sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sociedade invisível

"O músico é muito discriminado. Primeiro você é vagabundo, depois você vira artista. Até sua vizinha te trata melhor depois que você vai na TV e canta no rádio" - (1996, Dinho)
Esta frase foi dita pelo Dinho, ex-vocalista do finado grupo Mamonas Assassinas e eu achei muito interessante, porque ela não funciona apenas na carreira artística, mas em todos os aspectos de nossa vida.
Eu ando de transporte público todo dia útil (às vezes até nos inúteis) e tenho percebido que em quase todas as vezes eu subo, desço e não encontro ninguém que eu conheça e, a não ser que eu empurre ou pise no pé de alguém, ninguém olha pra mim e eu não olho pra ninguém. Como se fôssemos todos invisíveis.
Comecei a reparar este fato, não por ter assistido a um documentário dos Mamonas, mas sim quando um dia entrei num ônibus pra ir trabalhar, com meus fones de ouvido e sentei no último banco (milagrosamente o ônibus não estava muito cheio no dia). Uma menina, que aparentava ter de 12 a 14 anos olhou pra mim e me perguntou se eu estudava na Unicamp (Ela não era vidente, eu estava com uma blusa da faculdade). Eu respondi que já tinha estudado lá, mas tinha me formado. Ela fez cara de satisfeita e virou para o outro lado. Eu coloquei de volta os meus fones e voltei a ver a rua.
Um segundo que eu viro para a esquerda, percebo que a menina continuava me olhando e sorria. Resolvi tirar o fone da direita e diminuir o volume e respondi a um monte de perguntas aleatórias que ela me fazia. Disse que se chamava Juliana e que estudava, o irmão dela trabalhava etc.
Desci quando cheguei do trabalho com uma sensação interessante. Nunca gostei de conversar dentro do ônibus. Às vezes até com conhecidos eu acabo não conversando muito, mas ela queria conversar e ela se sentiu bem por eu ter dado ouvidos a ela.
Certa vez, uma velhinha começou a falar comigo no ônibus. Fiquei sabendo da vida dela inteira. Mais alguns pontos e eu saberia até a senha da conta do banco.
Continuo quieta no ônibus. Garanto que vocês nunca vão me ver puxando um assunto ao encontrar alguém, mas aprendi a ouvir aqueles que tem necessidade de falar.
Uma vez fui a São Paulo com uma amiga e, quando comecei a escutar uma pessoa dentro do ônibus, ela me tirou com jeitinho da conversa e disse que a pessoa estava com intenção de me roubar. Não sei até onde isto poderia ter sido verdade ou não, mas enfim.
O fato é, somos todos invisíveis. Até o ponto em que aparece um elo de ligação, que pode ser uma pessoa, um lugar, um acontecimento e permite que vejamos outras pessoas. Já pararam pra pensar no universo paralelo em que estamos inseridos? Já observaram como cada um de nós temos a nossa própria vida e rotina e quantas pessoas neste mundo que não chegamos a conhecer e que nunca conheceremos?
E, de repente, alguém aparece na mídia e conquista um público e passa a ser "conhecido" sem que realmente o conheçamos e, com o avanço da tecnologia que nos permite estar em todos os lugares ao mesmo tempo, pensamos até que podemos ter contato com estas "celebridades".
É uma coisa na qual eu tenho tentado me policiar. Será que estou deixando de ver as pessoas que estão ao meu redor, buscando alcançar apenas o objetivo de ver aquelas que "todo mundo conhece"?

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