sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Caminhando às cegas

Quando somos crianças até as coisas mais improváveis nos atraem. Brincava que usava aparelho com clipes e achava o máximo as pessoas terem que usar óculos. Tudo isso é legal até acontecer com você.
Comecei a sentir algumas dificuldades para enxergar as coisas que estavam próximas de mim desde pequena. Em janeiro de 1998 fui para o oftalmologista pela primeira vez (estou meio na dúvida, mas acho que foi no dia 20). Fora aquele colírio que parece que arranca seus olhos fora, a experiência foi muito divertida e passei a usar óculos desde então.
Periodicamente, eu ia verificar se o meu grau havia aumentado ou diminuido e, em uma dessas vezes, minha mãe foi consultar também.
Após o colírio, nenhuma de nós duas enxergava nada. Saímos para as ruas do centro da cidade enxergando apenas borrões. Entramos numa loja para comprar algumas coisas e as pessoas ficavam ofendidas quando a gente perguntava o preço que estava escrito nos produtos, como se estivéssemos curtindo com a cara deles, mas na verdade mal nos reconhecíamos. Não conseguíamos saber nem qual ônibus estava vindo e perguntávamos para as pessoas, que achavam que éramos idiotas.
Já cheguei várias vezes a descobrir que estava usando óculos apenas quando entrava embaixo do chuveiro ou quando sentia um incômodo ao dormir.
Aos 16 anos de idade o oftalmologista disse que eu não precisava mais de óculos, mas hoje sinto que estou precisando usar novamente...
Com o aparelho foi ainda pior. Comecei a usar aos quinze anos de idade. A dentista me deu a opção de usar fixo ou móvel e eu, não sei onde estava com a cabeça, escolhi o fixo (talvez por causa das borrachinhas coloridas, mas isso não é tão legal depois de um tempo).
Um dia antes de uma de minhas manutenções mensais, perguntei a uma amiga que cor que eu poderia escolher para a borrachinha daquele mês. Ela me disse "verde claro". Fui para a dentista e ela me perguntou se eu já tinha uma cor em mente e eu disse "verde claro". Quando ela já estava colocando as borrachinhas nos meus dentes ela me disse que as borrachinhas daquele mês seriam diferentes. Quando terminou e eu olhei para o espelho, parecia que eu tinha estourado chiclete de hortelã no aparelho inteiro e meus dentes estavam completamente verdes, pois a borracha era muito maior e trançava os "brackets".
Cheguei no dia seguinte na escola evitando ao máximo abrir a boca. Quando vi minha amiga disse que ela me pagaria por aquilo. Nunca fui vingativa e nunca a cobrei por isso. Nos outros meses passei a perguntar que espécie de borrachinha ela iria colocar e escolhia as cores mais discretas possíveis.
Até que, com o tempo, meus dentes já estavam corretos, mas a dentista disse que só tiraria o meu aparelho se eu arrancasse os dentes do siso. Tentei arrancar na FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba) e até hoje não marcaram minha extração. Com a demora, eu estava pagando meses de manutenção à toa e fui conversar com a dentista inconformada. Disse que era melhor que ela tirasse o meu aparelho pois eu estava pagando pela espera da extração. Então ela me disse que, até que eu pudesse extrair os dentes, ela não cobraria na manutenção e eu poderia juntar dinheiro para uma extração particular.

Nenhum comentário:

Postar um comentário