terça-feira, 22 de julho de 2014

Artista ou arteira?

Eu sou alguém que sempre gostou de usar a imaginação. Sempre usei meus brinquedos para inventar outras brincadeiras diferentes das brincadeiras pelas quais eles foram criados.
Acho engraçado como as crianças de hoje perderam um pouco desta vontade de inventar coisas. Certa vez, há alguns anos, uma prima minha ainda com 5 anos de idade chegou pra mim com uma calculadora que não funcionava. Ela apertava os botões e colocava a calculadora na orelha como se esperasse ouvir alguma coisa, vendo que não dava certo, ela me entregou a calculadora e disse pra eu tentar. Na hora eu não me toquei que ela queria fazer o aparelho funcionar, mas imaginei que ela estava brincando de telefone celular. Peguei a calculadora, coloquei próxima ao ouvido e disse "Alô!". Imediatamente, minha prima pegou a calculadora da minha mão e me disse: Você não viu que isto é uma calculadora? Isto não faz ligações!
Outras vezes lembro de quantas vezes ficava horas sozinha fazendo um boneco conversar com outro, mesmo sabendo que eu mesma teria que criar as possíveis respostas do diálogo. Uma boa parte das crianças de hoje não sabem mais o que é isto. Preferem bonecas com frases prontas, aplicativos de celular que fazem coisas diferentes e que respondem às suas ações...
Até a adolescência, eu criava histórias em quadrinhos com personagens que eu inventei. Era a Turma da Dinny. Eu fazia pequenos gibis onde eu desenhava as histórias que eu escrevia, pintava e passava para meus colegas de classe para que eles pudessem ler e dessem suas opiniões. Criava calendários, posteres, todos feitos à mão e meus colegas compravam ou os presenteava.
Até os meus 10 anos de idade, mais ou menos, minhas professoras de Educação Artística diziam que eu desenhava bem, mas que tinha um sério problema na pintura. O que acontecia muitas vezes é que eu enchia as folhas de desenhos a cada atividade e depois ficava desanimada de pintar tudo aquilo. Outras vezes eu me desentendia com os lápis-de-cor. Se existia alguém que sonhava com um jogo de lápis-de-cor aquarela era eu. Eu ficava fascinada quando assistia na propaganda uma criança espalhando com um pincel o pouco de lápis que tinha passado na folha. Quando tive me decepcionei. Os desenhos não ficavam com cores vivas e fortes como os do comercial. Foi aí que eu me descobri no giz-de-cera. Sou fã de quem inventou o giz-de-cera. Você pinta os desenhos apenas respeitando os limites de cada parte dele e tira os exceços com a régua. Pronto! Ali estavam todos os meus desenhos pintadinhos a partir daquela descoberta.
Certa vez uma professora me deu umas folhas e me pediu para desenhar todos os alunos da minha classe do primeiro ano do ensino médio. Fiz os desenhos, mas até hoje não tive a oportunidade de entregá-los. Ela se aposentou e não voltei a vê-la.
Durante minha adolescência, escrevia poesias. Cheguei até mesmo presentear amigas com poesias personalizadas. Outra coisa que sempre gostei foi de escrever músicas, criar arranjos e brincar com elas.
Às vezes usava minha imaginação para outros fins não tão artísticos. Já cheguei a levar bronca da minha mãe por ter gastado todo o detergente de uma só vez enquanto brincava que eu tinha uma loja de sucos, bebidas e refrigerantes, enquanto lavava a louça... Já cheguei a fazer minha irmã comer pó-de-café com os olhos vendados até adivinhar o que era, mas ela não conseguiu adivinhar... Já cheguei a passar trote na minha própria casa, inventando um amigo de infância da minha mãe...
Hoje, no auge dos meus 24 anos, não tenho tanto tempo quanto tinha quando criança, nem tantos momentos de pura utopia, mas tento na medida do possível, impedir que a imaginação se atrofie e morra.