quarta-feira, 18 de julho de 2012

Reaprendendo a andar

Sempre fui uma criança hiperativa que tinha que extravasar minha energia de aluma forma. Quando eu comecei a andar no andador eu não andava como todas as outras crianças da minha idade. Eu pegava bastante impulso e deixava o carrinho sair deslizando até parar.
Depois de um tempo de aprendizado, foi possível caminhar com os meus próprios pés.
Acontece que eu nasci com uma mancha negra no meu pé esquerdo, próximo ao calcanhar. Meus pais nunca acharam que podia ser algo ruim até que começaram a ouvir falar sobre câncer de pele e manchas que faziam mal à saúde.
Quando eu tinha nove anos meus pais me levaram a um dermatologista que os aconselhou que o melhor seria operar e tirar aquela pinta. Após várias consultas e triagem marcamos o dia da cirurgia. Para os meus pais nos passaram a data 10/01/2000 e na agenda do cirurgião marcaram 11/01/2000.
Chegamos ao hospital na madrugada do dia 10 e esperamos quase o dia todo. Estranhamos a demora e meus pais falaram com os enfermeiros. Ligaram para o médico que decidiu fazer a cirurgia naquele dia mesmo. Enquanto o médico está a caminho, vou comentar outro fato interessante...
Passar aquele dia no hospital foi muito bom pra que eu pudesse valorizar minha saúde. No mesmo quarto que eu estava um menino de quatro anos de idade que veio do Paraná com os pais para passar as férias na casa dos tios na minha cidade e acabou ficando com água nos pulmões. Mesmo com os drenos para tirar a água dos pulmões e as dores que evidentemente sentia, o menino estava sempre sorridente, inocente. Ele pedia pra sua mãe que comprasse "leite começado" que vendia "lá na rua certa", mas sua mãe dizia que ele não poderia comer o tal "leite começado". Espero de coração que ele tenha sido curado.
O médico chegou, fui operada com cirurgia local e tive que passar a noite no hospital em observação.
Ao sair, minha luta era outra. Ficar parada em um lugar só com apenas dez anos de idade.
Pouco mais de uma semana depois minha mãe estavam lavando o quintal e eu queria vê-la. Me levantei e fui andando até o quintal com um pé só, apoiando na parede. Mesmo assim acabei relando o pé no chão e abri uns três pontos. Meu tio, que morava ao lado, me levou até o consultório do cirurgião, que me ensinou a fazer um ponto falso. Toda esta correria aumentou o meu medo de encostar o pé no chão.
Fiquei mais algumas semanas sem andar, até que os pontos já tinham sido tirados.
Meus pais me incentivavam a tentar andar, mas o medo que os pontos se abrissem novamente era maior que a vontade de andar. Minha mãe enrolava meu pé em várias faixas de curativo e colocava o tênis pra que eu começasse a ter coragem de relar o pé no chão.
Aos poucos fui dando os meus "primeiros passos", primeiramente fazendo apenas pequenos trajetos em linha reta até adquirir um pouco mais de confiança. A época de férias estava acabando e eu tinha que começar a andar para ir para a escola.
Em fevereiro de 2000 começaram minhas aulas. Minha mãe me levou, mesmo eu ainda não conseguindo andar normalmente. Eu mancava muito ainda e às vezes perdia o equilíbrio.
Minha prima, que ia na mesma escola que eu, me ajudava a andar deixando que eu me apoiasse nos ombros dela ao andar. E, mesmo assim, para que eu alcançasse a turma, minha mãe me levou no colo até a sala de aula. Tiveram muita paciência comigo até que eu me recuperasse por completo.
Algumas semanas depois eu estava andando normalmente, depois de meses eu já estava até correndo e jogando basquete e futsal.
Ao ver minha recuperação, minha prima me disse: "sinto um vazio no meu ombro. já tinha me acostumado a andar apoiando você".

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