sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Caminhando às cegas

Quando somos crianças até as coisas mais improváveis nos atraem. Brincava que usava aparelho com clipes e achava o máximo as pessoas terem que usar óculos. Tudo isso é legal até acontecer com você.
Comecei a sentir algumas dificuldades para enxergar as coisas que estavam próximas de mim desde pequena. Em janeiro de 1998 fui para o oftalmologista pela primeira vez (estou meio na dúvida, mas acho que foi no dia 20). Fora aquele colírio que parece que arranca seus olhos fora, a experiência foi muito divertida e passei a usar óculos desde então.
Periodicamente, eu ia verificar se o meu grau havia aumentado ou diminuido e, em uma dessas vezes, minha mãe foi consultar também.
Após o colírio, nenhuma de nós duas enxergava nada. Saímos para as ruas do centro da cidade enxergando apenas borrões. Entramos numa loja para comprar algumas coisas e as pessoas ficavam ofendidas quando a gente perguntava o preço que estava escrito nos produtos, como se estivéssemos curtindo com a cara deles, mas na verdade mal nos reconhecíamos. Não conseguíamos saber nem qual ônibus estava vindo e perguntávamos para as pessoas, que achavam que éramos idiotas.
Já cheguei várias vezes a descobrir que estava usando óculos apenas quando entrava embaixo do chuveiro ou quando sentia um incômodo ao dormir.
Aos 16 anos de idade o oftalmologista disse que eu não precisava mais de óculos, mas hoje sinto que estou precisando usar novamente...
Com o aparelho foi ainda pior. Comecei a usar aos quinze anos de idade. A dentista me deu a opção de usar fixo ou móvel e eu, não sei onde estava com a cabeça, escolhi o fixo (talvez por causa das borrachinhas coloridas, mas isso não é tão legal depois de um tempo).
Um dia antes de uma de minhas manutenções mensais, perguntei a uma amiga que cor que eu poderia escolher para a borrachinha daquele mês. Ela me disse "verde claro". Fui para a dentista e ela me perguntou se eu já tinha uma cor em mente e eu disse "verde claro". Quando ela já estava colocando as borrachinhas nos meus dentes ela me disse que as borrachinhas daquele mês seriam diferentes. Quando terminou e eu olhei para o espelho, parecia que eu tinha estourado chiclete de hortelã no aparelho inteiro e meus dentes estavam completamente verdes, pois a borracha era muito maior e trançava os "brackets".
Cheguei no dia seguinte na escola evitando ao máximo abrir a boca. Quando vi minha amiga disse que ela me pagaria por aquilo. Nunca fui vingativa e nunca a cobrei por isso. Nos outros meses passei a perguntar que espécie de borrachinha ela iria colocar e escolhia as cores mais discretas possíveis.
Até que, com o tempo, meus dentes já estavam corretos, mas a dentista disse que só tiraria o meu aparelho se eu arrancasse os dentes do siso. Tentei arrancar na FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba) e até hoje não marcaram minha extração. Com a demora, eu estava pagando meses de manutenção à toa e fui conversar com a dentista inconformada. Disse que era melhor que ela tirasse o meu aparelho pois eu estava pagando pela espera da extração. Então ela me disse que, até que eu pudesse extrair os dentes, ela não cobraria na manutenção e eu poderia juntar dinheiro para uma extração particular.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Meu pai, um milagre vivo

Meu pai nasceu numa família pobre, quase nômade que tinha vários filhos. Meus avós percorreram o Brasil trazendo mais vida para o país. Tenho tios da Bahia, de Minas, de São Paulo, do Paraná...
Desde pequeno viu seus pais trabalhando na roça e começou a trabalhar muito cedo e seu maior sonho era ser motorista. Ele via os ônibus, tratores e caminhões e seus olhos brilhavam.
Ainda pequeno, ele desenvolveu uma doença (que não faço idéia do nome) que entupiu as veias de suas pernas e o sangue não circulava normalmente. Suas pernas começaram a ficar em carne viva. Com vergonha das outras crianças, ele ia para a escola usando meias 3/4, que davam muito trabalho na hora de tirar, por causa das feridas que não cicatrizavam.
Decidiram interná-lo, mas não existiam muitos recursos na medicina há quase 40 anos atrás e os médicos disseram à minha avó que meu pai tería que amputar suas duas pernas.
Minha avó não aceitou e pediu que os médicos esperassem mais um tempo. Naquela semana, uma igreja estava fazendo um culto ao ar livre onde oraram por minha avó enquanto meu pai estava no hospital. Algum tempo depois, as feridas das pernas do meu pai começaram a cicatrizar e por baixo nasceu uma nova pele (fina e enrugada, mas sã) e meu pai não precisou amputar suas pernas.
Ele cresceu, tirou carta de motorista e hoje é um motorista habilitado com Carteira Nacional de Habilitação D e já trabalhou com ônibus, caminhões, etc.
Quando eu era ainda muito pequena, meu pai teve apêndice estuporado e teve que ser levado às pressas para o hospital. Quase perdi meu pai, mas ele reagiu.
No ano de 1994, ele começou a perder muito peso. Tinha crises de esquecimento (chegou a estacionar o ônibus com passageiros na frente de casa) e apenas dois anos mais tarde foi possível descobrir o que ele tinha e tratar. Era problema na tireóide (glândula hormonal) e os médicos acharam melhor removê-la. Até hoje ele precisa tomar remédios para regular os hormônios.
Mais tarde, ele tería duas hérnias. Durante a cirurgia, talvez por causa na operação que ele fez no pescoço, não conseguiram entubá-lo, mas já tinham aplicado a anestesia geral.
Os médicos não sabiam se continuavam na tentativa de colocar o tubo de oxigênio ou se o forçavam a acordar. Aplicaram vários medicamentos para tentar tirar o efeito da anestesia e ele ficou de observação.
Felizmente, ele despertou e conseguiram fazer a cirurgia numa outra tentativa.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Meu pequeno Zoo - parte II

Um belo dia, depois de passarmos um tempo sem ter nenhum animal de estimação, meu pai chegou com a notícia de que seu colega de trabalho estava doando filhotes de poodle. Ficamos super animados e, um dia, ao sair da escola, combinei de ir com meu pai escolher meu novo cachorro.
Ao ver os filhotes, me apaixonei imediatamente por uma cachorra branca com duas manchas champagne no focinho. A levamos para casa numa terça-feira.
Naquela semana, não muito longe de casa, estava acontecendo uma festa do peão. Conseguíamos ouvir tudo o que acontecia sem precisar sair de casa. Foi uma semana difícil pra dormir. Com um bebê chorando durante a noite, dividia minha noite entre perder o sono cuidando dela e ouvindo a festa do peão. Me lembro que na sexta-feira consegui ouvir o show completo do grupo Capital Inicial enquanto estava sentada no quintal com minha cachorrinha no colo. Até o guarda noturno ficou preocupado quando passou na frente da minha casa e me viu acordada no quintal.
Minha mãe teve uma idéia genial de mandar um urso de pelúcia velho e uma coberta para o dono dos pais dela para deixá-los com o cheiro dela e, nos outros dias ela dormia com o urso. Até que ela cresceu um pouco e o despedaçou no quintal.
Cerca de 7 anos depois, ela começou a ficar inchada, parou de comer e bebia muita água. Ela gemia durante a noite e resolvemos deixá-la dormir dentro de casa para que eu pudesse cuidar dela. Seu olhar parecia sempre cansado e achamos que a perderíamos. Os veterinários fizeram alguns exames e descobriram que ela estava com um problema no fígado.
Depois de vários medicamentos, consultas e rações especiais que minha tia nos ajudou a conseguir, ela finalmente se recuperou por completo. Os médicos se assustaram ao ver como ela estava hiperativa em vista do animal molenga e doente que foi na primeira consulta.
Hoje, aos 10 anos de idade, ela ainda é uma excelente companhia e foi minha melhor cachorra até hoje. Ela é enorme e faz coisas muito curiosas como bater na porta com uma das mãos quando quer entrar ou sair de algum cômodo, pedir comida, pedir companhia para a comida e saber quando é domingo (dia dela passear nas ruas com a gente). Na hora de dormir, ela vai para o meu quarto mesmo que eu não esteja lá.
Em 2008 minha irmã ganhou um peixe Beta do meu ex-namorado. Ele era um fofo. Deixava até que a gente fizesse carinho em suas barbatanas. Cerca de um ano depois, ele começou a ficar tão inchado que perdeu sua coloração azul, respirava com dificuldade, até que morreu. Eu estava na frente do aquário nesse momento...
Para consolar minha irmã, em seu aniversário minha tia deu uma tartaruga pra ela. Ela é bem rápida e esperta para uma tartaruga. Certa vez, a colocamos no fundo de casa (onde tem plantas e terra) e ela escalou cerca de meio metro do muro. Outra vez a deixamos passear dentro do dômus que tem dentro de casa e, em questão de segundos, ela saiu e estava descendo as escadas. Ela nos deixa fazer carinho em sua cabeça e nos pede comida.
No dia das crianças do ano de 2010, meus pais foram até uma loja no centro da cidade onde estavam dando pequenos peixinhos dourados para as crianças. Perguntaram para meus pais se eles tinham crianças e eles disseram: Sim. Temos duas. Uma de vinte anos e a outra de dezesseis. Então eles levaram dois peixinhos para casa. Eles eram tão pequenos que era possível ver o que tinha por dentro. Colocamos os dois num mesmo aquário, mas percebemos que o menor não deixava que o maior comesse. Mesmo tendo separado os dois, o maior não resistiu. O menor, porém, está vivo até hoje. Arrumamos um aquário maior para ele e ele cresceu bastante. Já deve ter quase 4cm de comprimento.
Em 2011, com a perda da minha avó, estávamos todos muito abalados e, talvez na tentativa de nos distrair, o namorado da minha irmã comprou uma calopsita. Cuidar dele foi uma terapia para minha mãe e a ajudou a se recuperar das crises nervosas que estavam acontecendo com ela. A calopsita gosta de todos, mas a minha mãe se tornou a pessoa mais querida pra ele. Ele a chama de mãe e, ao ouvir a voz dela, sai de onde está e vai à sua procura. Deixamos um tronco de uma árvore seca em um vaso e ele fica por lá, desce quando quer fazer alguma coisa, fica empoleirado em nossas bicicletas (lugar onde ele mais gosta de cantar).
Há um mês, mais ou menos, meu pai encontrou um ninho em cima de casa com dois filhotes de pombos. Feios, carecas e famintos. Não podíamos deixar que morressem. Então os guardamos em um balde grande e dávamos rações para filhotes de aves na seringa. Montei com alguns tijolos, uma casinha no fundo de casa, mas minha mãe tinha medo de deixá-los sozinhos por lá. Eram muito pequenos.
Eles choravam pedindo comida quando chegávamos em casa e os alimentamos com esta ração até que eles começaram a aprender a comer sozinhos. A partir daí, eles acabaram se abrigando por conta própria na casinha que eu construí. Hoje, minha mãe parou de alimentá-los porque isto estava atraindo outros pombos. Eles já fizeram amizade com os pombos de rua e ficam quase o tempo todo fora de casa, mas de vez em quando ainda voltam e ficam andando nos fundos da minha casa. É fácil identificá-los porque eles não têm olhos vermelhos como os outros pombos e não se assustam quando estamos por perto.
Há algumas semanas, meu pai decidiu criar pintinhos. Comprou dois. Eram muito pequenos e não paravam quietos. Um deles minha cachorra matou (não sei se por acidente ou não), mas passamos a manter os pintinhos longe dela. Minha irmã, por acidente, abriu a porta de casa sem saber que o outro pintinho estava atrás e ele quase perdeu suas patinhas. Mas, alguns dias depois, meu pai acabou pisando nele e ficou muito triste.
Cerca de uma semana depois, eu e minha irmã resolvemos comprar outros quatro pintinhos. Estes já estavam maiores e mais espertos. Durante o dia eles ficam andando no quintal dos fundos e durante a noite dormem numa gaiola que era da minha calopsita na época que minha mãe o levava para o trabalho.
Na última semana, dois dos pintinhos ficaram inchados, não comiam e bebiam pouca água. Na hora em que vi, percebi que eles não estavam conseguindo fazer suas necessidades fisiológicas. Na dúvida entre tentar salvá-los e deixá-los morrer, decidimos dar remédio para tratamento gastrointestinal para os dois e no dia seguinte eles já estavam bem.

Meu pequeno Zoo - parte I

Desde pequena, sou muito apegada aos animais. Admiro o fato de poder existir uma troca de carinho entre espécies completamente diferentes.
Quando pequena, eu tinha uma cachorra vira-latas. Não me lembro muito dela, mas me lembro de como a perdi. Pelo que eu entendi, meus pais a encontraram e adotaram e, com o tempo, a suposta antiga dona apareceu na minha casa acusando meus pais de roubo, dizendo que os denunciaria na rádio da cidade.
Eu ficava assustada, não sabia o que era denunciar, mas sabia o que era rádio e não parecia bom mandar meus pais para lá... (eu acho)
Meus pais, sem saber como reagir, devolveram a cachorra para aquela senhora. Cheguei a ter pesadelos com ela. Algumas vezes a cachorra aparecia na frente da minha casa, mas tínhamos medo de dar comida ou levá-la para dentro novamente. E se a tal mulher levasse meus pais pro rádio? O que seria de mim?
Passado um tempo, meu pai conseguiu um outro vira-latas, filho da cachorra de estimação da minha tia. Dele eu tenho mais lembranças. Ele era preto e tinha a barriga e as patas dianteiras brancas. Mas, como na época meu pai não gostava muito de animais e não tínhamos muito conhecimento de como tratar o surgimento exagerado de carrapatos, meu pai o levou para a adoção.
Passado um tempo, meu pai ganhou um filhote de cachorro. Ela ainda era muito nova quando um cachorro de rua entrou e a engravidou. Sem ter juízo nenhum, ela deitava em cima de seus filhotes por ter ciúmes da sua coberta de dormir. Até tentamos salvar alguns, mas não teve jeito.
Um dia ela foi pra rua e sumiu...
Então uma irmã da igreja me deu um outro filhote. Cuidei dele por um bom tempo. Até que ele começou a aprontar com o carro do meu pai. Ele entrava embaixo do carro e destruía os cabos e fios e meu pai começou a ter muito prejuízo. Então a mesma irmã disse que havia uma menina que estava doente porque não tinha um cachorro e me convenceram a doar o meu para ela. Eu fiquei inconformada. A menina tem que ter um cachorro e eu não? E se eu ficar doente? Ela vai me devolver?
Depois que doamos o cachorro, mesmo eu estando contrariada, eu ainda fui visitá-lo umas duas vezes. Morri de raiva daquela família e daquela "menina mentirosa" (que era como eu a chamava) depois que vi que eles tinham outros cachorros e que meu cachorro estava preso na coleira. Como assim? A menina tem um monte de cachorros e fica doente porque quer o meu? Acho que hoje eu a perdoei. Nem sei mais quem ela é. Para quê ficar alimentando isso? Fazem mais de 13 anos. Quem me garante que o meu cachorro ainda esteja vivo?
Passado um tempo, meus vizinhos me ofereceram um cachorro e meus pais acabaram me deixando cuidar dele. Ele era muito desajeitado e não conseguia controlar as próprias orelhas (às vezes olhávamos para ele e as duas orelhas estavam viradas para o centro da cabeça).
Ele era bravo com quem ele não conhecia e ficou bastante grande. Chegou a ser papai dos filhos da cadela da vizinha da frente e foi uma ótima companhia durante o tempo que ficou conosco, até que em uma noite estávamos assistindo televisão e o escutamos latir no portão como ele sempre fazia. Alguns minutos depois, ele estava babando e cambaleando pelo quintal. Não sei se foi envenenado ou se ele desencadeou algum tipo de stress ou problemas mentais. Isto vai ser sempre um mistério.
O levamos várias vezes ao veterinário, mas ele tinha cada vez mais crises de convulsões e começou a se ferir trombando com as paredes e tudo mais. Resolvemos amarrá-lo na coleira em um lugar mais seguro ou ele se mataria de tanto esbarrar nas coisas. Sei que foram várias noites que ficamos sem dormir, porque não conseguíamos ficar sossegados com nosso cachorro tendo tantas crises no quintal. Ele caía e escorregava tanto, que já não conseguia ficar muito tempo em pé e suas patas estavam machucadas.
Meu pai conversou com os veterinários, que disseram que ele não tería cura e acabaria morrendo de tanto se bater e nos aconselharam a mandar sacrificá-lo.
Foi muito triste saber que ele morreria de qualquer jeito, mas era ainda mais doloroso assistir à sua morte gradativa no nosso quintal, como se fosse um tipo de tortura.
Tínhamos vendido nosso carro na época, então meu pai saiu pela manhã, caminhando com o cachorro doente até o Instituto onde ele seria sacrificado. É meio triste de lembrar. Minha irmã ficou dias levando uma foto dele para a escola. O lado bom de tudo isto, é que meu pai acabou pegando um certo carinho por ele, o que mudou a visão que ele tinha a respeito dos animais de estimação e nos motivou a chegar a uma nova etapa, que vou falar na próxima postagem.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Viajando para Baurú

Era julho de 1996. Época de férias. Me lembro do dia como se fosse ontem. Logo cedo, meus pais me levaram ao posto de sáude para fazer exame de sangue. Nunca fui de fazer manha, mas ao chegar em casa fiquei deitada no sofá porque me sentia um pouco fraca (pode ser algo relacionado com o fato de que eu nunca fico bem quando vejo sangue e isto foi um ponto decisivo para que eu não cursasse medicina).
Me lembro que a sala estava toda revirada, minha mãe estava fazendo faxina e eu não me lembro bem qual dia da semana era, mas sei que não me lembro do meu pai estar em casa.
 De repente, o telefone toca. Não fui atender. Eu estava morrendo no sofá, sem nenhuma perspectiva de levantar nos próximos meses. Minha mãe atende e começa a falar que eu não estava muito bem. Fiquei curiosa para saber com quem ela estava falando. Ela se virou para mim e disse que minha prima ia viajar para a casa de seus tios em Baurú e perguntou se eu queria ir com ela.
Fui curada instantaneamente e minha mãe me deixou ir. Começamos a correr para arrumar as malas e fui para a casa da minha prima. Ela começou a me falar de muitas coisas legais que nos aguardavam: a tia dela fazia umas comidas japonesas, o tio dela levaria a gente no buteco (que eu não fazia idéia do que era, mas a idéia de visitar o desconhecido já me empolgava).
Fomos viajar. Quando chegamos, nos alojaram em um quarto com uma cama de casal e um colchão ao lado. Minha prima deitou no chão e eu dividi a cama com minha tia.
Mais tarde, o tio da minha prima nos levou a um barzinho do bairro e comprou um monte de doces, balas e chicletes pra gente, demos umas voltas e voltamos. Ao chegarmos, não pude esconder que estava pensando em algo. Minha prima me perguntou qual era o problema e eu disse que achava que íamos para o buteco. Ela riu e disse, nós já fomos. Foi lá que meu tio comprou os doces. Fiquei meio chocada na hora e perguntei: então o buteco é um bar? Me responderam que sim e ficaram curiosos pra saber o que eu pensava que fosse e eu disse que achava que era um barco, tipo uma navegação pirata mesmo.
Ficamos horas e horas brincando com o vizinho dos fundos até que começou a ficar tarde e entramos para tomar banho, comer, assistir TV e dormir. Naquela noite passaria o filme do porquinho Babe, mas como não estava acostumada a dormir tarde, fui deitar na cama na metade do filme. Todos estavam acordados e as luzes estavam acesas.
No meio da noite, acordo assustada. Tudo está tão escuro. Chamo pela minha tia e digo que não consigo enxergar as minhas mãos. Na hora ela entendeu que eu devia ter problemas com o escuro e foi acender a luz do corredor. Foi o suficiente para eu correr até o banheiro, usar e voltar a dormir tranquilamente.
No dia em que iríamos embora, o tio da minha prima deu uma sandália cor-de-rosa pra ela e eu fiz o maior bico (não sei o que me deu. Nunca fui de pedir nada pra ninguém). Todos começaram a rir de mim e me deram uma sandália roxa. Fiquei muito feliz, mas a partir deste dia, fiquei conhecida como "Bicuda" por lá.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Treinando a memória

Algumas pessoas se assustam quando eu começo a comentar sobre hitórias de cerca de quinze anos atrás como se fosse ontem, então criei este blog.
Sempre gostei de memorizar coisas. Até hoje sei todas as falas da história "Natal rural" do gibi do Chico Bento da Edição 180 de dezembro de 1993. Devo tê-lo guardado até hoje, mas não preciso de cola para me lembrar das falas e seus respectivos personagens.
Quando pequenas, eu e minha irmã éramos "viciadas" nos filmes "As namoradas do papai" com as gêmeas Olsen e "Olha quem está falando agora" com Kristie Alley e Jhon Travolta. Tínhamos gravados em fitas de vídeo (pra você que não é desta época, é o que usávamos antes de existir o DVD) e sabíamos todas as falas. Certa vez nós atuamos o filme das gêmeas inteiro em casa, com direito à caracterização dos personagens.
Uma coisa que eu gostava muito na adolescência era poesia. Eu escrevia meus próprios poemas e lia livros de literatura brasileira, mas tinha uma certa dificuldade para decorá-los.
Foi então que eu tive uma idéia. Minha tia me deu um rádio gravador de fitas de áudio (e, novamente, você que não é desta época, isso é o que usávamos antes da popularização do CD). Com este rádio, eu gravava todas as poesias em forma de música, cada uma com sua melodia e ritmo, que iam de pop a rock.
Tendo decorado as "músicas", em pouco tempo eu já tinha aprendido todos os poemas, os quais sei até hoje e muitos são relativamente grandes.
Na igreja eu sempre gostei de participar dos teatros e sabia as falas de todos os personagens, mesmo das peças que eu não atuava.
Aos dezoito anos, comecei a frequentar aulas de teatro, porque eu gostava e porque queria perder um pouco da timidez que adquiri na pré-adolescência.
Em algumas aulas a professora pedia que levássemos poesias para interpretar. Eu já tinha várias em meu "banco de dados" e só precisava me preocupar com a interpretação.
Fui convidada pela professora de teatro para participar da peça de uma outra turma. Fiz vários amigos, pois a peça contava com 13 atores, contando comigo, onde 12 eram meninas.
Meu personagem não era tão grande, mas isso colaborou para que eu conhecesse as falas das protagonistas e as ajudasse a lembrar quando necessário. E foi necessário. O diretor da escola pediu que gravássemos todas as nossas falas em estúdio e passamos a véspera da apresentação fazendo isso. Fizeram a maior confusão na hora de editar e não tivemos como utilizar. O jeito foi fazer a peça e as personagens menores davam alguns toques para as personagens maiores. Mesmo com tantos imprevistos a peça ficou muito boa e ainda nos dá saudades.
Hoje minha memória está menos congestionada. Minha mãe disse que eu tinha que comprar uma agenda. Comprei, mas não uso... Tenho gasto minha memória, escrevendo o blog e armazenando letras de música, tons, etc.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O maior frango

Eu nunca tive vocação para ser goleira! Isso não é bem um desabafo, mas é que o título me fez lembrar de futebol. Há muitas coisas boas que eu sou capaz de fazer com as mãos, mas nenhuma delas se refere aos esportes. Eu só aceitava ficar no gol quando era jogo de Handebol. É pedir demais pra mim arremessar alguma coisa à distância, não consigo nem nos jogos de Kinect.
Mas, por incrível que pareça, não é sobre esportes que eu gostaria de falar, mas sobre uma bonita história de provisão que minha mãe me trouxe à memória neste último fim de semana.
Estávamos em uma época difícil, meu pai estava doente e o salário da minha mãe conseguia pagar apenas as contas e colocar um pouco de comida em casa. Não podíamos nos dar ao luxo de gastar o dinheiro contado com qualquer extravagância (nem que fosse comprar um sorvete).
Aos domingos, a igreja que frequentávamos vendia frango assado para arrecadar fundos e, em plena manhã, aquele cheiro entrava pelas narinas e caía direto no estômago.
Minha irmã, que era bem pequena na época, pediu pra minha mãe que nos comprasse um frango assado, mas, mesmo com aperto no coração, minha mãe teve que negar. Se minha mãe gastasse aquela quantia (por menor que fosse), faltaria dinheiro para pagar alguma outra coisa e era melhor prevenir do que ficar sem água ou energia elétrica (isso porque nem tínhamos computador ou acesso à internet).
Ainda triste por não ter como comprar o frango que minha irmã pediu, minha mãe entrou na igreja e foi abordada por uma irmã que não sabia da dificuldade que estávamos passando e muito menos do pedido da minha irmã e disse: Comprei um frango assado para você. Ia comprar apenas o meu, mas Deus me mandou comprar um pra você também.
É triste pensar que muitas pessoas se contentariam em achar que isto foi obra do acaso ou uma simples coincidência, mas não foi uma nem duas vezes que pude ver a mão de Deus em nossas vidas. Não é um tipo de escudo para me esconder da realidade, mas uma sensação grandiosa de saber que alguém que pode todas as coisas se importa com um simples desejo de uma criança.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Trocando os dentes

Se existe um pavor que eu sempre tive foi o de arrancar dentes em casa. Sério! Não vejo problemas em ir ao dentista e extrair dentes com um profissional da área, mas era só algum dente-de-leite começar a amolecer para eu ficar apavorada e a correria era evidente em casa, ao ponto da minha tia (que morava vizinha de casa) saber quando eu estava com um dente mole.
Os meus dois primeiros dentes que amoleceram foram os dois dentes incisivos do meio da arcada inferior (eles devem ter um nome ainda mais específico, mas sou completamente leiga no assunto) aos seis anos de idade. Meus pais começaram a se preocupar com isto quando perceberam que já tinham quase dois dentes inteiros nascendo embaixo dos dois dentes e eu não tinha coragem de arrancá-los.
Eu não queria que meus pais arrancassem, então eles me levaram ao dentista que fez o trabalho rapidamente. Com quase todos os meus dentes foi o mesmo problema, até que meus pais cansaram e passaram a me segurar e arrancar sem que eu pudesse fazer nada. Daí em diante, quando eu estava com algum dente mole, eu me trancava no banheiro e não saía até que meus pais fossem dormir.
Com a minha irmã era bem parecido, ela também se trancava no banheiro quando algum dente começava a amolecer, mas só saía de lá com o dente nas mãos (era monstruoso!).
Tive um vizinho, um pouco mais novo que eu, que não queria que sua mãe arrancasse seu dente-de-leite e só deixaria que alguém arrancasse se fosse um dentista (prometo que não foi influência minha). Sua mãe, como solução, disse que minha tia, que morava do lado da minha casa, era dentista. Mesmo sem a aparelhagem de dentista, ele acreditou e deixou minha tia puxar o dente.
Uma situação engraçada que me aconteceu foi com o meu dente canino esquerdo da arcada superior. Em uma noite, eu estava dormindo e senti algo dentro da boca. Corri para o banheiro e o dente tinha caído. Sem dor, sem sangue e sem preocupação. Foi a melhor forma de arrancar um dente que eu já vi, pena que só aconteceu uma vez.
Tenho um dente que eu demorei tanto para arrancar que o outro nasceu completamente torto no lugar e, pra piorar (e dar um nó no cérebro dos dentistas), ele nasceu sem raíz, mas está sobrevivendo. O ruim é que, por não ter raíz, os dentistas acharam melhor não colocar aparelho para consertar.
Depois de tudo já arranquei os quatro "dentes do juízo" e sobrevivi e creio que não vou necessitar arrancar mais nenhum (pelo menos assim espero).

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Estudando com as amigas

Durante nossos tempos de escola a desculpa mais legal para receber seus amigos em casa com a permissão absoluta de seus pais é estudar ou fazer trabalho. Atualmente nao estou estudando e minha mãe me perguntou se eu não tinha mais amigos. Eu disse que sim e perguntei o porquê da pergunta. Ela disse que é porque eu não tenho levado o pessoal pra minha casa.
Certa vez, uma amiga (que minha mãe já conhecia) combinou de ir à minha casa para "estudarmos" para o simulado bimestral da escola. Muito pontual, ela chegou cedo e logo abrimos nossos cadernos. Uma hora depois começaria o nosso programa favorito e não podíamos perder. Após assistir TV, decidimos comer alguma coisa. Fomos até a padaria e compramos pão-de-queijo. Quando voltamos, pegamos minha antiga coleção de latinhas de alumínio e brincamos de jogo de argolas, onde cada lata tinha um valor.
Numa outra oportunidade, minhas amigas combinaram de ir à minha casa para que eu pudesse ensinar sobre "Matrizes e Determinante". Fiz uma apresentação no PowerPoint, enquanto elas faziam um orçamento do que deveríamos comprar (sempre que nos encontrávamos na casa de alguém, fazíamos uma espécie de cachorro quente. Alguém ia com a dona da casa até o mercado e comprava os refrigerantes enquanto as outras se aventuravam comprando todos os outros ingredientes e depois nos encontrávamos em algum lugar próximo à casa).
Fomos pra escola no período da manhã e depois fomos às compras. Ao chegarmos em casa, fizemos os lanches, comemos, arrumamos a cozinha para então estudarmos. Quando entramos no meu quarto para estudar, elas viram o meu violão e foi irresistível não tocar nada. Como nossos gostos musicais eram bem diferentes, decidi puxar uma música da Marjorie Estiano que tocava na Malhação (sim, ainda dava pra assistir Malhação naquela época). Depois sentamos na frente do meu computador e eu mostrei as caricaturas que tinha feito da gente como Super Heroínas (não vou entrar em detalhes para evitar constrangimentos, mas fazíamos histórias em quadrinhos de super heroínas na sala de aula e as personagens eram baseadas em nós mesmas). Horas depois, vimos um pouco de Matrizes e Determinante só pra não dizer que não tinhamos estudado e depois fomos brincar de Detetive, Vítima e Assassino.
Além destas duas vezes, tiveram muitas outras, com outras amigas, de diferentes formas. Bons tempos...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O tempo certo

É interessante como estamos sempre esperando que o melhor nos aconteça a todo momento, como se pudéssemos controlar o nosso futuro. Uma psicóloga disse um dia para minha mãe que, em tudo o que fizermos, temos que trabalhar com duas hipóteses: A vitória e o fracasso.
Não alcançar o objetivo desejado não é o fim do mundo. Pelo contrário, nos faz refletir que nem sempre tudo vai ser como queremos. Podemos até planejar nosso futuro e lutar para isto, mas não temos total controle do que vai acontecer. E são nas situações mais difíceis que mais aprendemos.
No começo de outubro de 2011, comecei os processos para tirar a Carteira Nacional de Habilitação AB.
A princípio tudo parecia fácil demais. Exame médico, um psicotécnico quase impecável (37 acertos entre 40 questões e 99,9% de acertos na "busca às setinhas"). As aulas de C.F.C. passaram rápido e eu tenho quase certeza que gabaritei aquele exame escrito. Tudo muito fácil.
Comecei a fazer as aulas práticas e fui bem (se desconsiderarmos que no início eu pisava no acelerador com gosto e levava uns puxões de orelha). Mas, na última aula diurna, eu bati na balisa. Não sei se foi aí que o problema começou, mas neste dia voltei para o trabalho meio desanimada. Minha instrutora me disse que eu teria as aulas noturnas com outro instrutor e eu também fiquei meio insegura.
Na primeira aula noturna, o instrutor me deu várias dicas e fez várias brincadeiras, me deixando mais à vontade. Ele me perguntou se eu já tinha sentido o carro. Eu não entendi bem e então ele me perguntou se eu já tinha passado da terceira marcha, se eu já tinha andado numa pista. Eu disse que não.
Fomos para o Anel Viário da cidade e cheguei até 70Km/h. Enquanto uma instrutora me fazia frear o outro me mandava andar mais rápido. Estava tudo muito tranquilo até que a aula acabou e ele disse que no dia seguinte seria apenas com balisas.
Fiquei ansiosa e preocupada. No caminho até a Auto Escola, liguei para minha mãe e ela me disse que eu não tinha porque ficar daquele jeito. Tudo daria certo e ela estaria orando por mim.
Tudo deu certo na aula. Fiz uma balisa atrás da outra e não cometi nenhuma falta e isto me deu uma certa segurança.
Tive que esperar duas semanas até a data do meu exame. Fui reprovada bem na balisa. Fiz algumas aulas extras, mas mesmo assim reprovei outras duas vezes na balisa.
Decidi dar um tempo para os exames de carro para me focar na carta de moto. Fiz todas as aulas práticas durante minhas férias de 2012 e passei de primeira no exame. Com a carta de moto garantida no começo de junho de 2012, fui para a Auto Escola para marcar novas aulas de carro e o exame. Me disseram que não tinha como marcar, pois estavam sem examinadores para avaliar os alunos e o sistema estava mudando (estavam abrindo uma sede do Detran na minha cidade, para o meu desespero).
O tempo foi passando e apenas no começo de setembro eu consegui marcar um exame e, como tudo foi muito corrido, me marcaram apenas uma aula exatamente uma hora antes do exame. Eu não me lembrava de mais nada. Estava sem dirigir carro há 3 meses. Deixei o carro morrer diversas vezes e foi isto o que me fez ter minha quarta reprova.
Marquei mais quatro aulas e fui bem em todas elas. Já não deixava o carro ficar morrendo, estava fazendo a balisa perfeitamente, estacionando bem, não tinha erro.
Chegada a hora do exame, eu não consegui tirar o carro do lugar. Sem me lembrar o que eu fiz de errado, deixei o carro morrer duas vezes antes de começar a andar e reprovei alí mesmo.
Eu poderia ter ficado revoltada por ter sido prejudicada estes 3 meses que não estavam acontecendo exames e poderia esperar que eles tivessem contado como uma pausa e assim eu teria mais três meses para tentar. Mas preferi garantir minha carta de moto e deixar a de carro para o próximo ano.
Gostaria muito de estar contando a mesma história com um final diferente. Imagine que legal seria contar a mesma história dizendo que na semana em que venceria o meu processo de um ano, eu conseguiria passar? Mas prefiro admitir que sou humana e que o meu destino não cabe a mim e sim a Deus. Mas será que Deus não gostaria que eu tivesse sucesso em tudo o que eu fizesse? Sim. Mas no tempo certo.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fazendo as unhas

Nunca fui a melhor manicure de todos os tempos e não é sempre que dá pra estar com as unhas impecáveis. Eu gosto de usar esmalte preto, mas passo outras cores de vez em quando. Com exceção da minha mãe, é difícil alguma outra pessoa fazer as minhas unhas.
Creio que uma das primeiras vezes da minha vida que deixei alguém fazer a minha unha foi quando eu era pequena. Minha prima comprou alguns esmaltes e acessórios para manicure e pediu para fazer as minhas unhas. Eu, como amo minha priminha, confiei cegamente, achando que ela sabia o que estava fazendo.
Mergulhei as mãos na água até que meus dedos começassem a enrugar e depois, enquanto assistíamos atentamente à Sessão da Tarde, minha prima começou a fazer as minhas unhas. Não demorou muito para que algum dedo começasse a sangrar. Ela estava tentando tirar minhas cutículas e até a lixa conseguiu machucar meu dedo. Acho que não criei um trauma depois disto.
Minha irmã não deixava que ninguém, além do meu tio, cortasse suas unhas. Acho que pelo fato dele ter bastante paciência e fazer com que aquilo ficasse mais divertido.
Falando de unha, minha avó (que infelizmente, não está mais entre nós) era apaixonada por esmaltes. Com quase noventa anos de idade suas unhas eram compridas, fortes e sempre com um esmalte de cor rosada. Este era o presente que ela mais gostava de ganhar. Sempre que podíamos, comprávamos um esmalte (na maioria das vezes de cores parecidas) e o sorriso no rosto dela quando ganhava era recompensador.
Há alguns anos, uma amiga me pediu que a ensinasse a tocar violão. Marcávamos de chegar uma hora mais cedo que o horário do curso de inglês (saudades de quando eu tinha tanto tempo livre) para que eu pudesse passar tudo que eu sabia a ela.
Logo na primeira aula, passei a posição de alguns acordes e ela ia fazendo um a um. Ela se queixava que o som estava muito feio e que o som que eu fazia era bonito. Eu disse que era uma questão de prática, que ela tinha que apertar bem as cordas certas, sem esbarrar nas erradas, mas ela continuava se queixando de que parecia que o som saía raspando. Eu observei as unhas enormes dela e disse que este poderia ser o problema. Imediatamente, ela olhou para suas unhas e disse que não queria mais aprender a tocar, que suas unhas eram mais importantes que sua vontade de aprender violão.
Em uma determinada época, eu estava inspirada a inventar maneiras diferentes de fazer minhas unhas. Passava diversas cores de esmalte juntas, uma camada de esmalte branco por cima e fazia minhas "obras artísticas" com palitos de dente. Manicures chegaram a elogiar minhas unhas.
Sempre tive vontade de aprender a desenhar em unhas, mas acho que não tenho esta vocação (pelo menos não com a mão esquerda). Então não posso inventar muito ou fico com a mão esquerda bonita e a mão direita toda torta.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ficando sem aula

A vida estudantil é engraçada. Ficamos todos os anos letivos de nossas vidas esperando por férias, feriados, pontos facultativos, aulas de janela ou qualquer coisa que nos afastasse das aulas e depois que saímos sentimos tanta falta.
Nos meus tempos de escola, a alegria da classe era quando algum professor faltava. Teve uma vez que, ao saber que a professora de matemática tinha faltado, os alunos se abraçaram, cantaram e uns até dançaram.
Haviam outros alunos que não se contentavam com uma aula de janela ou um dia sem aula e resolviam matar aula, passeando pela cidade. Tinham pontos de encontro espalhados pela cidade onde os estudantes que matavam aula se encontravam. Tudo era muito bonito, até que alguns amigos meus passaram na frente da casa de um professor durante o horário de aula e ele os encontrou por lá.
Eu nunca fui de matar aula. Mesmo quando a classe inteira combinava de faltar, lá estava eu. Já cheguei a ter um dia inteiro de aula com apenas 6 alunos na classe. A maior parte dos professores deixou a gente ficar brincando de forca na lousa enquanto eles corrigiam alguma atividade.
Teve um ano que as aulas voltariam numa quarta-feira. Eu disse pra minha mãe que não iria ninguém, mas não convenci. Cheguei cedo na escola, esperei até a hora de abrir o portão e percebi que eu tinha sido a única aluna da escola a voltar das férias. Liguei pra minha mãe e ela falou pra eu voltar pra casa. Entrei no ônibus e, ao me sentar, percebi que tinha uma poça d'água no banco e fiquei com a calça molhada. Quando desci do ônibus já no meu bairro, minha calça ainda não estava completamente seca, passo em frente a um sobrado perto de casa onde a mulher resolveu lavar a sacada e empurrou a água direto para minha cabeça.
No final da sexta série. Eu já tinha fechado todas as matérias, mas disseram que deveriamos ir na primeira segunda-feira de dezembro para conferir a lista de aprovados e reprovados. Cheguei na escola, estava o caos. Alunos jogando jornal no ventilador mesmo com o professor dentro da sala. Perguntei à professora se eu deveria ficar, já que eu sabia que tinha passado em tudo.
Ciente de que vários alunos estavam ali por engano, os inspetores abriram os portões e liberaram todos os alunos que quisessem ir embora. Se fossem alunos da recuperação, era só fazer repetir de ano e pronto.
No final do 1º ano do Ensino Médio houve coisa parecida, mas desta vez as listas de aprovados estavam nas paredes do páteo da escola. Era cinco de dezembro de 2004 e me lembro em detalhes. Chegamos na escola e corremos para o palco, onde colocaram as listas de todas as classes. Quando vi que passei já estava indo embora, minhas amigas começaram a me agradecer por tê-las ajudado a passar. Saindo de lá, fui com uma amiga ao mercado que fica na frente da escola, compramos chocolate e ficamos comendo em uma praça. Começou ficar ainda mais engraçado quando começaram a chegar velhinhas na praça e começaram a ter aulas de ginástica aeróbica.
Na faculdade era diferente. Você tem um mínimo de presença para cumprir em cada disciplina e pode administrar suas faltas e presenças como bem entender. Já deixei de ir a uma aula para fazer algum trabalho de outra matéria mais difícil que aquela, para tentar passar nas duas e posso afirmar que dava certo, pois eu estudava o que tinha perdido em outro dia na minha casa e tirava nota nas duas.
Fiz uma disciplina no Campus de Campinas da Unicamp onde presenciávamos diversos projetos de apoio à comunidades menos favorecidas e às vezes passávamos o dia visitando diversos lugares de Campinas, como Vila São João (para conhecer a composteira comunitária), Sta. Mônica (horta comunitária), entre outros. Com uma semana de antecedência a professora nos perguntava se podíamos passar o dia inteiro fora do campus ou se tínhamos aula e tinha uma coisa que um aluno da turma falava que sempre achei interessante: "Aulas são dispensáveis".
Parei para pensar a respeito e, desde que você se dedique o suficiente para aprender alguma coisa sozinho, aulas são dispensáveis. Perdi algumas aulas de Álgebra Linear na faculdade e, sem saber nada da matéria, assistí a um vídeo no youtube onde um professor do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology) explicou a matéria que eu tinha perdido, desenhando na lousa e em dez minutos eu aprendi o que perdi de algumas horas de aula.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Estudando sem estudar

Creio que entre tantas outras coisas que já publiquei aqui, posso fazer uma confissão: Nunca gostei de estudar. Durante ensino fundamental e médio, devo ter estudado pra apenas 10% das provas que fiz e nem para fazer o vestibular da Unicamp não estudei direito, apenas li um material sobre botânica, outro sobre guerras romanas e gregas e li apenas três dos nove livros da leitura obrigatória, além de folhear o livro de física para relembrar algumas fórmulas, mas tudo isto apenas para a segunda fase do vestibular. Devo ter começado a estudar pra valer depois que entrei para a faculdade. Mesmo assim nunca deixei de tirar boas notas. Posso contar até algumas situações interessantes a respeito.
Na oitava série, minha classe teve uma professora de Matemática que tinha uma metodologia diferente para ensinar. Metodologia que hoje acho que foi importante para que eu fizesse o vestibular com mais tranquilidade. Era mais ou menos assim: Se a aula era sobre cálculo de área, ela dava as fórmulas básicas e depois colocava uma figura disforme na lousa para que calculássemos a área sem pedir sua ajuda. Não tínhamos nenhuma idéia de como funcionavam as Integrais, então nossa saída era juntar várias formas geométricas (ou partes delas) para calcular. Nisto usávamos diversas fórmulas, frações até que chegássemos a um resultado.
Ter uma metodologia tão diferente e que exigisse um certo grau de autonomia para entender a questão e resolver sem nenhum exemplo de como se fazia assustou a classe. Em uma turma de quarenta alunos, nem dez conseguiam resolver os exercícios propostos. Cada exercício resolvido era um ponto positivo que recebiamos em cima da nota final.
No fim do segundo semestre (que antecede as férias de julho) estavam quase todos os alunos contemplados com a recuperação de matemática. Alguns conseguiram se salvar pelas notas de provas e pontos positivos que tinham. Em um dos últimos dias do semestre a professora me disse que não sabia o que fazer com minha nota. Fiquei preocupada, normalmente quando falam coisas semelhantes nunca são boas, pensei que tinha ido mal na prova.
Ela me chamou em sua mesa e me mostrou minha situação. Ela disse que somando meus pontos positivos com a nota da prova, a frequência e a participação e fazendo uma média de tudo eu estava com uma média 14. A situação saiu completamente de seu controle. A culpa não era minha, já que foi ela quem deu mais notas do que poderia administrar.
A partir do semestre seguinte, ela resolveu estabelecer um número máximo de pontos positivos por aluno.
No ano seguinte, a professora de língua portuguesa marcou uma prova sobre o romantismo e, como sempre, eu não estudei. Ao chegar na sala de aula, uma colega de classe me pediu que a explicasse a matéria da prova. Peguei meu caderno e li para ela a parte que eu achava importante. Depois mais dois ou três grupos de alunos me pediram explicação e, na hora da prova, eu já tinha decorado até as datas de cada acontecimento.
No terceiro ano do Ensino Médio, tive uma professora de Matemática que também tinha um jeito particular de avaliar seus alunos, o que era um desastre para a maioria da classe e uma benção para mim. Ela colocava a matéria nova escrita na lousa e passava exercícios antes de explicar, para que interpretássemos o texto que ela passou e resolvêssemos sem a ajuda de ninguém. Quem conseguisse resolver, recebia um ponto positivo. Quando o aluno recebesse uma quantidade pré-estabelecida de pontos positivos no bimestre, ele era dispensado da prova. Ela tinha um ditado: "Se o aluno sabe resolver os exercícios em sala, ele certamente saberá resolvê-los na prova. Se ele me prova todos os dias que está aprendendo a matéria, eu não tenho porque prová-lo novamente". Vantagem para mim, que não fiz prova de matemática no ano de 2006.
Tive uma professora de Educação Física que tinha um método bizarro de avaliação: No futebol e no handebol, os alunos das equipes tiravam nota pela quantidade de gols. Se uma equipe fazia 10 gols (o que era quase impossível) todos daquela equipe fechavam o futebol com 10 de média, da mesma forma que, se sua equipe perdesse de 0, esta seria sua nota na modalidade. No voleibol e no basquete, a pontuação representava uma porcentagem da nota. Eu não era a pior aluna da aula da Educação física, mas estava longe de ser a melhor em tudo.
Na minha turma do segundo ano do Ensino Médio tinha um jogador profissional de basquete. Tinha apenas 16 anos e 1,96 de altura. Eu o ajudava a estudar e garantir boas médias na escola. Como agradecimento, ele me colocava nos times dele nas avaliações de Educação Física. Era uma troca, não uma trapaça.
Fui descobrir o que era estudar a partir do primeiro semestre de faculdade. Parece que, mesmo que você entenda e decore toda a matéria sempre tem algo novo. Confesso que apanhei no começo, pois eu não tinha uma estrutura de estudo quando entrei na faculdade. Fazer as provas da Unicamp sem estudar é cometer suicídio, pois você dificilmente se depara com questões de múltipla escolha. Mas com o tempo fui pegando o jeito e consegui me formar.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Instinto materno

Às vezes fico pensando se eu tenho vocação para ser mãe. Sou cuidadosa com minhas coisas e meus animais, mas ainda não desenvolvi o dom de ser mãe.
Minha mãe, por exemplo, sempre adivinhava o que queríamos e o que precisávamos mesmo antes que soubéssemos pedir.
Sempre que a vejo digo que a amo e que ela é uma fofa, quando adolescente eu falava que ela era "dahorinha", uma vez quando criança, disse a ela que a amava mesmo com o cabelo de Bom Bril (eu sempre fui extremamente romântica).
Mas uma coisa que eu admiro nas mães é esse sexto sentido monstro que elas têm. O bebê nem aprendeu a falar ainda, elas olham e sabem o motivo do choro. Como? Que tipo de faculdade pré-maternal elas fazem que as ensinam a compreender um simples choro?
E quanto à criatividade que elas têm pra nos manter ocupados, é impressionante. Me lembro de ficar no pé da minha mãe perguntando o que eu poderia fazer, do que eu poderia brincar e o que eu deveria desenhar.
Minha mãe era praticamente uma professora. Além de me ensinar a andar e a falar, ela também me ensinou a ler e a escrever. Eu tinha apenas três anos quando aprendi a ler. Me lembro de ter ido à casa dos meus tios nesta época. Meu tio estava lendo um jornal e eu me aproximei e li uma manchete. Ele parou de ler e ficou assustado. Com certeza alguém tinha me falado o que estava escrito lá e eu estava apenas repetindo. Então ele me pediu para ler outros trechos do jornal e eu não decepcionei. Até hoje minha mãe tem escrito em sua bíblia os primeiros versículos lidos por mim e por minha irmã.
Minha mãe tem muito mais informações ao meu respeito do que eu conseguiria me lembrar em plenos 22 anos de vida, inclusive meu cordão umbilical. Ela tem daqueles livros do bebê, onde anotou todas as primeiras coisas feitas por mim: primeira papinha, quando nasceu meu primeiro dente, quando caiu meu primeiro dente, quando comecei a engatinhar. Ela queria colocar no livro do bebê até a data em que eu entrei na faculdade...
Quem me dera ter estes super poderes quando for mãe. É algo extraordinário que às vezes passa desapercebido. Não é dia das mães para que eu faça uma postagem sobre elas, mas não são necessários dias marcados para lembrar como elas são especiais.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Momentos olímpicos

Em pleno ano de Olimpíadas, ainda não tinha colocado nenhuma postagem a respeito. Gosto de assistir às modalidades olímpicas, embora goste mais de assistir aos jogos de inverno. O meu esporte, porém, sempre foi o futebol e o futsal.
Comecei a pegar gosto pelo futsal na quarta série, quando fiquei amiga de uma garota chamada Karina. Eu nem reparava que os meninos jogavam até que um dia ela se ofereceu para jogar com eles. A partir daí, eu comecei a me interessar e jogar com os meninos também. Até no ano de 2000, quando operei o pé, foi só eu conseguir correr novamente que lá estava eu. No Ensino Médio eu cheguei a fazer parte de um time de garotas e desafiávamos outras garotas durante nossas aulas de Educação Física.
Na quinta série, chegamos a ficar em quarto lugar do Futsal misto no "Interclasses" (competição entre as classes da escola) e no mesmo ano também fiquei em quarto lugar na competição de Damas (jogo de tabuleiro).
Os meus momentos olímpicos, porém, não estavam nas quadras ou em jogos de tabuleiro. Entre 2001 e 2006 participei de diversas Olimpíadas de Matemática e Física.
Tudo começou em 2001, quando os professores de matemática da escola indicaram seus melhores alunos para fazer a primeira fase. A prova estava repleta de pegadinhas e o meu lado Troll foi um grande aliado.
A partir do ano seguinte, além das Olimpíadas de Matemática, também participei das Olimpíadas de Física. Cheguei a fazer provas em outras escolas e outras cidades, como no colégio Koele na cidade de Rio Claro - SP. Nunca fui mais longe que isto e fazia as provas por diversão. Nunca fui uma espécie rara de gênio e nunca gostei de estudar e realizar pesquisas. Sempre fui daquelas pessoas teimosas que pensam: "Para que estudar isto aí? Se alguém descobriu um jeito de fazer isto, eu também consigo!" e a grande parte das minhas respostas dissertativas não foram baseadas em teorias e pesquisas e sim no que o meu raciocínio lógico achava que era. Raciocínio que me fez escolher informática como minha área.
Sempre fui muito prática e lógica em tudo o que eu faço. Quando fiz sessões na psicóloga aos cinco anos de idade, para decidir em qual série eu deveria estudar, ficava indignada com as atividades que ela me passava. Para começar, ela me deu um quebra-cabeças de um cavalo que possuía três peças e ela ainda se assustou com a velocidade com que eu resolvia os problemas. Ela chegou a me perguntar qual a moeda brasileira e minha resposta foi: "Cruzeiro, cruzado e real". Com os olhos arregalados, ela me disse que poderia ser apenas a atual. Quando fiz o psicotécnico, acertei 37 questões de 40 e tirei 99,8% no exame das setinhas.
Fazer tantas Olimpíadas sem compromisso de nota me fez perder completamente o medo de provas teóricas. Seja no vestibular, nos exames e concursos. Em contrapartida, devo ser a pessoa mais nervosa quando se trata de exames práticos.
Encerrei minha carreira olímpica a partir de 2007, quando entrei para a faculdade.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Limites da obediência

O que fazer quando a obediência ultrapassa os limites do bom senso? Até que ponto uma criança consegue ser obediente, sabendo que aquilo pode te prejudicar? Será que o bom senso que achamos ser um bom senso não é apenas uma desconfiança ou um sistema de auto defesa?
Pois bem, eu sempre fui uma criança obediente. Tive sim alguns momentos de rebeldia e teimosia, mas nada que pudesse me dar o título de desobediente.
Um dia, por exemplo, estava dando algumas voltas pelo bairro com meu pai e ele precisou entrar em um pequeno estabelecimento onde consertavam eletrodomésticos para fazer um pequeno orçamento. Vendo que o local era apertado e que havia sombra na calçada, meu pai pediu que eu me sentasse no chão e que só levantasse quando ele voltasse. Eu, como uma filha extremamente obediente, me sentei no chão.
Passado alguns minutos, comecei a sentir um incômodo muito grande e pensei em me levantar ou mudar um pouco de lugar, mas eu não queria desobedecer as ordens do meu pai e fiquei firme e forte.
Quando ele saiu, me viu coçando o traseiro e perguntou se estava tudo bem. Quando ele olhou para o chão onde eu estava sentada, viu um formigueiro e as formigas todas agitadas.
Até hoje minha mãe comenta como eu fui boba neste episódio e eu também fico inconformada com minha falta de atitude. O bom é que aprendi a nunca mais me sentar em algum lugar sem analisar bem antes.
Falando em crianças ingênuas, minha irmã sempre acreditava em tudo o que eu falava. Eu sou quase quatro anos mais velha que ela e ajudava a cuidar dela.
Eu contava histórias e inventava lendas (algumas ela descobriu que era mentira recentemente), mostrava coisas imbecís que eu era capaz de fazer e ela tentava me imitar. Uma vez, por exemplo, eu disse que conseguia tomar uma garrafa de 250ml de água sem respirar. Fiz minha demonstração e ela tentou fazer. Como ela respirava, a prova não valia e ela tinha que começar novamente. Quando ela finalmente consegiu, ela passou mal na hora. Eu prometo que não fazia por maldade.
O tempo foi passando e ela começou a desconfiar de tudo o que eu falava. Tanto que, um dia eu tinha esquentado o leite no fogão e disse a ela para não tocar nele, pois estava quente. Apenas dei as costas e ouvi um grito. Minha irmã tinha relado onde eu falei para não relar e queimou dois dedos.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Perdida no shopping


Até os doze anos de idade, era difícil meus pais me deixarem ir para lugares sem a companhia de outros adultos, principalmente deles. Um pouco era pelo cuidado que os pais já têm por natureza e pelo que aconteceu no ano de 1995.
Eu tinha 5 anos de idade e era época de festas, quando o comércio investe pesado nas vendas e quando você tem uma noção ainda maior de quantas pessoas dividem a mesma cidade que você e você nunca tinha visto antes.
Fomos com toda a família para o shopping da cidade, que visitávamos sempre, para comprar presentes e aproveitar as promoções.
Entramos em uma loja muito conhecida (mas que não está me patrocinando) e eu perguntei para os meus pais se eu podia ficar na área dos brinquedos, para ver o que estava à venda e porque, na minha idade, era o lugar mais legal da loja. Enquanto isso, eles e meus tios faziam as compras.
Vários minutos depois, eu já tinha visto todos os brinquedos e não tinha mais graça ficar por lá. Saí pela loja procurando meus pais, mais era muito grande e eles já não estavam onde eu os tinha deixado.
Comecei a chorar desesperadamente, até que me dirigi a uma moça daquelas que ajudam no caixa e perguntei se ela sabia onde minha mãe estava. Ela disse que não sabia quem era minha mãe, mas que me levaria até a gerência. Fiquei mais tranquila, a gerência deveria saber quem era minha mãe.
A moça me levou até o gerente, que me fez entrar numa sala e subir algumas escadas. Pensei: "O que minha mãe estaria fazendo tão longe?"
Cheguei a uma sala onde tinha uma mulher que mais parecia uma operadora de Telemarketing e dava pra ver boa parte da loja de lá. Ela me perguntou o nome dos meus pais e eu disse que eram Pedro e Marialva.
Ela mexeu em uns equipamentos e disse: "Senhor Pedro e senhora Marialva, favor comparecer à gerência. A filha de vocês se perdeu e está aqui conosco!"
Rapidamente foi possível ver meus pais se movendo pela loja a caminho da gerência. Eu não sabia se sorria ou se eu chorava mais de tão emocionada que eu estava.
No mesmo ano, creio que não foi no mesmo dia, mas na mesma loja estava tendo uma grande liquidação onde para cada compra de valor X, você ganhava um cupom valendo um forno de microondas.
Meu pai preencheu e, como não tínhamos telefone na época, ele passou o telefone dos meus tios, que moravam do lado da nossa casa.
Fomos embora e, ao chegar em casa, meus tios nos avisaram que o forno de microondas era nosso. Meu pai foi ao shopping na mesma hora para pegar o prêmio. Até queriam que ele esperasse até o dia seguinte para poder tirar fotos e aparecer na televisão, mas a emoção de ter ganho alguma coisa era maior. Hoje, quase 17 anos depois, ele ainda funciona razoavelmente bem.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Perguntando e avisando

Durante várias fases de nossas vidas tomamos decisões por nós mesmos ou perguntamos a opinião de alguém. Na minha vida não foi diferente. Às vezes eu tinha dificuldade de decidir o que era melhor pra mim, porque sempre pensei muito nas outras pessoas e se minha decisão seria boa para elas também. Para tudo o que eu ia fazer, porém, minha mãe era a voz suprema. Se ela não estava de acordo, acabou. A não ser que ela não estivesse por perto pra que eu pudesse perguntar. Nestes casos eu tomava as decisões e atitudes e avisava pra ela depois.
Uma vez, eu e minha prima ainda éramos muito pequenas (usávamos fraldas e mal sabíamos falar), estávamos no pé de nossas mães enquanto elas trabalhavam, porque não sabíamos com o que brincar e o que fazer. Minha tia, na tentativa de criar uma brincadeira, deu uma sacola de feira para minha prima e disse que era pra irmos para a feira (imaginando que íamos brincar de feira). Passado alguns minutos, minha mãe e minha tia acharam que a casa estava muito silenciosa para ter duas crianças pequenas brincando e saíram correndo pela casa procurando por nós e não nos encontravam.
Num ato de desespero, elas abriram o portão para olhar a calçada e nos viram de mãos dadas, próximo à esquina, com a sacola na mão, indo para a feira (que nós não fazíamos idéia de onde era).
Um dia, aos quatro anos de idade, estava assistindo um destes programas de TV que usam hipnose pra controlar a mente das crianças (é a única explicação que eu acho para isto) e quando vi minha mãe passar pela sala, tirei a chupeta da boca e disse que não usaria mais e ela poderia jogar fora.
Era uma dura decisão pra uma criança de quatro anos que chupava chupeta até o presente momento, mas eu levei a sério. Minha mãe até guardou a chupeta em uma gaveta do armário para o caso de eu mudar de idéia, mas eu não voltei a buscar por ela.
Outra vez, com nove anos de idade, meus pais me levaram na casa de uma outra prima pra que eu passasse o dia com ela. Cheguei lá pela manhã e fiquei até a tarde. Minha tia teve que sair e nos deixou brincando em casa (minha avó e minhas tias moravam ao lado e cuidavam da gente). Quando ficamos com fome, em vez de procurar nossas tias para falar, preferimos fazer nós mesmos a nossa refeição. Minha prima disse que sabia fazer "chá de chocolate" e que era muito simples e rápido (hoje ela cozinha super bem, mas naquela época...). Depois de tomarmos bastante chá de chocolate, decidimos desbravar o bairro. Ela tinha uma pequena bicicleta com garupa e fomos nós duas andar pelo bairro.
Eu me sentei na garupa e não notei que ela estava com os parafusos frouxos e, quando passávamos por um trecho ainda não pavimentado, a garupa da bicicleta caiu e eu fiquei no chão. Sem perceber que eu já não estava na bicicleta, minha prima saiu correndo e me deixou no chão. Eu peguei o banco da garupa e saí correndo, grintando o nome dela até que ela me escutou e voltou pra me buscar.
Voltamos para a casa dela e logo depois a mãe dela chegou e nós avisamos a ela o que tínhamos feito. Escutamos um pouquinho, mas nestas horas não havia muito o que ser feito e estávamos bem...

Eleições

Quando somos crianças,a política parece uma coisa divertida, fora do comum, que acontece com menos frequência que o Natal e faz pessoas que não se vêem há muito tempo se encontrarem em filas quilométricas formadas em corredores de escolas no dia da eleição. Para os adultos, esta obrigação não é tão emocionante assim. Tudo que vira obrigatório gera um certo desconforto.
Eu amava assistir comícios. Era como se eu fosse assistir a um show das pessoas que eu via na televisão (nas propagandas do horário eleitoral gratuito) e eu conhecia todas as músicas de todos os partidos.
Parecia divertido se envolver com a política. Quando fui para a 5ª série, em 2010, inventaram aquela história de que a turma deveria ter um representante de classe e o que não faltaram foram candidatos. Eu também me candidatei. Não tinha idéia do que um representante de classe fazia, mas parecia uma coisa tão importante. Não ganhei a eleição e a menina que ganhou desistiu do cargo em pouco tempo. A partir dos outros anos os professores tinham que implorar por uma alma candidata ao cargo. Por sorte, sempre tinha um que queria fazer bonito para o professor, que assumia o cargo sem nem precisar de votos.
Depois dos dez anos de idade, perdi qualquer interesse pela política, o que muitos enxergam como um crime: "É por pessoas como você que o Brasil nao vai pra frente! Você deveria se interessar pela visão dos partidos e blá, blá, blá". O fato de não gostar de política não me leva a votar às cegas, sem me preocupar com minha cidade, estado ou país. Adianta um candidato entrar num partido influente, fazer um bom discurso e ser bom de marketing, se toda esta pose não tiver nenhum valor quando ele for eleito?
Me lembro que uma vez, quando eu era criança, eu queria um brinquedo de piratas que eu tinha visto no shopping da cidade (gosto meio exótico por eu ser uma menina, mas eu nunca gostei de brinquedos simples demais). Como eu nunca fui de pedir nada aos meus pais, eles acharam que seria uma boa idéia me dar o presente, mas era um brinquedo caro. Eles resolveram trabalhar na campanha politica de uma candidata a vereadora muito popular na cidade e, com o dinheiro que ganharam, me deram o sonhado brinquedo.
No ano da última eleição para presidente do Brasil, tive a oportunidade de conhecer uma garota mexicana, que estava fazendo intercâmbio na Universidade onde eu estudava. Acompanhando toda aquela campanha política, ela me disse duas coisas que a deixaram pasma. O fato do nosso ex-presidente apoiar uma candidata a presidente (coisa que, segundo ela, é proibido no México) e o fato do voto ser obrigatório (o que faz os eleitores ficarem desanimados com a sensação de "ter que votar" e não o sentimento de "é hoje que vou fazer valer a minha opção de votar e garantir a vitória do meu candidato"). Será que só a gente anda na contramão? Ela ficou assustada quando eu disse que nossos comprovantes de votação eram importantes, ao ponto de serem exigidos como documentação obrigatória para assumir alguns cargos públicos e privados. Ela disse que, quando eles votam, apenas recebem uma marquinha a mais em seu cartão. Por que será que no Brasil tudo parece ser mais complicado? Temos leis que nos obrigam a votar, para depois recebermos pelo menos 30% de votos brancos e nulos... 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Mundo da imaginação

Sabe quando você está tão acostumado a usar a sua imaginação, que quando você vê algo incomum na vida real você acha que está imaginando? Pois é. Já estive nestes dilemas.
Quando eu era pequena, gostava de acordar bem cedo pra assistir programas que ninguém mais assiste. Ligava a televisão no SBT e ficava curtindo as músicas do canal fechado até que ele abrisse e então eu decidia se ia assistir desenhos ou o programa Repórter Eco da TV Cultura e aos domingos, antes de ir para  a igreja eu assistia Siga Bem Caminhoneiro (Sim, estou corada de vergonha por estar contando isto).
À tarde eu assistia ao Fantástico Mundo de Beakman e depois arrepiava meu cabelo pra brincar de fazer experiências.
Há alguns anos, encontrei umas provas que eu fiz quando estava na terceira e quarta série e encontrei alguns absurdos com relação à minhas notas. Em uma prova da terceira série, a professora falou pra escrevermos o nome de um animal que começasse com a letra "O", esperando que todos os alunos escrevessem "Onça" como resultado. O que seria injusto, partindo do princípio que ela usou o artigo indefinido "Um" na questão, então poderia ser qualquer animal. Eu tive esta questão como errada, porque, em vez de responder "Onça" eu respondi "Onitorrinco" (eu não sabia que era "Ornitorrinco", mas ela não poderia me dar errado por causa de um "R"). Eu fui reclamar com ela, dizendo que eu tinha visto um documentário sobre este animal no Repórter Eco e que ele parecia com uma toupeira com bico de pato e ela achou que eu estava inventando. Imagina se iria existir um animal mamífero com bico de pato? Se ela assistisse tantos documentários quanto eu, que tinha oito anos de idade, ela saberia. O pior é que, na época, a professora falou que esta animal não existia e meus pais também não sabiam da sua existência, então eu comecei a acreditar que eu tinha inventado o tal bicho, porque não lembrei da onça. Um tempo depois, minha mãe viu um ornitorrinco na televisão e me deu razão.
Outro absurdo na minha nota foi em uma prova da quarta série onde você respondia as questões por uma cruzadinha. Analisei minhas respostas e percebi que tinha errado quase todas e, mesmo assim tirei 10 na prova. Agora não sei se a professora me favoreceu de propósito ou se ela achou no mínimo curioso eu ter conseguido finalizar uma cruzadinha tendo errado a maior parte das respostas. Acho que agora deve ser meio tarde pra pedir pra alterar. Já pensou se, em plenos 22 anos de idade, me fazem voltar para a quarta série?

A minha moda

"...I looked so hot but caught a cold, I was doing just what I was told... to fit in". (Clothes - BarlowGirl)

Já fui costureira, gosto de inventar coisas, mas creio que o mundo da moda não é pra mim. Nunca foi uma necessidade minha vestir aquilo que está na moda, até porque tem coisa que não acho bonito e que não fica bem nas modelos, quanto mais em mim.
Aí está outra coisa que acho estranho, a grande maioria dos homens e mulheres acham que as mulheres ficam mais bonitas quando tem algumas curvas e confeccionam roupas para mulheres semi-retas e compridas para quê? Para todas as outras ficarem iguais a elas ou para economizar pano?
Quando eu era pequena minha mãe vivia comprando roupas cor-de-rosa pra mim. E, quando ela me permitiu escolher minhas próprias roupas, fiquei anos sem colocar roupas desta cor e até mesmo acessórios. Tanto que, por existirem poucas opções de roupas de outras cores para meninas da minha idade, comecei a usar roupas mais masculinas e parecia um menininho. Aos doze anos de idade eu superei o trauma e voltei a usar roupas cor-de-rosa e mais femininas.
Uma coisa ainda mais bizarra que comprar roupas quando estamos em fase de crescimento é comprar calçados. Nunca fui daquelas meninas que são deslumbradas pelo salto desde pequenas, mas um dia, eu já devia estar quase entrando para a adolescência, eu encontrei um sapato social do meu número e já tinha salto (menos de 4cm) e eu fiquei morrendo de vontade de comprar, só pra dizer que eu cresci e podia usar salto.
Um episódio engraçado com calçados aconteceu há vários anos atrás, quando fomos (eu, minha irmã, meu pai e minha irmã) para uma loja de calçados em Americana - SP. Meus pais deixaram que eu e minha irmã escolhêssemos o que quiséssemos que ele acertaria depois.
E foi assim. Após andarmos por toda a loja, longe dos nossos pais, escolhi um tamanco preto. Pagamos e levamos os produtos e, quando chegamos em casa, percebemos que eu e minha mãe tínhamos comprado tamancos iguais.
Meu gosto para roupas não é nenhum pouco extravagante. Não exijo marcas famosas e não tenho preconceito quanto ao preço. Se entro numa loja e acho legal, se tiver no meu tamanho, eu levo. Sou manequim P para a maioria dos modelos de roupa, mas inventaram umas blusas que ficam caídas nos ombros e outras que te fazem parecer o Batman, formando uma capa de pano embaixo do braço e, nestes casos isolados, nem comprando P não resolve, então prefiro não comprar.
Já minha irmã tem que visitar todas as lojas para depois comprar aquilo que ela viu na primeira. Ela vive me dizendo: "Você não pode comprar na primeira loja que vê. Às vezes na outra loja está mais barato."
A minha filosofia para compras é diferente. Preciso de uma blusa, por exemplo, se vejo uma que eu gosto em uma loja e não esteja com um preço tão absurdo, eu levo. Se eu for depois em outra loja e encontrar a mesma blusa ainda mais barata, eu penso: "Nossa! O preço desta blusa está bom, mas eu já tenho uma igual e não preciso de outra".
Minha irmã já fez curso de modelo, mas acho que é a maior perda de tempo. Você passa fome pra ficar do jeito que eles querem, você perde tempo fazendo um curso que você pagou pra descobrir o que não quer ser e tem que pagar para trabalhar até que, se tirar sorte grande, virar uma modelo famosa.
A Gisele Bündchen, por exemplo, nunca quis fazer cursinhos de modelo. Um dia um olheiro disse que ela deveria ser modelo, ela aceitou e virou Uber Model. Então não é uma coisa que você paga pra ser.

"Clothes that fit are fine. Won't show what's mine. Don't change my mind. I'll be fine!!!" - (Clothes - BarlowGirl)

Imitando a vida adulta

Quando somos crianças, o mundo adulto nos fascina. Parece que crescer e adquirir uma certa independência, trabalhar é atrativo.
As meninas, por exemplo, gostam de brincar de casinha, de boneca, de limpar a casa, passar roupa, etc, porque se espelham nas tarefas de casa de suas mães. No meu caso, eu tinha várias roupinhas de boneca e sempre lavava roupa por roupa em uma banheira, depois colocava pra secar, fingia que passava e as deixava dobradas. Eu tinha minha própria vassoura, meu rodo e até minha própria maquininha de costura.
Falando em costura, no ano de 1997 minha professora de escola nos ensinou a fazer fantoches com meias. Acho que nossas mães devem ter adorado a idéia de "estragar" uma meia pra fazer um boneco. Me senti grande quando vi que, entre os materiais necessários para fazer o fantoche, iríamos usar agulha de mão para costurar a meia. E o melhor, minha mãe me emprestou uma agulha para isto. Depois deste dia, só tinha graça vestir as bonecas com as roupas que eu mesmo fazia. Eu as desenhava, recortava e costurava. Não quis seguir a carreira de moda por diversos motivos que posso contar em uma próxima postagem, mas até hoje ajudo na confecção de roupas de TNT para o grupo de crianças da igreja.
Às vezes também brincava de outras profissões, como cabeleireira, dentista, professora, etc.
No ano de 1993 ou 1994, se não me engano, estávamos eu e minha prima (as duas com menos de 5 anos) brincando de cabeleireiro na sala da casa dela. Resolvemos colocar um pouco mais de realidade na brincadeira e buscamos uma tesoura pra cada uma. Cortamos os cabelos de verdade e escondemos os fios atrás do sofá. Eu fiquei com as pontas do cabelo todas cortadas e minha prima ficou completamente sem franja. Imagine a bronca que levamos.
Outra vez, eu já devia ter entre 7 e 9 anos, outra prima foi na minha casa e resolvemos brincar de cabeleireiro (e, pra provar que tínhamos aprendido a lição, não usamos tesouras) e estava tudo bem, até que ela resolveu enrolar meu cabelo com uma escova redonda, começando das pontas até a raíz e depois a escova ficou completamente presa no meu cabelo. Neste momento, minha prima começou a chorar e eu notei que alguma coisa estava errada. Corri para o quarto da minha mãe, que teve paciência de passar horas desenroscando os fios do meu cabelo um por um.
Como dentista, conseguíamos ser ainda mais terríveis. Minha prima já tentou arrancar o dente da irmã dela, dizendo que estava com cáries, eu enchi a boca da minha irmã de pasta de dentes para fazer um tratamento.
A vida é difícil de explicar. Enquanto somos crianças, queremos fazer coisas de adultos e, quando crescemos, sentimos falta da vida que tínhamos quando crianças.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Saudades

Se tem uma coisa estranha de se acontecer é perder alguém querido. Perder pra sempre, sabe? Saber que depois de uma certa data você nunca mais vai falar com uma pessoa, nem vê-la na rua e só te restarão lembranças. É muito esquisito lidar com isto!
Hoje é o primeiro aniversário de morte da minha avó e ainda parece que foi ontem. Toda a família reunida em uma grande homenagem à matriarca de uma família gigante. Mãe de 12 filhos, avó de 17 netos  e bisavó de 3 bisnetos, ela nunca perdeu o bom humor e o carinho por todos.
Quando a nossa família se reúne é uma festa e era só a Vó Lita (como era e ainda é conhecida) chegar que a festa estava completa. Com mais de oitenta anos de idade ela colocava todo mundo pra dançar e ainda criava as coreografias.
Ela trabalhava com a minha mãe e minhas tias na oficina de costura e eu cheguei a trabalhar com ela também. Ela amava costurar e trabalhava atrás da minha mãe. Às vezes começava a cantar "Quando Jesus estendeu a sua mão" e minha mãe a acompanhava.
Quando eu comecei a trabalhar em Campinas ela ficou desesperada. Falou que eu estava emagrecendo, que minha mãe tinha que me mandar uma marmita e que eu ainda era muito nova pra ir sozinha para outra cidade.
Ela gostava de inventar os nomes para as coisas. Um dia ela chegou pra minha mãe, perguntando se tinha tampa pra ela virar. Minha mãe achou esquisito e pediu que ela repetisse. Ela repetiu a mesma coisa e demorou pra entenderem que ela estava pedindo para virar lapelas (aquele pedaço de tecido costurado que fica em cima do bolso da bermuda, pra parecer que ele está fechado). E virou tampa!
Ela não podia ver jogo de futebol na televisão que parava pra assistir. Não sabemos até hoje se ela realmente sabia as regras do jogo, mas ela gostava de passar horas na frente da televisão torcendo para o time que estiver ganhando, mesmo que fosse futebol amador.
Um dia ela estava assistindo televisão quando minha tia chegou em casa e ela disse super empolgada: "Olha, Lu, que lindo! Tudo tão colorido!". Minha tia parou pra ver o que era tão lindo e colorido e viu que minha vó estava assistindo a parada gay.
Algumas frases dela fizeram história e são guardadas até hoje por seus filhos e netos. Quando alguém espirrava, ela dizia "Deus te crie". Quando pedíamos benção, ela dizia "Deus te dê boa sorte". Quando alguém chegava com alguma fofoca, ela dizia "Olho viu, boca piu" e para tudo ela tinha uma resposta.
Ainda é meio vazio quando nos encontramos e ela não está. O primeiro natal sem ela foi muito diferente. Não conheço sequer uma pessoa, mesmo não sendo da nossa família, que não tenha guardado uma boa lembrança dela. Até os motoristas e cobradores dos ônibus que ela pegava eram amigos dela. Ela levava bala pra eles e fazia amizade com todo mundo.
No seu velório, estávamos meio chocados e meio desacreditados. Minha prima comentou comigo: "Sempre pensei que ela fosse eterna. É estranho vê-la nesta situação."
E acredito que ela seja realmente eterna. Vó lita, Dona Anita ou simplesmente Gildete. Cada um a conhece de algum jeito e levará pra sempre a lembrança de uma senhorinha alegre, disposta e carinhosa.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Primeiro Zero

Mesmo os bons alunos têm alguns momentos de decepção na escola. Me aconteceu algo no ano de 2004 que nunca mais se repetiu e que eu nunca vou me esquecer. Minha primeira nota zero.
Estava no primeiro ano do ensino médio e fazia parte da fanfarra da escola pelo terceiro ano consecutivo. Passadas as férias de julho, começamos a ensaiar todos os dias até que chegasse o mês de setembro e o horário dos nossos ensaios era durante das duas últimas aulas de cada dia e tínhamos permissão da diretoria para ficar na quadra durante estes horários.
Foi o primeiro ano que eu tive contato com a química e ela não é muito auto-explicativa. Se eu não me engano nesta época minha turma estava estudando sobre reações. No cronograma da minha classe tínhamos duas aulas por semana e as duas eram dadas nas últimas aulas de quarta-feira.
Por causa dos ensaios da fanfarra, eu não assistia a nenhuma aula de química e, mesmo colocando a matéria sempre em ordem, tendo o livro didático e pedindo ajuda dos outros alunos, eu não conseguia entender aquela matéria. Posso garantir que não sei até hoje e agradeço a Deus por isto não ter caído no vestibular.
Uma semana antes das provas daquele bimestre, quando já tinham acabado os ensaios da fanfarra, falei com a professora que eu não estava conseguindo entender a matéria e ela disse que não poderia voltar a matéria inteira por causa de uma só aluna (se eu soubesse que ninguém sabia a matéria, eu teria fortes argumentos contra ela). Então eu tentei quebrar a cabeça pra ver se eu encontrava ao menos alguma coisa de comum nas resoluções dos exercícios que eu copiei, mas sempre ficava algo no ar.
O dia da prova chegou e conseguimos convencer a professora a fazermos a prova em dupla. Isto não ajudou muito, já que ninguém sabia a matéria. Uma amiga pediu pra fazer a prova comigo e eu deixei claro pra ela que eu não sabia a matéria, mas ela não se importou.
No meio da prova, o aluno que estava sentado na minha frente começou a pedir as respostas, mas eu disse que não sabia a matéria. Ele chegou a pensar que eu estava mentindo só pra não passar a resposta, mas ele me perdoou quando saíram os resultados das provas. Minha dupla ficou falando pra que eu colasse durante toda a prova, mas eu disse que não queria e que não iria adiantar.
Quando faltavam quinze minutos para acabar as aulas, vendo a professora que ninguém tinha conseguido terminar a prova, permitiu que consultássemos nossos cadernos.
Mesmo com todos estes benefícios não foi possível tirar uma boa nota. Respondi a todas as questões, tentando seguir uma linha de raciocínio lógico, mas acho que a química não é muito lógica.
E assim eu tirei o meu primeiro e único zero da vida. Fiquei meio sem graça de falar para os meus pais, mas ao contar todo o contexto, eles entenderam. Eles nunca exigiram que eu fosse a melhor aluna da classe nem que eu tirasse as melhores notas, apenas me incentivavam a dar o meu melhor. O que mais me consolou nesta prova foi o fato da nota mais alta da classe ter sido três e, mesmo com a nota ruim da prova, eu tinha boa participação, frequência, fora os pontos por fazer as atividades e fechei o bimestre com uma nota acima da média.

Amizades de ônibus

Enquanto existem muitos pré-adolescentes de onze anos de idade querendo ser independente e alguns até gerando outros novos seres humanos, nesta idade eu comecei a andar de ônibus sem os meus pais. Mesmo assim, até que eu conhecesse outros alunos que pudessem pegar o mesmo ônibus que eu, minha mãe ficava comigo no ponto de ônibus.
O tempo foi passando e eu comecei a me aventurar, tentando pegar outras linhas de ônibus, em outros pontos mais distantes da escola e me senti grande. Poderia citar várias pequenas situações engraçadas que me aconteceram durante esta época. Uma delas foi cair sentada no "corredor" do ônibus lotado e ter dificuldades para levantar novamente, já que era difícil achar um lugar para segurar.
Mas um ano que foi marcante pra mim, pelo menos se tratando de transporte público, foi o ano de 2004.
O ano estava começando e eu comecei a pegar uma outra linha de ônibus por passar em um horário que eu considerava ser melhor. Naquela época eu me vestia estranhamente mal.
Em um dia, estava eu com o uniforme da escola (tamanho gigante pois eu ainda não conhecia as baby-looks), uma jaqueta de frio, uma calça pescador com bolsos nas laterais e tênis, fora o cabelo preso e os óculos (antes que pensem mal de mim, eu adquiri uma boa dose de bom senso). Foi justamente este estilo maravilhoso que fez com que três garotas da escola puxassem papo comigo.
As três estavam na mesma série que eu, mas cada uma em uma classe e, mesmo com a minha timidez, acabamos nos dando muito bem.
Entramos todas para a fanfarra da escola naquele ano, mas só eu continuei até o dia sete de setembro.
Cantávamos músicas e fazíamos paródias durante todo o trajeto do ônibus e não atrapalhávamos ninguém e não tínhamos medo do que pensariam ao nosso respeito. Eu fazia uma espécie de beat-box (não, não sou boa nisto), uma fazia arranjos de voz (bem cômicos por sinal) e as outras duas cantavam as letras na íntegra. Nosso repertório, muito variado, ia desde música da Xuxa até canções que ensinam nas escolas de inglês para gravar o nome das cores.
Aprendi muitas coisas com elas: "Quando alguém se levantar de uma poltrona do ônibus, aguarde um pouco para se sentar, para evitar as hemorróidas", "Comer a polenta da escola pode descolar uma lasca do seu dente que foi feito no dentista" e "Imagine como seria se tivéssemos olhos nas pontas dos dedos?".
Uma vez a escola marcou uma ida para o teatro da cidade e sairíamos depois do intervalo. Durante o intervalo a Ju (uma das minhas amigas de ônibus) me chamou para irmos até a sua sala de aula para buscar o seu ingresso. No caminho para a sala de aula, um aluno da escola passou com uma vassoura na nossa frente e eu fui literalmente varrida. Ela gritou com o menino e disse: "Ei! Cuidado com esta vassoura! Você varreu o pé dela e agora ela nunca mais vai poder se casar!". O garoto ficou meio sem reação na hora, mas depois que buscamos o ingresso, ele nos procurou e começou a pedir desculpas, dizendo que não queria que eu não me casasse por culpa dele e que ele estava muito arrependido. Nós rimos da situação, porque este é apenas um senso comum, uma superstição. Se eu não me casar a culpa é dele.
Hoje tenho pouco contato com elas. Mudei de bairro, cada uma seguiu seu rumo. Cheguei a reencontrar duas delas depois que saí da escola, mas a Ju nenhuma de nós tem visto.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sociedade invisível

"O músico é muito discriminado. Primeiro você é vagabundo, depois você vira artista. Até sua vizinha te trata melhor depois que você vai na TV e canta no rádio" - (1996, Dinho)
Esta frase foi dita pelo Dinho, ex-vocalista do finado grupo Mamonas Assassinas e eu achei muito interessante, porque ela não funciona apenas na carreira artística, mas em todos os aspectos de nossa vida.
Eu ando de transporte público todo dia útil (às vezes até nos inúteis) e tenho percebido que em quase todas as vezes eu subo, desço e não encontro ninguém que eu conheça e, a não ser que eu empurre ou pise no pé de alguém, ninguém olha pra mim e eu não olho pra ninguém. Como se fôssemos todos invisíveis.
Comecei a reparar este fato, não por ter assistido a um documentário dos Mamonas, mas sim quando um dia entrei num ônibus pra ir trabalhar, com meus fones de ouvido e sentei no último banco (milagrosamente o ônibus não estava muito cheio no dia). Uma menina, que aparentava ter de 12 a 14 anos olhou pra mim e me perguntou se eu estudava na Unicamp (Ela não era vidente, eu estava com uma blusa da faculdade). Eu respondi que já tinha estudado lá, mas tinha me formado. Ela fez cara de satisfeita e virou para o outro lado. Eu coloquei de volta os meus fones e voltei a ver a rua.
Um segundo que eu viro para a esquerda, percebo que a menina continuava me olhando e sorria. Resolvi tirar o fone da direita e diminuir o volume e respondi a um monte de perguntas aleatórias que ela me fazia. Disse que se chamava Juliana e que estudava, o irmão dela trabalhava etc.
Desci quando cheguei do trabalho com uma sensação interessante. Nunca gostei de conversar dentro do ônibus. Às vezes até com conhecidos eu acabo não conversando muito, mas ela queria conversar e ela se sentiu bem por eu ter dado ouvidos a ela.
Certa vez, uma velhinha começou a falar comigo no ônibus. Fiquei sabendo da vida dela inteira. Mais alguns pontos e eu saberia até a senha da conta do banco.
Continuo quieta no ônibus. Garanto que vocês nunca vão me ver puxando um assunto ao encontrar alguém, mas aprendi a ouvir aqueles que tem necessidade de falar.
Uma vez fui a São Paulo com uma amiga e, quando comecei a escutar uma pessoa dentro do ônibus, ela me tirou com jeitinho da conversa e disse que a pessoa estava com intenção de me roubar. Não sei até onde isto poderia ter sido verdade ou não, mas enfim.
O fato é, somos todos invisíveis. Até o ponto em que aparece um elo de ligação, que pode ser uma pessoa, um lugar, um acontecimento e permite que vejamos outras pessoas. Já pararam pra pensar no universo paralelo em que estamos inseridos? Já observaram como cada um de nós temos a nossa própria vida e rotina e quantas pessoas neste mundo que não chegamos a conhecer e que nunca conheceremos?
E, de repente, alguém aparece na mídia e conquista um público e passa a ser "conhecido" sem que realmente o conheçamos e, com o avanço da tecnologia que nos permite estar em todos os lugares ao mesmo tempo, pensamos até que podemos ter contato com estas "celebridades".
É uma coisa na qual eu tenho tentado me policiar. Será que estou deixando de ver as pessoas que estão ao meu redor, buscando alcançar apenas o objetivo de ver aquelas que "todo mundo conhece"?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Hopi Hari

Fui ao Hopi Hari apenas três vezes e, embora tenha gostado do parque, eles não estão me pagando para fazer nenhum tipo de propaganda e esta postagem não tem nenhum efeito comercial.
A primeira vez que fui ao parque foi no ano de 2001, em uma excursão da escola que eu estudava. De todas as vezes que eu fui, esta foi a mais chata, porque fiquei sozinha na maior parte do tempo (não, eu não sofria bullying, para tudo existe uma explicação).
Eu estava com um grupo de meninas da minha sala, brincando em vários brinquedos e me divertindo muito. Passada a hora do almoço, decidimos ficar na Giranda Mundi (Roda Gigante do Hopi Hari) para descansar.
Quando estávamos no ponto mais alto do brinquedo, vimos uma limousine se aproximando do parque com vários carros do SBT em volta. Eu nunca fui de me esquentar com estas coisas (na verdade devo ser algum tipo de exceção perdida no Universo Feminino), mas as meninas que estavam comigo (que vou manter os nomes em sigilo pela integridade das mesmas) começaram a gritar para o operador do brinquedo para que elas pudessem descer pra ver do que se tratava toda aquela comissão. Após muito insistir, o operador do brinquedo escutou e atendeu ao pedido. Descemos e fomos até a portaria do parque.
Vimos todos os carros parando na frente do parque e desceram da limousine uma anônima acompanhada dos gêmeos Flávio e Gustavo (hoje também anônimos). O chamado "Dia de princesa" que tinha na época. Ela deveria passar um dia como princesa com os plebeus Flávio e Gustavo e eles a levaram para enfrentar o seu medo de altura no elevador (excelente).
Quase todo mundo que estava no parque começou a seguir os gêmeos pelo parque, alguns porque achavam eles bonitos, outros porque queriam ver a tortura e outros que queriam aparecer na TV.
Após algum tempo correndo atrás das minhas amigas no meio daquela multidão, decidi me divertir sozinha nos brinquedos e, por causa do alvoroço com os gêmeos, quase não tive que enfrentar filas.
No ano seguinte eu não tinha como ir para o Hopi Hari com a escola por causa de motivos financeiros. Mas a escola resolveu fazer um concurso de desenho "O que a escola significa pra você" e eu ganhei em segundo lugar (meu quadro deve estar na biblioteca da escola até hoje). Como prêmio, ganhei o direito de ir para a excursão de graça e acho que foi a vez que mais aproveitei.
Fui com vários amigos e nos divertimos muito. O dia foi escurecendo e eu perdi a conta de quantos brinquedos nós fomos. Já estava praticamente de noite, estávamos descansando no Wild West, quando começamos a ouvir uma marcha vindo atrás de nós. Olhamos para trás e lá estavam todos os "monstros" da Hora do horror. No mesmo minuto, uma amiga (que não vou citar o nome a não ser que ela me permita) segurou nas nossas mãos e nos levou correndo e gritando: "Corre todo mundo!!!"
Depois disto, me lembro que nos dividimos e acabamos nos perdendo uns dos outros. Enquanto não nos encontrávamos, aproveitamos alguns brinquedos e interagimos com alguns monstros. Minha amiga quebrou os óculos e, quando estávamos tentando consertar, nos encontramos com o resto da turma, mas aí já era a hora de irmos embora.
Na última vez que eu fui, levei minha irmã junto. Também era época da Hora do horror e teve muita correria. Inclusive, ao entrarmos no Katakumb, minha irmã acabou abraçando a múmia pensando que era um de nós.

Andando sobre trilhos

Em 1998 foi a primeira e única vez que andei de trêm na minha vida (não estou considerando metrô como trêm nesta postagem). Eu, minha prima e minha tia fomos de trêm de Limeira até Bauru.
Aos oito anos de idade, tudo o que fazemos fora da rotina é divertido e esta viagem marcou em vários aspectos. As paisagens que vimos durante o caminho, aquela sensação engraçada de estar passando no meio do nada, a incrível experiência de atravessar um rio através dos trilhos e, é claro, ter dividido estes momentos com minha prima.
No meio da viagem, depois de combinarmos salgadinhos da Elma Chips com o biscoito Negresco, surgiu a necessidade de encontrar um banheiro naquele transporte diferente.
Quando finalmente encontramos, entramos juntas e trancamos a porta (ainda não sei como). Quando terminamos de usar, tentamos destrancar a porta, mas não conseguíamos. Não era exatamente uma chave na fechadura, era uma espécie de trava esquisita que não conseguíamos destravar.
Com o desespero de estarmos trancadas dentro do banheiro com o trêm em movimento, começamos a gritar pela minha tia, que veio correndo junto com um tipo de "comissário de bordo". Falamos que não conseguíamos abrir a porta e eles tentavam nos dar instruções de como fazê-lo.
Minha prima, vendo a janela do banheiro aberta gritou: "Não precisa mais não, mãe! A gente sai pela janela que está aberta!". E ai que minha tia ficou mais desesperada. Imagine como seria, se duas crianças de oito anos saíssem pela janela de um trêm em movimento.
Tentaram bater na porta e gritaram para que não fizéssemos nada. Por um milagre (porque até agora não consigo entender o que fizemos), a porta destravou e nós finalmente pudemos ir para os nossos lugares e desfrutar do resto da viagem.
Para voltar para casa, meu tio nos buscou. No meio do caminho começou uma chuva muito forte e começamos a ficar assustados pois não era possível enxergar a pista.
Comecei a chorar de desespero e minha prima também chorou quando me viu chorando. Meus tios, preocupados comigo, pararam no posto mais próximo, onde eu liguei para minha mãe pra avisar o que estava acontecendo e que iríamos demorar pra chegar. Passada a chuva, retornamos à viagem.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu e a dança

Com toda a sinceridade, eu gostaria de poder separar a minha história com a dança em várias postagens como eu fiz com a música, mas eu realmente não nasci para isto. Esta postagem é apenas a prova de que eu tentei.
Eu fazia parte do grupo de crianças da igreja e, justamente em uma data comemorativa eu fiquei doente. No dia do ensaio a mãe de um menino da igreja foi até a minha casa perguntar se eu tinha uma camiseta do "Clube dos ursinhos" (que era o nome do grupo infantil da igreja) sobrando. Minha mãe disse que eu estava doente e não apresentaria e emprestou a minha camiseta.
Chegada a hora da apresentação, ele apresentou todas as músicas com meu uniforme. Mas na última música pediram todas as crianças subissem para cantar. E eu subi também, mesmo ainda com febre e dancei.
No outro dia este menino estava desolado (vou manter a identidade dele em segredo): "Mãe! Eu dancei com a camisa dela e ela dançou sem a camisa!"
Na adolescência também cheguei a fazer parte de grupos de dança. Participei de três. Nenhum existe mais.
No primeiro eu era muito nova e, mesmo que eu conseguisse fazer os passos, me desanimava. Ensaiávamos um monte de músicas legais e dançávamos sempre a mesma chata e lenta. Até que a líder do grupo teve que sair e ficamos órfãos. Pouco tempo depois não tinha mais grupo de dança.
Depois, quando eu já estava no grupo Passo-a-passo, tivemos a idéia de transformá-lo em um grupo de canto e dança. Em um sábado cantávamos e no outro dançávamos. O que foi uma ótima idéia, porque ensaiávamos um hino e dançávamos no mesmo dia. Não saiam passos cabulosos ou no mínimo próximos do profissional, mas não enjoávamos dos hinos que dançávamos. Mas, com o tempo, sobrou apenas o Passo-a-passo para canto, porque eu que tinha que ensaiar o povo e eu não tenho talento para dançar.
Depois participei de mais outro grupo, mas mesmo com minha boa vontade eu mais zoava todo mundo do que fazia os passos. Eu conseguia fazer as coreografias e lembro de uma boa parte delas até hoje, mas confesso não ter chamado para isto. Quando Deus chama, Ele capacita e eu nunca me senti capacitada para o ministério de dança.
Hoje, o máximo que eu danço é jogando Dance Central no X-box com a ajuda de um Kinect.

Micos musicais

Quem me vê hoje aparentemente confiante em um instrumento musical não imagina os micos que já paguei com eles. Que são desde pequenos deslizes que ninguém nota, mas todo mundo perdoa, até situações cabulosas que até hoje eu não me conformo.
Fora o mico de tocar bateria sem saber que eu comentei há algumas postagens atrás, tem algumas outras vezes que eu agi por impulso.
Em 1999, tivemos a oportunidade de participar de um concurso de talentos na escola. Eu assistia aos shows de calouros da televisão e morria de vontade de participar de coisa semelhante (a vontade passou, tá!).
Sem saber o que eu poderia fazer, pensei: "vou cantar uma música!", mas todo mundo que estava se inscrevendo iria tocar algum instrumento e eu não teria chance (antes tivesse cantado). Disse à professora que tocaria a música do Titanic (que ainda estava nas paradas de sucesso e eu nem sabia o nome da música) no VIOLÃO (que burrice foi esta? se você leu a postagem A música e eu - parte III, sabe que eu só aprendi tocar alguma coisa no violão a partir de 2006).
Me inscrevi e fiquei treinando a música em casa. Solando a música saía e eu decidi que estava pronta.
Fui para a escola com o meu violão e um amigo começou a tocar. Eu achei o máximo e todo o meu ensaio foi por água a baixo quando eu decidi tentar tocar a música dando batidas nas cordas e fazendo acordes inventados em vez de fazer o solinho.
Na hora da apresentação a professora perguntou se eu queria que ela colocasse o microfone na minha boca ou no violão (me arrependo de não ter falado para colocar na boca, assim eu cantava e pronto). Mas eu tinha que pagar este mico para contar para vocês.
Depois de tocar um monte de coisa desordenada que ninguém entendeu, a professora perguntou: "Já acabou?" e eu desci sem chance nenhuma de ganhar. Se eu fosse a única inscrita, me desclassificariam.
Uma outra vez, eu já tocava teclado na igreja. Estava muito resfriada, mas mesmo assim estava lá firme e forte, mas não podia ficar um só minuto sem o meu lenço.
Na época o pedestal do meu microfone tinha uma gambiarra para se manter levantado e uma pequena pancada poderia desmontá-lo.
Toquei o culto inteiro e na hora da mensagem desci e sentei na fileira da frente. O obreiro, tendo pregado, chamou o conjunto e a igreja toda ficou em oração.
Quando já tinha ligado o meu teclado, percebi que o meu lenço tinha ficado no banco e eu não conseguiria ficar muito mais tempo sem ele. Descer ou não descer?
Decidi descer. Mas ao sair de trás do teclado, tropecei no cabo do meu microfone, desmontando o pedestal, que derrubou o microfone sobre o botão de play dos ritmos do teclado, que começou a tocar heavy metal pra toda a igreja ouvir. Nesta hora o guitarrista e um vocalista tentavam descobrir onde desligava o meu teclado e eu subi correndo para ajudar a desligar.
Uma outra situação micosa que me aconteceu é que eu tocava bateria para o coral de crianças da igreja e um dia tive que faltar ao ensaio porque estava doente. Quando chegou na hora do culto eu fiquei morrendo de ciúmes da bateria e falei com a moça que nos ensaiava. Ela disse que eu poderia tocar. O duro é que um outro menino já tinha ensaiado no meu lugar e lá vou eu tomando o lugar dele.
Outra vez, eu estava sentada e o obreiro deu sinal para subir e tocar bateria. Eu subi correndo e super feliz com a oportunidade, mas ao chegar na bateria vi que o baterista da igreja estava sentado atrás de mim.
Citei apenas situações mais extremas, mas já aconteceu muito de eu fazer a introdução de uma música e começar a cantar outra, errar mais de três vezes seguidas a introdução de uma música para depois desistir de tocá-la, cantar letras erradas mesmo sabendo as certas (na música "Som da chuva" da Soraya Moraes eu cheguei a cantar "deixa o céu cair sobre nós" em vez de "deixa o céu descer sobre nós"). Imaginem o desastre!

Mulher de negócios

Nem sempre o que fazemos quando pequenos reflete na nossa vida adulta. Graças a Deus!
Fui uma criança com muita energia, que fazia algumas travessuras e me considero um ser humano normal.
Já cheguei a jogar comida atrás da geladeira para fingir que tinha comido tudo, brinquei de bola dentro da cozinha da minha tia e estourei a lâmpada fluorescente, vendava os olhos da minha irmã para que ela adivinhasse qual comida era aquela (mesmo que fosse pó de café), fazia minha irmã voar (conforme eu disse na postagem O ano de 1998 - parte II), entre tantas outras inocentes atitudes de uma criança.
As brincadeiras mais saudáveis devem ter alguma ligação com nossa vida profissional. Minha prima amava brincar de escritório e fez Administração, meus primos brincavam de carrinho de rolimã e hoje são engenheiros mecânicos, eu brinquei de Atari e virei programadora (sim, eu brinquei de Atari).
Mas uma coisa que eu realmente não consigo entender é como a área de vendas me fascinava quando criança e hoje eu fujo até das compras, quanto mais das vendas.
Tudo começou em 1998 (não, desta vez não é nenhuma tragédia). Era época de Copa do Mundo. O Brasil perdeu pra França na final. E o mascote da Copa do mundo era o Footix, que eu aprendi a desenhar naquele ano.
Minha prima teve a brilhante idéia de vendermos desenhos para os alunos e o duro é que o povo comprava mesmo. Vendíamos Footix pequenos por R$0,10 e Footix grandes por R$0,20. Eu desenhava e ela pintava, os alunos compravam e nós tínhamos dinheiro para gastar na cantina da escola.
Com o fim da Copa do Mundo, os alunos não queriam mais saber de Footix, então fizemos parceria com outro amigo (Vinicius), que também desenhava.
No ano seguinte, eu não sabia o que fazer com um grande calendário da Copa de 1998 que eu tinha em casa. Ele vinha com vários adesivos de bandeiras, que colávamos para acompanhar os jogos. Mas, como muitos países não passavam nem para as oitavas de final, eu tinha muitas bandeirinhas de vários países sobrando e resolvi vender por um centavo cada e vendi todas.
Não devo mais ter este dom para negociações. Ainda bem. Creio que na vida real isto dá muita dor de cabeça e eu prefiro ficar como estou.

Fazendo de conta

Sempre tive uma imaginação muito fértil e vivo criando coisas até hoje. Não sei se isto é bom, se olharmos pela ótica da psicologia e afins, mas nunca tive problemas com isto.
Dos cinco aos sete anos, eu acho, resolvi criar meus próprios amigos para conversar. Fazia uma careta, penteava o cabelo de forma diferente e conversava comigo mesma no espelho.
Aos seis anos, criei vários personagens que eu fazia com a própria mão, cada um com seu nome, família, característica, profissão etc. Com o passar dos anos, decidi criar um país imaginário "Bikuthuzye" (acho que era assim que eu escrevia). Cheguei a criar o hino nacional do país, o mapa político e os Estados. Sim, eu cresci saudável depois de tudo isto.
Na adolescência o caso foi ficando mais grave. Eu criei uma turma de histórias em quadrinhos. Começou como a turma do Boló (um ursinho branco) e depois virou a turma da Dinny (menina com sardas, tranças e um laço gigantesco na cabeça).
A turma da Dinny estava presente em quase todos os meus desenhos nas aulas de Educação Artística e eu escrevia roteiros de histórias e as desenhava, fazendo mini gibis. Depois passava os mini gibis de mão em mão na sala de aula, onde os alunos liam e me davam sugestões.
Escrevi também um "livrinho" (que emprestei pra alguém ler e não vi nunca mais). O nome do livro era "Salve o presidente" que contava a história de um presidente que foi sequestrado, contada de uma forma cômica. Despois escrevi o "livro" "Uma torre, um dragão e uma princesa sem noção", onde uma princesa fica aprisionada numa torre e sua mãe faz de tudo para arrumar um príncipe que seja capaz de salvá-la do dragão. Na sequência, foi a vez de uma quase série de "livros" com assuntos cômico-cotidianos, sendo eles "Uma mudança normal", "Uma família normal" e até hoje não terminei o terceiro, "Férias normais". Estes contavam a história de uma família que se mudou para  Rio de Janeiro por causa de uma propósta de trabalho de seu pai.
Fora os livros, gostava de escrever poesias e paródias (certo, paródias eu ainda gosto) e amo escrever músicas. Um dia cheguei a apresentar uma música minha para minha turma da 5ª série, cantando e batendo na carteira com uma régua (fiz com a autorização da professora, não é minha culpa se você fizer o mesmo e parar na diretoria).
Até hoje me lembro, numa aula de português da 5ª série, a professora pediu que escrevêssemos uma redação. Minha história falava de um amor proibido. Eu tive a idéia de colocar rimas em todos os parágrafos, para dar uma certa musicalidade ao texto. No último parágrafo eu queria compará-los com Romeu e Julieta e não me veio nenhuma palavra agradável que rimasse com Julieta. Então escrevi: "Era um casal de gaveta, igual a Romeu e Julieta". Minha professora não entendeu a expressão e me perguntou a respeito. Eu disse que as gavetas se encaixam perfeitamente no local para onde ela foi feita e serve para guardar as coisas ou os sentimentos. Fui tão convincente que ela aceitou a idéia. Viva a liberdade de criação!
Hoje, além das músicas, gosto de criar montagens no photoshop. Fiz uma conta no Twitter e no Facebook. Criei um blog. Céus! Cheguei ao ponto de contar um monte de histórias da minha vida na Internet! Ok. Pra mim está bom. As pessoas criam tantos blogs pra falar da vida dos outros. Estou no lucro.