal jurídico para que um advogado "me defendesse". Falei algumas vezes com uma advogada e apresentei a ela todo o meu currículo acadêmico para que ela incluísse no processo.
Faltando pouco tempo para vencer o meu prazo de entrega de documentos, falei com o RH e me disseram que havia apenas uma opção e que eles tentariam, mas que já tinham feito tudo o que podiam por mim. Neste dia eu estava com minha irmã. Fiquei meio triste com a notícia, mas acreditava que, se Deus tinha me permitido passar por tudo aquilo, Ele não me deixaria na mão. Falei pra minha irmã: "O que podíamos fazer até aqui, nós já fizemos. Agora é com Deus!"
Na semana seguinte, estava assistindo a uma aula da pós-graduação pela manhã de terça-feira (único dia da semana em que eu não iria para Campinas) e meu celular tocou (eram 8:45hs da manhã). Era o pessoal do RH dizendo que tinham aprovado o meu pedido de análise e, como meu prazo estava vencendo, eu tinha até as 10hs para apresentar toda a documentação e tomar posse do cargo. Saí correndo no meio da aula e liguei para o meu pai (que graças a Deus estava de férias) pedindo que levasse a pasta com meus documentos até a prefeitura antes das 10hs, que eu o encontraria lá. Aproveitando as férias, meu pai tinha deixado o nosso carro na revisão e estava sem nenhum transporte. Ele acabou indo de moto-taxi para a prefeitura e eu cheguei logo depois de ônibus. Passei pela Medicina do trabalho para renovar o meu exame que já tinha vencido e apresentei todos os meus documentos a tempo de assumir.
No dia seguinte ainda fui para Campinas e, como já tinha avisado que eu estava em processo de aceitação de outro cargo, tudo correu bem.
Comecei a trabalhar no cargo na semana seguinte e continuo nele até hoje.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Acidente de trabalho

Comecei a trabalhar com minha mãe em uma oficina de costura, no dia 09 de fevereiro de 2004, eu tinha cartorze anos. Minha tia me ensinou, logo de cara, a costurar com a máquina de travete: Descubra o que é isto clicando aqui.
Com o tempo fui aprendendo a trabalhar na máquina reta de uma e duas agulhas, overlock e interlock, mas dei um pouco mais de ênfase na máquina de travete, porque foi nela que eu tive meu primeiro acidente de trabalho.
Uma bela tarde, estava eu "travetando" vários pacotes coloridos de bermudas, quando percebo que coloquei uma bermuda azul sem ter tirado a linha cor de laranja, o que não seria nada fora do comum se eu não tivesse notado o erro com a máquina em movimento.
Para que vocês entendam melhor o que aconteceu, vou explicar como funciona esta máquina. Ela tem apenas um pedal, que serve para abaixar o "pezinho" e costurar. Você aperta o pedal uma vez e o pezinho desce sobre a bermuda e ao apertar duas vezes ou forte desde a primeira vez, a máquina faz toda uma costura e depois para sozinha. É quando o pezinho sobe e mudamos o local onde ela deve fazer o travete.
Eu apertei o pedal e, ao perceber que a linha estava trocada, eu tentei puxar a bermuda, mas não deu tempo. Pior ainda, a maquina puxou o meu dedo polegar da mão direita e desceu com o pezinho sobre ele. Por um milagre, saiu a linha da agulha na primeira "pancada" dela sobre meu dedo e a máquina parou de costurar e subiu o pezinho e a agulha sozinha.
O pezinho da maquina quebrou minha unha, cortando o meu dedo e era possível ver também na unha a marca do furo da agulha. Nao senti dor, creio que o meu susto foi muito maior. Meu dedo ficou latejando e eu fui até o banheiro para lavar.
Minha mãe me levou até o posto de saúde mais próximo, mas disseram que eu deveria ir a um pronto socorro. Fomos de carro com minha tia e ficamos surpresas com a reação da médica ao ver meu dedo.
Ela disse: "Você costurou o dedo? E nem trouxe a agulha? A maioria das costureiras que chegam aqui com os dedos costurados trazem a agulha para que eu tire. Do jeito que está a sujeira entrou e já saiu e então não tem risco de infecção. Hoje mesmo eu acabei de atender um senhor que brigou com a esposa e ela martelou um prego em sua cabeça. Eu fiquei chocada ao ver o raio-x."
Com o tempo minha unha foi crescendo novamente e eu pude cortá-la e ter um dedo bonitinho outra vez.

A música e eu - parte IV

Muitos vão dizer que é mentira, eu mesma não me lembro, mas se minha mãe falou é verdade. Quando eu tinha apenas 6 meses de vida, estava dormindo no berço enquanto meus pais estavam assistindo TV na sala. Do nada, escutam uma voz vindo do quarto cantando "Aleluia, aleluia..." (claro que não tão bem pronunciado) e quando entraram no quarto me viram cantando.
Frequentei os ensaios do coral de crianças da igreja desde bebê até os 9 anos de idade. Durante este tempo fiz muitos solos. Os membros do coral iam crescendo e já não queriam cantar as mesmas músicas de criança de antes. Como solução, o obreiro resolveu criar um grupo de adolescentes, Passo-a-passo.
Devido à pré-adolescencia, toda minha hiperatividade se converteu em timidez e eu passei a ter um medo enorme de cantar solos. Por outro lado, aprendi a fazer outras vozes além da primeira.
Depois de alguns anos, todo o grupo foi se desfazendo, alguns se casaram, outros já estavam grandes para o grupo, outros saíram da igreja e outros entraram para o conjunto oficial. Para que a banda não terminasse, várias pessoas passaram pela liderança do grupo e eu tive que perder o medo de cantar solos.
Quando mudamos de igreja, comecei a tocar teclado no conjunto, mas ainda sem cantar.
Uma noite, quando estávamos ensaiando, o líder de louvor sugeriu um hino e as vocalistas que estavam lá não lembravam a letra. Eu, enquanto tocava, falava a letra da música para elas. Ele me perguntou se eu conseguiria cantar a música e eu cantei. A partir daí, passei a fazer parte dos vocais da igreja.
Hoje perdi o medo de cantar. Em quase todos os meus horários livres em casa eu fico cantando músicas minhas e de outras bandas que eu gosto: The letter black, Skillet, BarlowGirl, HB, Flyleaf, Oficina G3, Roberta Di Angellis, entre outros.
Conforme disse nas últimas três postagens, eu sempre tive facilidade para aprender tocar instrumentos na prática ("de ouvido", como muitos dizem), mas nunca tinha me aprofundado em teoria. O máximo que sabia era ler e escrever cifras.
Um dia, creio que no ano de 2009, entrou um trompetista no conjunto. Com muitos anos de prática, era só a gente falar o tom que ele sabia como improvisar. Mas, para que ele pudesse ser mais fiel às versões originais das músicas, ele me pediu para escrever partituras para ele. Eu disse a ele que sabia apenas um pouco de partitura de bateria pois já tinha estudado há alguns anos, mas não fazia idéia de como escrever.
Ele se propôs a me ensinar, me deu uma apostila e eu tive algumas aulas gratuitas de como funcionava a escrita da partitura. Um mês depois, eu já estava escrevendo as partituras para ele, que me corrigia quando algo estava errado.
Na mesma época, eu estava fazendo parceria de composição de músicas com uma amiga e, para poder registrar as músicas, ela pagava caro pelas partituras. Comecei a colocar em prática o que tinha aprendido de partitura e agora eu mesma as escrevo.
Hoje estou com uma banda de meninas, onde eu toco bateria e canto. Cada uma das cinco meninas da banda também teria uma linda história para contar de como aprenderam seus instrumentos. Pude acompanhar o desenvolvimento de boa parte delas.
Se existe algum propósito para o dom que Deus me deu? Eu creio que sim. Mas deixo que todas as coisas sejam feitas no tempo dele, para que nada do que já me aconteceu até aqui se perca.

A música e eu - parte III

Quando comecei a trabalhar e comecei a ganhar meu próprio dinheiro foi a época em que mais me dediquei à música na minha vida. Tudo de forma controlada, é claro.
Um dia, no aniversário da minha tia (que era professora dos jovens da igreja na época), seus alunos resolveram fazer uma homenagem para ela, tocando instrumentos. Na pausa dos ensaios eu resolvi pegar a guitarra e fingir que estava tocando. Perguntaram para minha mãe se eu tocava e ela dizia que não, mas eu consegui enganar bem, pelo menos visualmente (ela estava desligada).
Outro dia, no ensaio do conjunto, estávamos escutando o hino que íamos tirar e eu peguei o contrabaixo para acompanhar. Não sabia tocar. Ao menos não imaginava que estava tocando de forma correta. O baixista até perguntou se eu sabia tocar e eu disse que não, porque foi involuntário acertar as notas.
Após algum tempo tocando teclado no conjunto da igreja, comecei a reparar como os guitarristas faziam os acordes e imaginei que eu conseguiria fazer o mesmo. Em 2006, decidi comprar um violão.
Minha mãe achava que eu iria gastar o pouco que eu ganhava à toa, porque ela acreditava que eu iria brincar um pouco e parar, deixando o violão estragar como o outro estragou.
Insisti e comprei. Ao chegar em casa com o violão, tendo aberto, já comecei a tocar a música "Sacia-me" do Toque no altar, com exceção do si menor, porque não sabia fazer notas com pestana. Foi o suficiente pra convencer minha mãe que eu poderia aprender.
Comecei a pedir dicas para os guitarristas, mas não conseguia fazer pestana, minhas cordas eram de aço e meus dedos não estavam calejados o bastante. Seria fácil apenas comprar um jogo de cordas de nylon, né? Mas que graça teria fazer isto justo quando eu ganharia meu primeiro 13º salário da vida?
Com o dinheiro do 13º, comprei uma guitarra, uma caixa de som, um cabo p10, uma correia e duas palhetas. E não é que deu resultado? Com as cordas da guitarra eu aprendi fazer todos os acordes que estavam pendentes. Tocava guitarra em casa e levava o violão onde quer que eu fosse.
É claro que depois eu troquei as cordas do meu violão por outras que deixassem meus dedos mais confortáveis e não fiquei especialista nisto, mas tocar violão já me rendeu muitas amizades e momentos de descontração, já que ele é mais portátil e não necessita de energia elétrica.
Quando minha avó me viu tocando guitarra pela primeira vez, ela levou um susto. Tradicional, de cidade pequena, aquilo no mínimo era coisa do cão. Acho que ela não sabe que eu sou baterista até hoje.
Por volta de 2006 e 2007, eu e minhas amigas, Dayanne e Gisele resolvemos montar uma banda. Nunca pensamos em gravar CDs, apenas passávamos metade do domingo tocando na igreja, mesmo sem platéia nenhuma. Eu tocava bateria, a Dayanne tocava guitarra e a Gisele cantava. Um dia a líder da equipe de festas nos escutou e chamou a gente pra tocar no culto de dia dos pais. Até chegar o tal culto, entraram alguns meninos na banda, eu fui pro teclado e por aí vai.
Em 2008, mudei de casa e de igreja, por causa da localização. Avisaram os obreiros de lá que eu tocava teclado e, por causa disto, ainda toco teclado lá.
Um dia, minha mãe participaria do ensaio de um coral de senhoras e estavam sem baixistas. Minha amiga, que tocava violão me ensinou a fazer as notas e lá estava eu, tocando contrabaixo para o coral.
Se tem uma coisa que eu amo fazer é ensinar o que eu sei para outras pessoas com a mesma vontade.

A música e eu - parte II

Na postagem anterior, eu disse que nunca tocaria teclado na minha vida. É como dizem: "se você cospe para cima, cai na testa!". Pois o meu segundo instrumento foi justo o teclado.
Um dia meu tio comprou um teclado de quatro oitavas e mostrou pra gente quando fomos em sua casa. Todas as vezes que íamos na casa dele, ele ligava o teclado para que eu ficasse brincando e às vezes até saía alguma coisa. Fazia o meu tempo passar mais rápido e exercitava minha cabeça.
Ao ver o meu interesse, meu tio ofereceu o teclado para o meu pai que resolveu comprar pra mim. Eu improvisava acordes com dois dedos em cada mão e acompanhava as músicas de ouvido, fazendo as notas que eu tinha inventado. Eu inventando notas de teclado e minha amiga, Dayanne, que estava aprendendo violão, ficávamos horas cantando e tocando e escrevendo músicas.
Meu pai, animado com o meu progresso no instrumento, pediu que eu tocasse uma música na igreja no dia dos pais. Eu fiquei semanas escutando aquela música pra conseguir inventar acordes para encaixar na melodia. Hoje eu sei que não estava tão longe da formação correta dos acordes, mas tocar uma música que mudava de tom três vezes sem saber tocar nada foi um tanto complicado.
No dia dos pais eu estava "pronta" para tocar (apenas aquela música), levei o meu teclado para a igreja e deixei montado. Quando o obreiro chegou, ele ficou curioso para saber de quem era aquele instrumento, porque estávamos sem tecladista no conjunto. Disseram que era meu. Ele me chamou e me fez a propósta de tocar no conjunto. Eu disse que não sabia tocar, mas ele não acreditou. Colocou a mão sobre minha cabeça e disse: "Obrigado, Senhor, pela tecladista que o Senhor nos enviou!". Pronto. Foi o suficiente pra eu sentir o peso da responsabilidade e ficar apavorada.
No mesmo dia, bem neste dia, estávamos sem músicos na igreja e o obreiro pediu que me chamassem pra tocar durante todo o culto. Como assim? Eu não sei tocar!!! Até hoje me lembro das músicas que cantaram naquela manhã...
Com a pressão de ter que entrar para o conjunto de repente, eu resolvi procurar pela minha vizinha, pedindo para que ela me ensinasse como fazer os acordes. Eu já sabia ler cifras e tinha ritmo. Eu só precisava saber como fazer cada acorde e como eles se encaixavam em cada música. Após três aulas de teclado, minha vizinha arrumou um emprego sem horário fixo e eu fiquei sem as aulas.
A partir daí eu me virei como pude e, em menos de um ano, já tocava qualquer coisa de ouvido.
Acabei deixando a bateria um pouco de lado e peguei firme no teclado. Com o tempo, vi que, assim como consegui aprender a bateria sozinha e o teclado praticamente sozinha, eu poderia aprender a tocar qualquer outro instrumento, desde que eu me dedicasse. É aí que entra a terceira etapa da minha relação com a música.

A música e eu - parte I

Desde pequena tinha curiosidade em saber como as pessoas faziam para tocar seus instrumentos musicais.
No meu primeiro ano de idade, a empresa onde meu pai trabalhava me deu um pequeno "pianinho" de uma oitava, daqueles de brinquedo. Meus pais me ensinaram a solar as musiquinhas "Dó, ré, mi, fá" e "Cai, cai, balão" e nunca me esqueci delas.
Meus pais me deram uma mini bateria de plástico e me lembro até hoje o som "maravilhoso" que faziam as peles improvisadas com sacolas e sacos de arroz.
Aos quatro anos de idade, meu pai me deu de presente um mini piano da Hering de duas oitavas, todo feito em madeira, uma miniatura de um piano de parede, com ferrinhos de tamanhos diferentes no lugar das cordas. Tenho até hoje, mas a grande maioria das teclas não funcionam mais. Durante esta época, tirava algumas musicas de ouvido, mas não sabia fazer a base ainda.
Meu pai tinha um violão que eu fingia tocar. Por mais que ele tivesse um pequeno material de estudo eu não me interessava em aprender de verdade. Ele ficou tanto tempo escostado, que entrou em contato com umidade e se despedaçou.
Brincava com violões de brinquedo, maracas de brinquedo, pianos de brinquedo, mas nunca pensei que um dia tocaria instrumentos de verdade. Por volta dos meus cinco anos eu dizia que aprenderia tocar sanfona e, graças a Deus, mudei de idéia.
Com oito anos comecei a me interessar pela bateria. Na minha opinião, é o melhor instrumento que já inventaram. É primeiramente um desafio, pois você tem que usar seus dois pés e duas mãos e, principalmente, os seus dois ouvidos e conduzir o ritmo da música. Mas eu sempre gostei de desafios, então foi amor à primeira vista.
Em um domingo de manhã, na igreja que eu frequentava, o Superintendente da Escola Bíblica começou a cantar um louvor, mesmo sem instrumento nenhum e eu fiquei me segurando. As crianças da minha idade, que sabiam da minha paixão pela bateria, começaram a me encorajar e eu fui pedir ao Superintendente para tocar bateria. Nunca tinha tocado em toda minha vida, mas parecia ser fácil.
Ele acabou deixando eu tocar. Só eu na bateria e ele no vocal. Eu achava que estava arrasando, mas pelos rostos me olhando, acho que eu não devo ter tocado muito bem, mas pra mim foi um momento muito importante.
Depois deste dia, minha sede de aprender tocar bateria aumentou ainda mais. Todo fim de culto eu me sentava nela e procurava tocar alguma coisa que eu tinha visto outros bateristas fazerem.
No ano seguinte (1999), compraram outra bateria para a igreja e, até que soubessem o que fazer com a bateria velha, eu e o filho do obreiro (que também gostava de bateria) ficávamos cada um em uma bateria tentando tocar em sincronia.
Neste ano, duas primas minhas começaram a fazer aulas de teclado com minha vizinha. Elas, as mães delas, minha vizinha e minha mãe começaram a insistir que eu também fizesse as aulas, mas minha resposta sempre foi não. Nunca gostei do teclado. Falava pra minha mãe que nunca tocaria aquela coisa parada na minha vida e minha mãe falava que era melhor que a bateria pois fazia menos barulho. Acabou que elas fizeram uns três ou quatro anos de aula e hoje nenhuma costuma tocar o instrumento.
Ainda em 1999, minha mãe começou a ensaiar o coral de crianças que eu fazia parte. E um dia, ao me ver batendo nas pernas para acompanhar o ritmo da música, minha mãe falou pra eu tocar bateria para o grupo. Com o tempo eu fui pegando o jeito da coisa e o obreiro (como se fosse um pastor local) me chamava em vários cultos para tocar "meia-lua", quando não tinham bateristas eu já era substituta. Toquei no coral de crianças durante dois anos, até que a banda foi substituída pelo playback.
Vendo que a bateria realmente era o que eu queria, meus pais pediram ao baterista da igreja que me desse algumas aulas. Estudei bateria com ele durante um ano e meio e depois ele precisou vendê-la e não teve mais como me ensinar. Estávamos no ano de 2002 onde começa mais uma etapa do meu contato com a música, que eu vou contar na próxima postagem.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O começo do fim

Após quase 4 anos de faculdade eu tinha que decicir um tema para o meu trabalho de conclusão do meu curso de Tecnologia em Informática, chamado carinhosamente de TGI (Trebalho de Graduação Interdisciplinar). Tinha uma pequena idéia do que eu queria e já tinha um orientador em mente. Antes das férias de julho de 2010, mandei um email para o meu professor falando da minha propósta de trabalho e ele disse que era uma boa idéia e que me orientaria sem problemas. Mas, se tivesse sem problemas não daria uma história interessante para contar.
Passada as férias, eu já tinha até feito minha matrícula daquele semestre, o professor me manda um email dizendo que foi informado pela faculdade que não poderia orientar ninguém naquele semestre, porque deixaria de compôr o corpo docente.
E agora? O que eu faria? Fiz de tudo pra me formar naquele ano e me acontece mais esta?
Procurei o coordenador de TGIs e contei a ele que eu tinha um tema e um orientador e, de repente, não tinha mais orientador e talvez nem tema. Ele falou quais professores da faculdade poderiam me auxiliar na área que eu gostaria, mas nenhum deles aceitou me orientar.
Falei novamente com o professor coordenador e ele me disse que naquele semestre entrariam novos professores e que eu deveria procurar um deles. Corri atrás e marquei de conversar com uma professora. Ela me disse que não poderia me ajudar com aquele tema, apenas corrigiria meu texto. Isso não me ajudaria muito, pois eu correria o risco de pegar fontes ruins e não chegar ao meu foco, mas ela disse que faria uma propósta e, se eu estivesse disposta a arriscar, eu deveria procurá-la na outra semana.
Pensei sobre o assunto e cheguei à conclusão de que eu deveria arriscar, independente do que fosse, porque tudo me levava naquela direção e era minha última chance de poder me formar naquele ano.
Procurei por ela na semana seguinte e ela me propôs fazer um trabalho para otimizar os valores da tabela de rendimento global de uma usina hidrelétrica usando algoritmos genéticos. Parece simples se eu entendesse alguma coisa de usina hidrelétrica ou soubesse implementar algoritmos genéticos. Usina hidrelétrica é a área de pesquisa dela, mas algoritmos genéticos nem ela sabia como fazer, apenas sabia como funcionava e que poderia dar certo.
Comecei, então, a ler várias teses e projetos sobre Usina hidrelétrica e Algoritmos Genéticos e em teoria tudo é muito lindo. Minha orientadora falou com o coordenador do meu curso e ele disse que não bastava eu provar pela teoria que aquilo daria certo, eu teria que fazer um programa que mostrasse isto na prática.
Após diversas complicações técnicas (que não vou citar aqui para não cansar os leitores que não gostam de informática), percebi que havia algo de errado, porque meu código estava certo, mas não rodava.
Passava horas trabalhando naquilo e não conseguia achar uma solução e, neste meio tempo, também comecei a estagiar em Campinas - SP além de estudar, o que diminuiu os meus horários livres.
Um dia de madrugada meu pai me encontrou andando pela casa e perguntou se eu já tinha me levantado e eu sequer tinha ido dormir. Cheguei a chorar. Minha mãe me disse: "Filha! Tantas pessoas não conseguem terminar o curso no tempo mínimo. Não é uma obrigação. Você não precisa entregar este trabalho este semestre. Se não der, tente no outro.", mas eu não queria ter corrido atrás daquilo durante todo um semestre para depois não ter o que mostrar. Então eu disse para minha mãe: "Eu vou apresentar este trabalho nem que seja para falar que deu errado. Mas para mostrar que eu não fiquei um semestre inteiro de braços cruzados".
Foi então que, faltando três semanas pra minha apresentação, Deus falou comigo através de duas canções: A música de introdução do álbum Frozen Inside da banda HB e a música Caminho de milagres da Aline Barros. Com esta segunda foi ainda mais interessante. Fiquei o sábado praticamente inteiro procurando uma solução para corrigir um erro e tinha até deixado de ir ao culto de jovens da igreja para conseguir terminar. Do nada eu encontrei um jeito de corrigir e decidi correr para pegar o final do culto ainda. Saí de casa cantando: "Quando o que era difícil se torna impossível, Deus começa a agir. Ele abre sempre uma porta onde não há saída. O impossível faz acontecer". E ao chegar no culto atrasada, minha mãe (que é líder de jovens) pediu para orar por mim. Me lembro que na oração ela falava muito sobre abrir as portas. Falei pra ela que tinha conseguido corrigir o erro e ela me disse: "É Deus abrindo as portas. Falei durante o culto inteiro sobre isto. Que, quando algo é impossível aos nossos olhos, Deus abre as portas para nós".
A partir deste dia tudo começou a acontecer neste projeto. Um professor da faculdade se ofereceu pra me ajudar no programa, recebia dicas dele e ele me mostrava formas mais simples de fazer a mesma coisa e eu só poderia terminar o trabalho escrito quando tivesse meus resultados. Fiz vários testes e cheguei ao meu objetivo, mas precisava de mais tempo para poder escrever um bom texto.
Este professor me perguntou qual era a data da minha apresentação e eu disse que estava marcado para 29 de novembro de 2010. Ele perguntou qual seria minha banca de avaliação e eu lhe disse os nomes. Ele parou e pensou e me disse para procurar os membros da minha banca, pois ele tinha quase certeza que um deles não estaria na cidade no dia marcado.
Falei com os membros da minha banca e me permitiram mudar a data para o dia 02 de dezembro. Ganhei mais alguns dias para terminar meu texto e preparar minha apresentação. Passei com 9,0.

Uma quase advertência

Com exceção de 1995, que eu tive alguns problemas com colegas de classe, conforme disse na postagem anterior, eu sempre fui uma boa aluna e os professores não tinham do que reclamar. Teve um dia, porém, em 1999, que as coisas fugiram um pouco do controle.
Neste dia a escola onde eu estudava resolveu fazer "O dia do pastel", que nada mais era que um recreio bem maior que daria pastel no lugar da merenda convencional. Enquanto todos os alunos da escola estavam comendo pastel tudo estava em paz, mas à medida que ficávamos desocupados a correria pelo pátio começava, surgiam brigas e gritarias, alunos caíam e se machucavam...
As inspetoras da escola, que não eram muitas, estavam perdendo a paciência e mandando todo mundo pra diretoria sem motivo algum.
No final no "grande recreio" estávamos esperando a professora substituta chegar e começamos a conversar na frente da sala (que ainda estava trancada). Uma amiga que tinha mais ou menos o mesmo "porte físico" que eu (que pesava míseros 25kg) começou a falar que ela já tinha quase 30kg e tal (coisa de criança). Eu, na minha imensa sabedoria, comecei a falar que ela só teria 30kg se a balança estivesse quebrada e, acredite, ela se sentiu ofendida com isto e me segurou pelo ombro, me beliscando. Minha prima tomou minhas dores e mandou eu reclamar na diretoria.
Lá estávamos nós na fila da diretoria (que estava bem movimentada naquele dia). Não falamos uma com a outra até que começaram a nos interrogar e contamos o que aconteceu. Ela disse que eu tinha chamado ela de magrela e eu disse que ela tinha me beliscado. Enquanto uma mulher nos ouvia a outra já estava digitando nossa advertência. E saímos da diretoria, cada uma com uma advertência que deveria ser assinada por nossos pais ou não entraríamos na escola no dia seguinte.
Quando entramos na sala de aula eu chorei tanto que a professora falou pra eu sair e tomar um ar. Saí da sala ainda com o papel na mão. Olhava para a advertência e chorava ainda mais.
A coordenadora da escola, que tinha sido nossa professora e nos conhecia muito bem, me viu chorando e se aproximou pra saber o que estava acontecendo. Expliquei toda a história e ela entendeu que era apenas uma situação normal de criança e que uma advertência era exagero. Ela pediu que eu e a menina entregássemos as advertências para ela e não tivemos mais notícias das mesmas.
Cheguei em casa aliviada e contei o que tinha acontecido. Meus pais não ficaram bravos comigo. Nem eu mesma entendia porque tudo aquilo tinha acontecido. Quase levei uma advertência por um motivo tão bobo.

Correria de 1995

Quando eu nasci, em 1990, os médicos diziam que eu teria deficiência física e mental, na qual minha cabeça cresceria além do normal e eu teria dificuldades de aprendizado e não me desenvolveria como uma criança normal. Ao escutar esta "sentença" minha mãe ficou muito triste e procurou nossos pastores para falar do diagnóstico dos médicos e minha pastora disse à minha mãe que fosse tranquila para casa porque eu já estava curada e realmente estava.
Antes do meu primeiro ano de idade eu já resmungava minhas primeiras palavras. Aos três anos eu já sabia ler e minha mãe me passava atividades de leitura, escrita e coordenação motora em casa. 
Contei este fato do meu nascimento para que o milagre que aconteceu comigo ficasse ainda mais visível ao falar um pouco sobre o meu ano de 1995.
Apenas aos cinco anos de idade que minha mãe resolveu me matricular em uma escola de Ensino Infantil, no chamado Jardim II na época, mas eu não conseguia me acostumar com aquilo. A maioria das crianças da sala não sabia ler ou escrever e eu já lia e escrevia em "letra-de-mão". Então eu me transformei na aluna mais encrenqueira da classe. Levava vários bilhetes pra casa. Eu devia ser uma espécie de criança hiperativa que não sabia como "usar isto para o bem".
Eu era uma criança normal. Só sabia decor todos os planetas do sistema solar na ordem (quando Plutão era um planeta) e todos os Estados brasileiros e suas respectivas capitais.
Após falar várias vezes com minha professora, minha mãe resolveu falar com uma professora de primeira série da escola do bairro onde eu morava. Ela disse que, pelo que eu sabia, seria fácil acompanhar a turma.
Fiquei estudando naquela escola com crianças um ou dois anos mais velhas que eu.
Um dia eu resolvi ficar de mal do meu melhor amigo da sala, o Rogério, e a briga foi feia. Ao ponto de eu pegar um lápis-de-cor preto e rabiscar uma página do livro dele. Ele ficou muito triste e eu, depois que percebi o que eu tinha feito, fiquei também. O que aconteceu foi ruim pelo meu mau comportamento, mas foi bom para que eu descobrisse o que estava realmente acontecendo.
Minha professora, ao ver o estrago, disse: "Jéssica, você não pode fazer isto! Sua matrícula ainda não foi aceita devido à sua idade, então você não pode cometer estas faltas!"
Eu não era nada boba e entendi na hora que o minha situação na escola era irregular e logo avisei os meus pais, que foram conversar com a direção. A diretora nos disse que, por eu ainda ter cinco anos, o governo não permitia que eu estudasse com crianças de outra faixa etária a não ser que fosse numa escola particular.
Meus pais se apertaram um pouco e me matricularam em uma escola particular. Fiz diversas provas de primeira série e fui aprovada em todas, mas disseram que eu deveria passar por uma psicóloga para saber quantos anos eu poderia avançar nos estudos.
Após três divertidas sessões com uma psicóloga, ela elaborou um documento que tenho até hoje dizendo que eu teria capacidade para acompanhar até duas séries acima da minha, mas que seria melhor me adiantar apenas um ano para que eu não fosse precosse na adolescência.
Fui matriculada no pré em agosto daquele ano e, a partir daí, sempre fiquei um ano adiantada na escola. Seria um mérito meu? Não. Digo que foi um milagre de Deus na minha vida que reverteu a minha situação.
 

Perseguição nipônica

Nome ridículo para uma postagem, né? Mas acho que resume toda a história.
Em 1995, estava fazendo um "teste" em uma escola de Ensino Fundamental. Eu estudava como qualquer aluno normal, precisava apresentar notas, mas devido à minha idade ainda não podia ser matriculada. Explicarei melhor o motivo de tudo isto na próxima postagem.
Mas enfim, lá estava eu na primeira série com cinco anos de idade, convivendo com crianças de seis ou sete anos.
Para que entendam um pouco, eu tenho uma prima japonesa e, na minha concepção de criança de cinco anos, todos os japoneses que existiam eram parentes da minha prima e, consequentemente, meus amigos próximos. Não demorei muito pra entender que não era assim que as coisas funcionavam, mas foi tempo suficiente pra garantir o meu mico naquele ano.
Tinham duas "primeiras séries" naquela escola e tinha uma garota japonesa na outra primeira série. Eu não fazia idéia de quem ela era ou do nome dela. Só sabia que era japonesa, então era parente da minha prima.
Era o primeiro ano que eu realmente me relacionava com crianças "da minha idade" e eu ainda não sabia lidar com a situação. Me sentia como um homem-das-cavernas andando pelas ruas em pleno século XX.
Na tentativa de chamar a atenção da "prima" eu empurava ela e suas amigas quando estavam em fila depois do recreio, acenava pra elas sem motivo algum e tinha outros comportamentos selvagens.
Até que um dia as professoras se uniram em um projeto educativo usando o filme "O Rei Leão" que era lançamento na época. Deveríamos assistir ao filme e fazer resumos, colagens e outras atividades da primeira série com as ilustrações do filme (só pra dizer que fazíamos continhas de somar com o Simba).
A menina japonesa da outra sala havia faltado quando sua classe assistiu ao filme e então assistiu junto com a minha turma. Sem tantas meninas "não-japonesas" em volta dela eu até consegui puxar assunto e descobri que toda perseguição tinha sido em vão. Ela não era parente da minha prima. Nunca sequer ouviu falar dela.
Fiquei desolada naquele dia. Descobri que os japoneses não eram todos da mesma família. O lado bom de tudo é que, depois daquele dia, eu tinha uma amiga. As amigas dela ainda cismavam comigo porque eu as tinha incomodado durante todo o ano, mas às vezes ela saía da rodinha de amigas pra me cumprimentar.

Ainda bem que eram de leite

Depois de todos os incidentes do ano de 1998 minha mãe ficou meio traumatizada com meus dentes. Tanto que, até hoje (14 anos depois), se eu vou comer qualquer coisa um pouco mais dura ou se estou no meio de uma multidão em um show de rock, ela me diz que devo tomar cuidado com meus dentes.
Este "trauma" se agravou em 2001, quando quase perdi mais dois dentes.
Fomos até a casa de minha avó que mora em Charqueada - SP na intenção de passar alguns dias por lá. Minha avó tinha uma gata de estimação que tinha um filhote não muito grande ao ponto de não parecer um filhote e não muito pequeno que não soubesse se defender.
Na noite do primeiro dia encontramos o gatinho deitado próximo a um "morro" que ficava atrás da casa da minha avó. Minha irmã ficou insistindo pra que eu o pegasse pra ela.
Cheguei perto dele com passos leves e, quando já o tinha em minhas mãos, desci do muro próximo ao morro e enrosquei meus dois dentes caninos da arcada superior no varal de arame da minha avó e caí de costas. Saí correndo em direção ao banheiro gritando: "Ainda bem que é de leite! Ainda bem que é de leite!"
Meus pais saíram correndo atrás de mim porque já imaginaram que eu estava falando dos meus dentes.
Quando olhei para o espelho um dos dois dentes estava "encavalado" (até hoje não entendo o que os cavalos tem a ver com esta espressão) e a gengiva em volta do outro dente estava machucada.
Corremos para o hospital mais próximo e o médico disse que não era nada grave e que eu deveria apenas evitar alimentos muito quentes e me passou um anti-inflamatório.
Durante aquela semana tive que reaprender meu jeito de comer com medo de que algum dos dentes caísse e na tentativa de evitar mais dor. Isto me lembra quando tive que arrancar meus dentes do siso, mas esta já é outra história.
Em poucas semanas os dois dentes caíram naturalmente e, como ainda posso me considerar normal, outros dentes nasceram no lugar e permanecem firmes e fortes até hoje.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Providência divina

Sou uma pessoa muito caseira e dificilmente faço coisas muito fora da minha rotina, o que às vezes é meio cansativo, mas tenho sobrevivido.
No começo do mês de abril meus primos estavam combinando de viajar para a casa dos meus tios. Topei sem pensar duas vezes.
Fomos em três de ônibus na noite do dia 05 de abril de 2012 e, após horas de viagem, chegamos morrendo de sono na casa cidade dos meus tios e fomos recepcionados por nosso primo. Estávamos tão cansados que rimos ao ver nossas bagagens desabando no chão (não, nenhum de nós bebe). Os outros quatro foram de carro na manhã do dia seguinte.
Após um delicioso fim de semana com minha família, decidimos que já era hora de ir embora pois tínhamos que trabalhar no dia 09 de abril. Fui de carro na volta, o que foi excelente pra que eu pudesse ver de perto a experiência que tivemos.
Após horas na pista, especialmente no trecho do pedágio, que estava completamente congestionado, chegamos em São Paulo e nosso carro começou fazer um barulho estranho até que parou no meio da marginal. Parecia estar vazando combustível.
Meus primos tinham um tio na cidade e tentaram ligar para seus pais para conseguir ajuda. Sabíamos que a ajuda demoraria a chegar e não sabíamos o que fazer já que o carro estava bem no meio do caminho.
Vimos um carro parar na nossa frente e um homem desceu para nos ajudar. Ele nos guinchou até um lugar menos movimentado do acostamento e disse que podia nos ajudar porque era mecânico. Após avaliar um pouco, ele disse que teria que trocar um cabo e que ele tinha um cabo destes sobrando.
Em questão de minutos o carro já estava funcionando novamente, pagamos uma quantia ao mecânico (que não nos cobrou nada) e voltamos para a pista.
Todo o resto da viagem foi tranquilo e chegamos bem em nossas casas.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Quem conta um conto...

Era uma sexta-feira de setembro, fazia mais ou menos um mês e meio que minha avó havia falecido e minha mãe estava mal de saúde com algumas crises nervosas e problema de pressão alta.
Eu voltei do meu trabalho de ônibus e, ao atravessar a primeira rua, fui surpreendida por um motoqueiro, que me acertou com a moto. Por Deus ele freiou um pouco e não me acertou em cheio. Caí na hora e minha visão escureceu. Segundos depois comecei a voltar a enxergar, meio embaçado e vi o motoqueiro ainda em cima da moto, gritando pra mim que eu estava errada e que ele não poderia ficar. Ele saiu e me deixou ali, completamente impotente.
Comecei a gritar que não sentia minhas pernas e braços e algumas pessoas se aproximaram de mim e me perguntaram onde eu morava e se eu havia me machucado.
Sem hesitar, disse o meu endereço e algumas pessoas em um carro foram na minha casa avisar minha família. Outras pessoas foram até o posto da guarda municipal mais próximo e chamaram ajuda.
Os guardas chamaram o resgate, enquanto controlavam o trânsito na rua onde eu estava. Pouco a pouco voltei a sentir minhas pernas e braços, mas minha cabeça ainda ardia muito. A multidão a minha volta aumentava e o tempo passava.
Ao chegarem na minha casa, minha irmã atendeu o portão. Perguntaram pra ela: "é sua irmã que deveria estar chegando a estas horas?" - ela respondeu que sim e disseram que eu havia sido atropelada e que estava deitada no asfalto, esperando por socorro. Minha irmã não sabia como poderia avisar minha mãe de uma forma que ela não tivesse nenhuma reação ruim. Ela falou: "Mãe, não é nada grave, mas a Jéssica foi atropelada. Ela está consciente, mas ainda está esperando socorro."
Minha mãe ficou muito desesperada e minha irmã falou que ia ver como eu estava. Ela saiu de casa e foi falar comigo. Minha mãe ligou pra minha tia e disse que eu tinha sido atropelada na rotatória quando desci do ônibus.  Minha tia, por sua vez, ligou pra outra tia que ligou pra outra tia...
Falei com minha irmã e ela ligou pra minha mãe pra que eu falasse com ela no celular.
Mais calma por ter falado comigo, minha mãe tomou coragem pra ir me ver na rua. Amigos e conhecidos também se aproximaram do local. Enfim o resgate apareceu.
Enquanto estavam me imobilizando para colocar no resgate, meu pai chegava do serviço e via aquela movimentação. De repente ele vê minha mãe e minha tia no meio da multidão e estranha porque nossa família nunca foi de ficar vendo acidentes.
Fui levada ao hospital e fizeram todos os exames necessários. A médica disse que eu tinha apenas cortes pequenos pela cabeça e que minha coluna cervical era uma das mais perfeitas que ela já tinha visto.
O enfermeiro disse que teria que raspar parte do meu cabelo se eu quisesse um curativo e eu preferi ficar com o cabelo. Ao sair, encontrei minha família e alguns tios e tias. Todo mundo ficou aliviado em me ver viva, saindo do hospital, andando com minhas próprias pernas... É que entre uma ligação em outra, eu já tinha sido atropelada por um ônibus na rotatória mais movimentada da cidade e meu estado era grave.
Fui até a farmácia e comprei um remédio cicatrizante e fui para casa tomar um banho. Meus pais ficaram no hospital, porque depois do susto minha mãe teve que ser medicada.
Alguns dias depois, andando pelas ruas do bairro com a minha irmã, meu vizinho começa a andar com a moto na nossa direção e a gente sobe correndo na calçada. Ele para a moto, abre o capacete e diz: "Tá espertinha agora, hein!"

Meio paralisada

Depois que crescemos, com a correria do dia-a-dia, deixamos de observar como o nosso corpo é bem estruturado e capaz de fazer tudo o que precisamos de uma forma tão simples e fácil. Até esquecemos como foi quando começamos a aprender a falar, a ler, a andar, a nos relacionar com outros seres humanos.
Tive a oportunidade de pensar no assunto em janeiro de 2010 quando tive uma surpresa pela manhã. Acordei cedo como de costume, mas ao escovar os dentes não conseguia reter a água dentro da boca. Isso mesmo! Algo que eu fazia todo santo dia e era tão comum não era possível pra mim.
Não conseguia piscar o meu olho direito, apenas com muita dificuldade, mesmo piscando o esquerdo normalmente. Não conseguia assobiar e nem sorrir, pois não tinha controle sobre metade da minha face.
Procurei um médico neurologista que disse que o que eu tinha era uma Paralisia Facial, que significa que, por um motivo que eles mesmo desconhecem, meu nervo facial direito parou de exercer suas atividades e teria que receber estímulos para voltar à ativa. O doutor disse que no meu caso não era tão forte e então ele não recomendaria estímulos elétricos. Ele me receitou algumas medicações fortes e rigorosamente controladas (além de caras) que eu deveria tomar e diminuir as doses de forma controlada até que não precisasse mais tomar ou que tivesse piorado. Ele me passou também algumas técnicas de fisioteriapia caseira que eu poderia fazer. Pressionar a sombrancelha pra baixo e a bochecha pra cima além de assoprar dois canudos em uma garrafa d'água para fazer bolinhas na água (estranho, mas eu realmente não era capaz de fazer isto).
Enquanto isso pouquíssimas pessoas da minha família e alguns amigos sabiam o que eu tinha. Se não ficassem muito tempo olhando pra minha cara não notariam.
O tempo foi passando e a medicação forte me enchia de espinha gigantes e eu tinha duas ou três vezes mais apetite que o meu pai ou qualquer adolescente em fase de crescimento.
Compus uma música durante esta fase, mas não posso postar a letra aqui porque ainda não está registrada, mas fala das minhas dificuldades e da minha disposição a seguir adiante contanto que Deus estivesse lutando por mim e me ajudando a sair desta.
Em fevereiro fomos ao acampamento de jovens. Eu e minha irmã como acampantes e meus pais cuidando de todos. Em uma das noites de oração pedi que o Senhor tivesse misericórdia de mim. Naquela manhã eu acordei assobiando e comentei com minha mãe que já podia assobiar. As meninas do meu quarto não entendiam porque eu estava tão contente com isso, mas eu, minha mãe, minha irmã, minha amiga e minha prima sabíamos que algo estava acontecendo. Chegando em casa eu já era capaz de assoprar os canudos na água e já piscava um pouco mais rápido.
Pouco tempo depois voltei ao médico que disse que eu já estava completamente recuperada.

Super Jéssica

Nunca fui muito fã da água e, até hoje, bebo porque preciso e não porque gosto. É difícil convencer minha mãe de que hoje eu bebo água depois do que me aconteceu em 1995.
Eu tinha apenas cinco anos, era bem magrinha e fiquei desidratada. Fui internada no mesmo quarto de um menino chamado Daniel que tinha caído de um caminhão e batido a cabeça.
O caso dos dois parecia ruim. Eu vomitava muito (às vezes até sangue) e mal conseguia ir ao banheiro sozinha, então acharam melhor que eu usasse fraldas. Tomava soro e ficava sempre quieta demais, passando mal. Já o Daniel tinha perdas de memória e alterações de humor. Hora ele se lembrava e queria sua mãe e hora ele gritava com ela para que ela não relasse nele.
Minha mãe revezava com minha prima Jane para cuidar de mim e a Jane confessou que orava pra que, se eu morresse, que fosse quando minha mãe estivesse por lá ou ela se sentiria muito culpada.
Um dia minha mãe chegou e não me encontrou no quarto. Viu apenas a cama vazia e o Daniel na cama do lado. O mundo desabou pra ela naquele momento, pois ela tinha certeza de que eu tinha morrido.
As enfermeiras a reconheceram e a levaram para o quarto onde tinham me transferido para que pudessem tratar o Daniel sem mais problemas e para que os gritos dele não fizessem mal pra mim.
Enquanto eu estava internada, falava com minha mãe o que eu estava sentindo e minha mãe me animava, dizendo que tudo daria certo. Minha mãe tirou a meia de um dos meus pés e disse que, daquela forma, eu era a "Super Jéssica" e enquanto eu estivesse com minha "roupa de super-heroína" eu estaria bem. Foram palavras suficientes pra que eu usasse apenas uma meia durante todo o meu tempo de internação.
Dias depois eu estava pronta pra voltar pra minha casa. Me lembro de termos passado na casa dos meus tios depois de sair do hospital e depois passamos na casa no Daniel pra ver como ele estava. Ele já não se lembrava de nós, mas estava bem.
Até hoje, às vezes, quando acordo com apenas uma meia no pé, brinco com minha mãe que devo ter virado "Super Jéssica" durante a noite.

Reaprendendo a andar

Sempre fui uma criança hiperativa que tinha que extravasar minha energia de aluma forma. Quando eu comecei a andar no andador eu não andava como todas as outras crianças da minha idade. Eu pegava bastante impulso e deixava o carrinho sair deslizando até parar.
Depois de um tempo de aprendizado, foi possível caminhar com os meus próprios pés.
Acontece que eu nasci com uma mancha negra no meu pé esquerdo, próximo ao calcanhar. Meus pais nunca acharam que podia ser algo ruim até que começaram a ouvir falar sobre câncer de pele e manchas que faziam mal à saúde.
Quando eu tinha nove anos meus pais me levaram a um dermatologista que os aconselhou que o melhor seria operar e tirar aquela pinta. Após várias consultas e triagem marcamos o dia da cirurgia. Para os meus pais nos passaram a data 10/01/2000 e na agenda do cirurgião marcaram 11/01/2000.
Chegamos ao hospital na madrugada do dia 10 e esperamos quase o dia todo. Estranhamos a demora e meus pais falaram com os enfermeiros. Ligaram para o médico que decidiu fazer a cirurgia naquele dia mesmo. Enquanto o médico está a caminho, vou comentar outro fato interessante...
Passar aquele dia no hospital foi muito bom pra que eu pudesse valorizar minha saúde. No mesmo quarto que eu estava um menino de quatro anos de idade que veio do Paraná com os pais para passar as férias na casa dos tios na minha cidade e acabou ficando com água nos pulmões. Mesmo com os drenos para tirar a água dos pulmões e as dores que evidentemente sentia, o menino estava sempre sorridente, inocente. Ele pedia pra sua mãe que comprasse "leite começado" que vendia "lá na rua certa", mas sua mãe dizia que ele não poderia comer o tal "leite começado". Espero de coração que ele tenha sido curado.
O médico chegou, fui operada com cirurgia local e tive que passar a noite no hospital em observação.
Ao sair, minha luta era outra. Ficar parada em um lugar só com apenas dez anos de idade.
Pouco mais de uma semana depois minha mãe estavam lavando o quintal e eu queria vê-la. Me levantei e fui andando até o quintal com um pé só, apoiando na parede. Mesmo assim acabei relando o pé no chão e abri uns três pontos. Meu tio, que morava ao lado, me levou até o consultório do cirurgião, que me ensinou a fazer um ponto falso. Toda esta correria aumentou o meu medo de encostar o pé no chão.
Fiquei mais algumas semanas sem andar, até que os pontos já tinham sido tirados.
Meus pais me incentivavam a tentar andar, mas o medo que os pontos se abrissem novamente era maior que a vontade de andar. Minha mãe enrolava meu pé em várias faixas de curativo e colocava o tênis pra que eu começasse a ter coragem de relar o pé no chão.
Aos poucos fui dando os meus "primeiros passos", primeiramente fazendo apenas pequenos trajetos em linha reta até adquirir um pouco mais de confiança. A época de férias estava acabando e eu tinha que começar a andar para ir para a escola.
Em fevereiro de 2000 começaram minhas aulas. Minha mãe me levou, mesmo eu ainda não conseguindo andar normalmente. Eu mancava muito ainda e às vezes perdia o equilíbrio.
Minha prima, que ia na mesma escola que eu, me ajudava a andar deixando que eu me apoiasse nos ombros dela ao andar. E, mesmo assim, para que eu alcançasse a turma, minha mãe me levou no colo até a sala de aula. Tiveram muita paciência comigo até que eu me recuperasse por completo.
Algumas semanas depois eu estava andando normalmente, depois de meses eu já estava até correndo e jogando basquete e futsal.
Ao ver minha recuperação, minha prima me disse: "sinto um vazio no meu ombro. já tinha me acostumado a andar apoiando você".

Saiba como pedir

Uma vez escutei uma história de que um homem pedia um carro para Deus da seguinte forma: "Deus, preciso de um carro. Me dê nem que sejam somente as rodas!" e na mesma semana um irmão da igreja ofereceu um jogo de rodas e pneus para ele.
Para quem ouve ou lê esta história parece bobagem, fábula ou alguma outra historinha que os crentes contam pra provar a existência do seu Deus. Mas sim, creio em Deus e coisa semelhante aconteceu com minha família.
Eu era pequena e não tínhamos um carro. Se hoje ainda é difícil ter que depender de um ônibus, imaginem há uns vinte anos atrás, quando haviam pouquíssimas linhas de ônibus e tinha que andar muito até encontrar um ponto. Meus pais decidiram que era a hora de comprarmos um carro.
Começaram a pedir um carro para Deus da seguinte forma: "Senhor, nos dê um carro. Não pedimos muito. Precisamos apenas de um transporte para ir até a igreja sede".
E Deus nos deu. Compramos um carro que só aguentava ir até a igreja, mais longe que isto ele não ia. Tentamos diversas vezes ir com ele para a casa da minha avó que fica a uma hora de onde eu moro e ele parava no meio do caminho.
Temos que ser sábios naquilo que pedimos, porque, se crermos, receberemos.

Pedindo uma casa pra Deus

No ano de 2008, meus pais receberam uma proposta de compra da nossa casa e pensaram que seria uma boa idéia, mas após avaliarmos o valor da casa, percebemos que teríamos que vender nosso carro para poder comprar uma nova, pois todas as opções que encontrávamos custavam pelo menos dez mil reais a mais, fora a documentação.
Entramos em diversos sites de imobiliárias e andávamos pela cidade anotando os números de telefone de todas as casas à venda, mas nenhuma realmente nos atraía.
Nos reuníamos os quatro (eu, meu pai, minha mãe e minha irmã) em um quarto e ficávamos comentando o que nossa casa dos sonhos deveria ter. Meu pai queria uma garagem grande, que coubesse mais carros e um espaço aberto. Minha mãe queria um telhado de duas águas, janelas por todos os lados e bastante ventilação. Brincávamos, dizendo que bem que poderia ter um espaço para plantar e eu e minha irmã queríamos um quarto para cada uma.
No final do mês de janeiro, entramos em um site de imobiliária e nos assustamos ao ver um sobrado em construção custando apenas dois mil reais a mais do que teríamos ao vender nossa casa. Meu pai ficou desconfiado se o preço estava realmente certo e, como era em um bairro novo, haviam chances da documentação não estar pronta, o terreno não estar pago...
No começo de fevereiro, eu e minha irmã fomos em um acampamento de jovens da igreja e fizemos o pedido da nossa casa em um culto de oração. No dia seguinte um milagre começou a acontecer.
Meu tio procurou meu pai e comentou sobre a casa. Falaram com o dono e toda a documentação estava pronta e aprovada pela prefeitura. A casa já estava em ponto de laje e faltavam as instalações elétricas. Toda a família aprovou e decidimos fechar negócio.
Após dois meses de construção lá estávamos nós, morando em nossa casa nova. Na nossa garagem cabem três carros (não temos três carros, apenas medimos a garagem), temos janelas por todos os lados e a casa é bem ventilada, o telhado é de duas águas e temos uma horta no fundo de casa.
Quando for pedir algo a Deus, seja bem específico, pois, se for algo para a sua necessidade que glorifique o nome dele, Ele certamente te dará. Já fizemos pedidos ruins, pensando que Deus os "transformaria" e recebemos exatamente o que pedimos. Posso contar estas situações em outras postagens.

O ano de 1998 - parte II

Parece estranho, mas, a partir do momento em que decidi contar histórias da minha vida em um blog, várias outras histórias que eu já tinha me esquecido voltaram à tona. Entre elas, coisas que me aconteceram no ano de 1998. Muitos vão ler o que estou escrevendo e falar que não é nada demais, que a vida realmente é difícil e que estas situações não podem ser consideradas boas histórias, mas eu era uma criança de oito anos de idade, cujas únicas preocupações eram a escola e a vida em família, então estes problemas pareciam ser ainda maiores do que já eram.
Um dia, um de nossos colegas de classe mais bagunceiro, André, ficou de castigo sem ter direito ao recreio e a professora ficou na sala de aula cuidando dele. Eu estudava com a minha prima na época e ficávamos juntas o tempo todo.
Durante o intervalo, minha prima teve a idéia de buscarmos algo que estava na sala de aula e fomos juntas para lá. Por uma ironia do destino, bem na hora que tínhamos entrado, a professora foi até a diretoria para atender a um telefonema e, se aproveitando da ausência dela, o André resolveu sair correndo para o pátio. Isto resultou na maior trombada da minha vida. Voei por aproximadamente dois metros. Meus óculos ficaram pendurados no pescoço e eu fiquei alguns minutos no chão, tentando entender o que estava acontecendo. Se minha prima lembra disto, deve estar rindo da minha cara até hoje.
Numa outra oportunidade, dois meninos da classe resolveram que se odiavam e que tinham que brigar depois da aula (coisas típicas de criança). Fizeram panfletos da possível luta com hora e local escritos à mão e distribuíram para os alunos da classe. Na mesma hora, a fofoqueiras de plantão começaram suas ameaças, outros começaram a agitar pra que a briga acontecesse, mas eu não estava nem aí com nada.
Depois da aula, costumávamos ficar no "montinho" (vide postagem anterior) esperando pela van que nos levava para casa e a tal briga seria bem em frente ao local.
Eu, minha prima e dois amigos estávamos juntos quando a briga começou. Minha amiga começou a gritar: "Porrada, porrada!" e os gritos não foram muito bem recebidos pelos "lutadores". Um deles, por algum motivo que ainda não consigo entender, pegou uma pedra no chão e jogou, na tentativa de acertá-la e, por erros milimétricos de cálculo, a pedra acertou minha cabeça.
Fui tirar satisfação com o garoto e percebi que minha cabeça estava sangrando. Corri para a diretoria, todos os alunos da escola que ainda estavam por lá correram atrás de mim e o pessoal da briga simplesmente sumiu sem deixar rastros.
A inspetora começou a passar álcool na minha cabeça. Eu estava desesperada. Quando as coisas fugiam do meu controle eu costumava travar, passar mal. Toda a escola estava fechando as portas da diretoria pra tentar ver o que tinha acontecido comigo e de longe se escutava minha prima gritando: "Com licença, todo mundo! Eu preciso entrar! Sou prima da vítima!".
No fim das contas, não foi nada. Cheguei em casa minha mãe lavou minha cabeça e me levou ao médico, mas foi apenas um pequeno corte. Disse pra minha irmã caçula que fiquei mais inteligente depois da pancada e ela acreditou. Por sorte não saiu batendo com a cabeça em qualquer lugar. Falando da minha irmã...
No mês de julho, no mesmo ano, estávamos de férias e estávamos na garagem do meu tio eu, minha irmã e minha prima (a prima da vítima).
Sem ter mais idéias de brincadeiras pensamos: "Vamos fazer a Jennifer (minha irmã) voar?". Quem mais poderia ter tamanha idéia e não imaginar que isto não teria um final feliz?
Segurei acima da barriga da minha irmã e minha prima segurou os pés, minha irmã apenas batia as "asas" enquanto dávamos voltas na garagem. Até que minha prima teve a brilhante idéia de "engatar a marcha ré".
Sem saber para onde estávamos indo, minha prima escorregou em uma rampa e soltou minha irmã e o peso todo ficou para mim. Resultado: fomos as duas para o chão.
Saí da garagem sem ter entendido ainda o que tinha acontecido e procurei minha mãe, que parou de costurar e levou suas mãos sobre a boca. Minha tia ficava gritando: "Não foi grande! Não foi grande!", mas eu não entendia o porquê até ver minha irmã chorando com o queixo sangrando e minha prima chorando desesperada. Fomos pra casa e, ao me deparar com o primeiro espelho, percebi que tinha perdido uns 90% do meu dente da frente (que já era permanente).
Começou então a correria entre hospital, dentista e minha mãe agustiada. Suas duas filhas machucadas e todo mundo fazendo um monte de perguntas pra ela para ver se ela não havia nos agredido. Minha prima por sua vez teve que tomar uns dois calmantes, porque se sentia culpada.
Acho que estes foram os acontecimentos de 1998 que mais me marcaram. Se eu me lembrar de outros, compartilho todos em uma próxima postagem.

O ano de 1998 - parte I

O ano de 1998 foi um ano marcante pra mim. Não por boas recordações, mas não considero um trauma.
Neste ano eu estava na terceira série do Ensino Fundamental e estudava em uma escola pública do município (que hoje nem existe mais). Achei interessante falar da escola, porque foi nela que aconteceram a maior parte destas situações marcantes em 1998.
Minha escola ficava na esquina de uma rua ainda não asfaltada (fico assustada quando passo por lá hoje em dia e vejo como o cenário mudou). Na frente da escola tinha um amontoado de areia que chamávamos de "montinho". No fundo da escola tinha um grande pátio e um refeitório e mais ao fundo a casa da inspetora, que também era caseira da escola.
Na intenção de "separar" a casa da Dona Dulce do ambiente escolar, resolveram construir um cercado em parte do pátio e, pela arte da Engenharia, cercaram o local com fios de nylon numa altura de aproximadamente 10cm. Baixo o suficiente pra ninguém ver e alto o bastante pra fazer alguém tropeçar. E lá estava eu, tendo que correr atrás de todos no "pega-pega" (como eu 'adorava' ter que correr atrás dos outros...). Todo mundo correndo pelo pátio, correram para o lado da casa dos fundos e lá se vão meus dois joelhos ao tropeçar nos fios de nylon...
Não era só comigo que aconteciam coisas assim. Um colega de classe teve que dar uns dois pontos na testa ao cair no chão molhado do bebedouro quando ele era o líder do pega-pega (brincadeira terrível).
No mesmo ano, no mês de abril, mais precisamente no dia do índio, a professora resolveu pintar os rostos dos alunos com tinta para comemorarmos a data. A grande maioria da classe ficou pintada antes do recreio onde brincamos que éramos índios e tudo mais. Após o intervalo a professora voltou a pintar os alunos, mas com a pintura que cada um pedia e, de repente, todos nós queríamos uma pintura personalizada. Lavamos nossos rostos e ficamos esperando nossa vez.
Já tinha terminado o período de aula e ainda faltava a minha pintura. O "perueiro" que nos buscava começou a nos pressionar e eu acabei indo embora sem minha pintura de índio.
Chorei tanto ao chegar em casa que minha mãe teve que usar a imaginação (espero ser tão criativa quanto ela quando tiver meus filhos). Como não tínhamos tinta em casa, minha mãe me fez uma indiazinha usando batom e creme para a pele e eu me senti realizada com uma pintura diferente de todo mundo.
Falando em "perueiro", um fato interessante que aconteceu em 1998 foi a mudança de responsáveis por nos levar pra escola. Tínhamos fechado com um casal que parou e colocou outro casal no lugar, depois foram dois irmãos e nessa nós íamos passando de mão em mão até o fim do ano. Igual no ano de 1997, que minha professora da segunda série se acidentou em março e, até que ela pudesse voltar a dar aulas, passamos por aproximadamente 5 ou 6 substitutas...
Muitas outras coisas semelhantes a estas aconteceram durante o ano de 1998 e vou contar em outra postagem, pois esta já está um pouco grandinha demais.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pânico no parque

Acreditem ou não, a primeira vez que fui num parque de diversões (com exceção do Parque da Mônica) foi aos nove anos de idade, em 1999. Fomos eu e meus primos Joyce, Thiago, Lívia e Jaqueline.
Estávamos de férias e a mais velha já tinha seus 10 ou 11 anos.
Brincamos durante horas, lanchamos, nos divertimos. Até que no fim da tarde, quando finalmente decidimos pegar a fila para o Kamikase, começou a chover. O céu começou a escurecer de repente e acabou a energia elétrica no parque. A fila dos telefones públicos estavam gigantescas e não havia outra forma de chamarmos nossos pais, porque não era como hoje que é tão comum ter um celular.
Joyce e Jaqueline foram para a fila do telefone público embaixo de chuva e eu fiquei com os outros dois, mais novos que eu, na portaria do parque.
Ao ver que a chuva aumentava, meus pais tentaram sair de carro para nos buscar, mas ficaram ilhados. Joyce conseguiu falar com o pai dela que prometeu nos buscar, mas sua demora começou a nos preocupar, mas é que a chuva tinha feito um buraco no Anel Viário, o que dificultou no seu percurso até o parque.
Para piorar, uma amiga de Jaqueline que também estava no parque chega desesperada procurando seu irmão e várias pessoas começaram a procurar por ele, sem imaginar que ele estava se abrigando no banheiro do parque.
No fim das contas, o meu tio chegou e nos levou para casa. Chegamos molhados e assustados.
Hoje, esta é mais uma das histórias que lembramos e rimos quando estamos juntos.

Pedindo apenas uma vez

No ano de 2006 eu estava terminando o último ano do Ensino Médio. Ano de decisões, de término de uma nova etapa e início de outra. Ainda não tinha decidido qual carreira seguir e nem onde estudar, mas não poderia sonhar muito porque eu não trabalhava e meus pais não tinham como bancar uma faculdade cara.
Em fevereiro daquele ano eu fui a um acampamento de jovens da minha igreja e, em uma das reuniões eu fiz um propósito de que pediria a minha faculdade para Deus apenas uma vez e ao sair apenas agradeceria pela bênção que acreditava receber.
Durante aquele ano surgiram oportunidades de conseguir isenção no vestibular de várias faculdades, inclusive na Unicamp, mas creio que minha fé ainda não era o bastante para enxergar os propósitos de Deus e eu achava que seria sonhar demais.
Chegou a época de fazer as inscrições para vestibular e eu me inscrevi em duas faculdades particulares.
Nas eleições do mês de outubro minha mãe encontrou uma amiga que não via há muito tempo e, entre uma conversa e outra, sua amiga disse que eu deveria tentar o vestibular da Unicamp, que também era o sonho do filho dela e que ele iria tentar.
Minha mãe chegou em casa e me falou que eu deveria tentar. O máximo que poderia acontecer era eu não passar, mas eu não poderia perder esta oportunidade.
Fiz minha inscrição e comecei a correr atrás dos livros de leitura obrigatória, estudei um pouco de história e biologia pra recordar e fiz o vestibular.
Como muitos sabem, o vestibular da Unicamp se divide em duas etapas. Uma em novembro e outra em janeiro. Depois daquela bateria de provas minha mãe me aconselhou a fazer minha matrícula em alguma das faculdades particulares que eu tinha tentado até que saísse o resultado da Unicamp.
No dia 22 de janeiro de 2007 comecei a estudar em uma faculdade particular e até acreditei que pudesse ser a resposta de Deus, pois estava dentro do que eu podia pagar, mas na semana seguinte as dúvidas de que aquele era a área que eu queria seguir começaram a surgir.
No dia 06 de fevereiro de 2007 saiu a primeira chamada de aprovados da Unicamp e, qual não foi a minha surpresa ao ver meu nome na lista?
Em 2010 terminei o meu curso de Tecnologia em Informática e era exatamente o ano em que minha irmã terminaria o Ensino Médio. Minha tia falou pra minha mãe guardar dinheiro, porque Deus deu a faculdade para uma, mas para as duas?
E, graças a Deus, hoje minha irmã também estuda na Unicamp e Ele tem suprido todas as nossas necessidades e nos dando forças para alcançar nossos objetivos, por mais distante que pareçam estar.

Estamos ricos!

Quando eu era pequena, com mais ou menos quatro ou cinco anos de idade, meu pai ficou muito doente e perdeu o emprego. Minha mãe também não trabalhava na época, porque tinha que cuidar da minha irmã que ainda era um bebê.
Independente da situação que estávamos passando as contas continuavam chegando e chegando e tínhamos que nos "apertar" para conseguirmos viver com dignidade. A família ajudava com roupas e comida, o que já era uma preocupação a menos. Nossas compras eram apenas de leite para as crianças, arroz e o básico.
Minha mãe nunca me escondeu que não podíamos comprar qualquer coisa e ainda era criticada pelas pessoas, que diziam que nós cresceríamos traumatizadas por saber que a vida não era fácil e descobrir a realidade que vivíamos tão cedo.
Descoberta a doença do meu pai, ele passou por uma cirurgia e foi se recuperando aos poucos. Encontrou um emprego, não tão bom quanto o que tinha mas com o suficiente para nos reerguermos.
Nossa primeira compra após a recuperação do meu pai nos marca até hoje. Me lembro de estar com eles neste dia, ainda pequena. Comecei a ficar assustada com a quantidade de produtos que meus pais colocavam no carrinho de compras e perguntava a cada corredor: "Mãe, nós vamos conseguir pagar isto tudo?" - e ela me respondia com segurança: "Claro que sim. Fique tranquila!"
A compra aumentava e eu, ainda assustada, repetia a mesma pergunta várias e várias vezes e ouvia as respostas positivas da minha mãe.
No final de tudo, minha mãe me disse que eu e minha irmã podíamos pegar um daqueles suquinhos que ficavam em embalagens de bichinhos, deviam custar uns cinquenta centavos na época, mas foi o suficiente para que eu ficasse completamente realizada, saltitando pelo supermercado e gritando várias vezes: "Estamos ricos! Estamos ricos!"
E de fato estávamos. Não ricos financeiramente, mas ricos em amor, união e cuidado de Deus.