quarta-feira, 18 de julho de 2012

Super Jéssica

Nunca fui muito fã da água e, até hoje, bebo porque preciso e não porque gosto. É difícil convencer minha mãe de que hoje eu bebo água depois do que me aconteceu em 1995.
Eu tinha apenas cinco anos, era bem magrinha e fiquei desidratada. Fui internada no mesmo quarto de um menino chamado Daniel que tinha caído de um caminhão e batido a cabeça.
O caso dos dois parecia ruim. Eu vomitava muito (às vezes até sangue) e mal conseguia ir ao banheiro sozinha, então acharam melhor que eu usasse fraldas. Tomava soro e ficava sempre quieta demais, passando mal. Já o Daniel tinha perdas de memória e alterações de humor. Hora ele se lembrava e queria sua mãe e hora ele gritava com ela para que ela não relasse nele.
Minha mãe revezava com minha prima Jane para cuidar de mim e a Jane confessou que orava pra que, se eu morresse, que fosse quando minha mãe estivesse por lá ou ela se sentiria muito culpada.
Um dia minha mãe chegou e não me encontrou no quarto. Viu apenas a cama vazia e o Daniel na cama do lado. O mundo desabou pra ela naquele momento, pois ela tinha certeza de que eu tinha morrido.
As enfermeiras a reconheceram e a levaram para o quarto onde tinham me transferido para que pudessem tratar o Daniel sem mais problemas e para que os gritos dele não fizessem mal pra mim.
Enquanto eu estava internada, falava com minha mãe o que eu estava sentindo e minha mãe me animava, dizendo que tudo daria certo. Minha mãe tirou a meia de um dos meus pés e disse que, daquela forma, eu era a "Super Jéssica" e enquanto eu estivesse com minha "roupa de super-heroína" eu estaria bem. Foram palavras suficientes pra que eu usasse apenas uma meia durante todo o meu tempo de internação.
Dias depois eu estava pronta pra voltar pra minha casa. Me lembro de termos passado na casa dos meus tios depois de sair do hospital e depois passamos na casa no Daniel pra ver como ele estava. Ele já não se lembrava de nós, mas estava bem.
Até hoje, às vezes, quando acordo com apenas uma meia no pé, brinco com minha mãe que devo ter virado "Super Jéssica" durante a noite.

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