segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Amizades de ônibus

Enquanto existem muitos pré-adolescentes de onze anos de idade querendo ser independente e alguns até gerando outros novos seres humanos, nesta idade eu comecei a andar de ônibus sem os meus pais. Mesmo assim, até que eu conhecesse outros alunos que pudessem pegar o mesmo ônibus que eu, minha mãe ficava comigo no ponto de ônibus.
O tempo foi passando e eu comecei a me aventurar, tentando pegar outras linhas de ônibus, em outros pontos mais distantes da escola e me senti grande. Poderia citar várias pequenas situações engraçadas que me aconteceram durante esta época. Uma delas foi cair sentada no "corredor" do ônibus lotado e ter dificuldades para levantar novamente, já que era difícil achar um lugar para segurar.
Mas um ano que foi marcante pra mim, pelo menos se tratando de transporte público, foi o ano de 2004.
O ano estava começando e eu comecei a pegar uma outra linha de ônibus por passar em um horário que eu considerava ser melhor. Naquela época eu me vestia estranhamente mal.
Em um dia, estava eu com o uniforme da escola (tamanho gigante pois eu ainda não conhecia as baby-looks), uma jaqueta de frio, uma calça pescador com bolsos nas laterais e tênis, fora o cabelo preso e os óculos (antes que pensem mal de mim, eu adquiri uma boa dose de bom senso). Foi justamente este estilo maravilhoso que fez com que três garotas da escola puxassem papo comigo.
As três estavam na mesma série que eu, mas cada uma em uma classe e, mesmo com a minha timidez, acabamos nos dando muito bem.
Entramos todas para a fanfarra da escola naquele ano, mas só eu continuei até o dia sete de setembro.
Cantávamos músicas e fazíamos paródias durante todo o trajeto do ônibus e não atrapalhávamos ninguém e não tínhamos medo do que pensariam ao nosso respeito. Eu fazia uma espécie de beat-box (não, não sou boa nisto), uma fazia arranjos de voz (bem cômicos por sinal) e as outras duas cantavam as letras na íntegra. Nosso repertório, muito variado, ia desde música da Xuxa até canções que ensinam nas escolas de inglês para gravar o nome das cores.
Aprendi muitas coisas com elas: "Quando alguém se levantar de uma poltrona do ônibus, aguarde um pouco para se sentar, para evitar as hemorróidas", "Comer a polenta da escola pode descolar uma lasca do seu dente que foi feito no dentista" e "Imagine como seria se tivéssemos olhos nas pontas dos dedos?".
Uma vez a escola marcou uma ida para o teatro da cidade e sairíamos depois do intervalo. Durante o intervalo a Ju (uma das minhas amigas de ônibus) me chamou para irmos até a sua sala de aula para buscar o seu ingresso. No caminho para a sala de aula, um aluno da escola passou com uma vassoura na nossa frente e eu fui literalmente varrida. Ela gritou com o menino e disse: "Ei! Cuidado com esta vassoura! Você varreu o pé dela e agora ela nunca mais vai poder se casar!". O garoto ficou meio sem reação na hora, mas depois que buscamos o ingresso, ele nos procurou e começou a pedir desculpas, dizendo que não queria que eu não me casasse por culpa dele e que ele estava muito arrependido. Nós rimos da situação, porque este é apenas um senso comum, uma superstição. Se eu não me casar a culpa é dele.
Hoje tenho pouco contato com elas. Mudei de bairro, cada uma seguiu seu rumo. Cheguei a reencontrar duas delas depois que saí da escola, mas a Ju nenhuma de nós tem visto.

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